FAÇA-SE LUZ
Arouca fechou-se em casa.
Ouve-se o silêncio a deslizar pelas ruas
Que ontem se cobriam de transeuntes
E hoje se apinham de solidão.
Das almas escorre o medo, a incerteza
De um tempo que não sabemos
Como nem quando virá apaziguar-nos.
Não podemos deixar que este nevoeiro
Que sobe e nos penetra, denso e cinzento,
Até fazer doer a alma, nos absorva
E roa os sentimentos.
É tempo de ficar em casa, de isolamento social,
Mas não é tempo de cultivar o egoísmo.
Ao silêncio das ruas, contrapomos a família
Expandida em risos e partilha de saber e
experiência.
As mãos não se dão em cumprimento,
Os braços ficam longe da sua função de abraçar.
Mas não é tempo de afastamento e desunião.
Que se multipliquem os sorrisos,
Que se partilhem preocupações,
Que as vozes se ergam em canções de esperança,
Que as almas se unam formando cadeias de oração,
Que os corações chorem pelo sofrimento
(não é alheio, é de todos nós),
E que vibrem de gratidão por quem trabalha
Ofertando o seu suor para amenizar as dores
E a solidão de quem é mais frágil.
Que dê as mãos a Humanidade inteira,
Na certeza desta Família global que somos,
E que há de sair vitoriosa, mais madura,
Menos egoísta, mais fraterna.
A Vida é partilha, doação, fraternidade.
Na dor, aprendam os Homens a doar-se e partilhar
Aprendam a sentir em si a dor do outro,
A sofrer com o outro e pelo outro. Um só.
Havia a luz.
Um dia fez-se a escuridão.
A humanidade sofreu, chorou, teve medo,
Mas uniu-se pelo bem comum que é a Vida.
E Deus disse: faça-se de novo a luz.
E a humanidade rejubilou.
O nevoeiro dissipou-se.
Das almas fugiu o medo.
As vozes agitaram-se em gritos de alívio.
E Arouca saiu à rua para se abraçar e dar as mãos.
Maria de Lurdes Duarte
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