E NASCE A PAZ EM MIM
Perdida nos meus pensamentos e
desalentos, com a minha taça de café já frio...
Apreciando esta linda noite de
luar, como tantas outras da minha varanda.
Ao longe ondas mansas se
desfazem, acariciando o areal, som melodioso que faz bem ao moral.
Deste período de confinamento,
guardo a esperança que me trás paz.
Aquele tesouro que nasce depois
da incompreensão, da dor, da revolta e desolação...
Como pode o mundo despertar a cada
manhã e concordar em carregar tanta tristeza?!
Quanta energia para poder
aceitar, que o homem só existe através do poder, do dinheiro, da glória,
abandonando por isso tudo, algo bem maior?!
Esquece, abandona ou troca o
valor da vida simples e pura, por momentos de prazer sem remorsos ou por
segundos de ilusórias aventuras.
Agora a terra acorda e grita de
alegria, os pássaros esvoaçam pelos céus de cores intensas, em liberdade, não
seguem os traços de aviões apressados de chegar ou voltar e sem fumaças de chaminés
altas ou baixas. Apenas esvoaçam por prazer.
Outros correm em pradarias ou
florestas sem medos, mas talvez invente eu um postal efêmero para enviar ao meu
melhor amigo.
O mundo já não é só nosso,
agora o devolvemos... Ou foi pelo rei de corôa, sem cavalo ou reino rico, fatal
vírus que nos tormenta e nos coloca em perigo.
E se o dia nasce na separação
da noite e o horizonte, acompanhado de nuvens ansiosas por libertar sobre o
mundo um doce chover, é a primavera a querer espalhar as suas cores sobre as
flores, o trigo e pomares a crescer.
O vento levantou-se de mansinho
e o sono fez-se presente, nos meus olhos e pelo corpo uma moleza se aconchegou devagarinho.
Ligo o telefone e leio com
alegria, uma mensagem de um ente querido. Desejos de um amanhecer suave, com
carinho.
O silêncio enche o espaço e
acompanha-me com pudor ao leito. Sabe ele tão bem o que me vai na alma e no
peito.
Hoje houve aplausos e cânticos,
ainda que se carregue a dor, foi por agradecimento e amor aos amigos de farda
verde, azul, vermelha ou branca.
Heróis plastificados,
mascarados e prontos para a guerra, sem taças, medalhas ou louvores.
Talvez amanhã nos possamos
reunir, olhar nos olhos, agarrar mãos e beijar quem nos quiser sentir...
Assim me deito esperançada,
pois a paz nasceu-me na alma, vai-me até amanhã embalar...
Ana Mendes
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