Agradecemos à autora MARIA ELIZABETE NASCIMENTO DE OLIVEIRA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua
percepção para essa pandemia mundial?
A natureza encontrou
uma forma de provocar o ser humano a olhar para sua pequenez diante da
imensidão do mundo. No entanto, mesmo
com a eficiência da epidemia que matou milhões de seres humanos, não atingiu o
objetivo. Infelizmente, a preocupação, especialmente em meu país, tem sido medir quem vale mais.
2
- Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena está menos ou mais
inspirada?
Acredito que não, é uma
forma diferente de produção e, consequentemente, também de insPIRAÇÃO. Trata-se
de um momento sombrio que nos atravessa e, ao mesmo tempo, permite que façamos
uma viagem introspectiva para nos reconhecer e abrir-se ao (re)conhecimento dos
outros. É um tempo de provocação felina que desestabiliza nossas ‘verdades’,
incita-nos a ver e sentir outras coisas que estavam adormecidas.
3
- Quando isso passar, qual lição que ficou?
A lição de que
precisamos estar coesos em humanidades, verdadeiramente
mais perto uns dos outros. Estávamos muito perto uns dos outros, mas longe. A
quarentena nos deixou longe das pessoas que amamos e com vontade extrema de
estar perto.
4 - Os movimentos de
integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Estes movimentos são, como
diria Clarice Lispector, “As águas do mundo” e/ou as janelas capazes de fazer o
sol entrar todos os dias no meu quarto particular e encher meu pulmão e minhas
entranhas de força e resistência, acreditando que é possível construir um lugar
com equidade.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou
a sua obra? Percebe o retorno nas suas ações?
Normalmente, nas redes
sociais e com amigos por meio de mensagens via WhatsApp. Depende do que estamos
chamando de retorno. Para mim, escrever é uma forma de viver, é mais aroma, é
mais alimento que história e/ou busca de resultados. Sinceramente, tenho tido
algumas cobranças a este respeito, ainda não me sobrou tempo para pensar sobre
o assunto.
6
- Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para mulher?
Acho que o problema foi
este: Escrita para Mulher. A
saída, embora tardia e desvalorizada, foi: Escrita de mulher.
Positivo:
foi a abertura do espaço para a mulher se encontrar consigo, ver-se para além
das máscaras que lhe impuseram ao longo da história e caminhar rumo à conquista
do seu espaço no universo da escrita e da emancipação em diversos níveis.
Negativo:
sempre foi a desvalorização. Não falo de moeda, falo de ser, da valorização de
um pensar existencial e histórico que só na escrita da mulher está impregnado
porque não se trata de exterioridade, mas do dissertar/narrar das próprias
vísceras.
7
- O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a
longo prazo.
Pretendo enquanto
autora permitir sempre que a poesia tenha gestações em mim, que eu seja sempre ser humano, antes de ser doutora, antes
de ser escritora, antes de ser professora, antes de ser inúmeros seres que, no
meu sentir, vem depois, sempre depois. A curto prazo, lançar meu próximo livro
de poesia. A longo prazo, finalizar um livro sobre (de)Formação de Professores.
8
- Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros mulherio das
Letras em Portugal?
As diversas formas de
escritas do corpo feminino; A lírica como expressão das miudezas que fazem do
mundo um lugar melhor para se viver; As narrativas e protagonismos de autoria
feminina.
9
- Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Adélia Prado. Sua obra
incita um olhar de hesitação e encanto diante das coisas simples do cotidiano
e, eu também, acho o sentimento a coisa mais linda do mundo. O livro Bagagem (1976), são poesias compostas
por palavras peculiares, afetAção pura, de quem sente o que diz e/ou de quem
diz o que sente.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem?
Como responderia?
Caso você não compareça
ao encontro Mulherio das Letras em
Portugal, que acontecerá no palácio Baldaya em Lisboa/2020, o que terá
acontecido?
Falta de recursos
financeiros, mas o sonho é
sempre vivo e, ainda, não descobriram uma forma de cobrar por ele em moeda
corrente.
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