quinta-feira, 23 de abril de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - MARIA ELIZABETE NASCIMENTO DE OLIVEIRA


Agradecemos à autora MARIA ELIZABETE NASCIMENTO DE OLIVEIRA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

A natureza encontrou uma forma de provocar o ser humano a olhar para sua pequenez diante da imensidão do mundo.  No entanto, mesmo com a eficiência da epidemia que matou milhões de seres humanos, não atingiu o objetivo. Infelizmente, a preocupação, especialmente em meu país, tem sido medir quem vale mais.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo?  Em tempos de quarentena está menos ou mais inspirada?

Acredito que não, é uma forma diferente de produção e, consequentemente, também de insPIRAÇÃO. Trata-se de um momento sombrio que nos atravessa e, ao mesmo tempo, permite que façamos uma viagem introspectiva para nos reconhecer e abrir-se ao (re)conhecimento dos outros. É um tempo de provocação felina que desestabiliza nossas ‘verdades’, incita-nos a ver e sentir outras coisas que estavam adormecidas.

3 - Quando isso passar, qual lição que ficou?

A lição de que precisamos estar coesos em humanidades, verdadeiramente mais perto uns dos outros. Estávamos muito perto uns dos outros, mas longe. A quarentena nos deixou longe das pessoas que amamos e com vontade extrema de estar perto.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Estes movimentos são, como diria Clarice Lispector, “As águas do mundo” e/ou as janelas capazes de fazer o sol entrar todos os dias no meu quarto particular e encher meu pulmão e minhas entranhas de força e resistência, acreditando que é possível construir um lugar com equidade.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe o retorno nas suas ações?

Normalmente, nas redes sociais e com amigos por meio de mensagens via WhatsApp. Depende do que estamos chamando de retorno. Para mim, escrever é uma forma de viver, é mais aroma, é mais alimento que história e/ou busca de resultados. Sinceramente, tenho tido algumas cobranças a este respeito, ainda não me sobrou tempo para pensar sobre o assunto.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para mulher?

Acho que o problema foi este: Escrita para Mulher. A saída, embora tardia e desvalorizada, foi: Escrita de mulher.

Positivo: foi a abertura do espaço para a mulher se encontrar consigo, ver-se para além das máscaras que lhe impuseram ao longo da história e caminhar rumo à conquista do seu espaço no universo da escrita e da emancipação em diversos níveis.

Negativo: sempre foi a desvalorização. Não falo de moeda, falo de ser, da valorização de um pensar existencial e histórico que só na escrita da mulher está impregnado porque não se trata de exterioridade, mas do dissertar/narrar das próprias vísceras.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Pretendo enquanto autora permitir sempre que a poesia tenha gestações em mim, que eu seja sempre ser humano, antes de ser doutora, antes de ser escritora, antes de ser professora, antes de ser inúmeros seres que, no meu sentir, vem depois, sempre depois. A curto prazo, lançar meu próximo livro de poesia. A longo prazo, finalizar um livro sobre (de)Formação de Professores.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros mulherio das Letras em Portugal?

As diversas formas de escritas do corpo feminino; A lírica como expressão das miudezas que fazem do mundo um lugar melhor para se viver; As narrativas e protagonismos de autoria feminina.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Adélia Prado. Sua obra incita um olhar de hesitação e encanto diante das coisas simples do cotidiano e, eu também, acho o sentimento a coisa mais linda do mundo. O livro Bagagem (1976), são poesias compostas por palavras peculiares, afetAção pura, de quem sente o que diz e/ou de quem diz o que sente.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? Como responderia?

Caso você não compareça ao encontro Mulherio das Letras em Portugal, que acontecerá no palácio Baldaya em Lisboa/2020, o que terá acontecido?
Falta de recursos financeiros, mas o sonho é sempre vivo e, ainda, não descobriram uma forma de cobrar por ele em moeda corrente.

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