sábado, 26 de outubro de 2019

AS ESTÓRIAS DO TI REINALDO (excerto) - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Miguel, fixa esta frase: Reinaldo, um Artista que devemos recordar, diz a Poesia.
Os mais novos da aldeia não o conhecem como tal, mas todos sabem que é moleiro e sabe contar contos fantásticos. Os mais velhos, aqueles que com ele convivem, têm-no na conta, mais das vezes, de um pobre diabo que se sustenta das parcas maquias que são a moeda de troca pelo trabalho de moagem. A dura vida da aldeia, na época de carência, não deixa tempo para apreciações mais cuidadas. Cada um vale pelo seu poder económico, que no caso em apreciação se aproximava do zero. Felizmente que os jovens da minha época ouviram dezenas de vezes as suas estórias, contos e peripécias, sempre com a emoção de quem as ouve pela primeira vez. O que de todo não era falso já que o Ti Reinaldo, cada vez que conta um conto, lhe empresta uma nova tonalidade e emoção. Como qualquer artista doutra área da cultura. Esses jovens, hoje já na 3ª idade e com uma formação mais cuidada, recordam o contador de histórias e menos o moleiro. Tenho a sorte de ainda pertencer a esse grupo etário. Ao escrever algo sobre o Ti Reinaldo quero pagar-lhe em memória, para todo o sempre, os fantásticos momentos que me deu e dá, de exaltação do imaginário.
Um imaginário por vezes assustador, pois alguns dos seus contos metem figuras sinistras e situações em que Satanás é a mais santa das entidades envolvidas. Mas não é apenas um contador de estórias. Tem uma voz maravilhosa que, aliada ao familiar dom da música, o torna um expert do cantar seja ao desafio, seja a cantar as Janeiras, seja nas “ramboiadas” que adorava e adora.
Uma das manifestações mais apreciadas são as “tainadas”, normalmente aos domingos, depois do terço, ou no dia de S. Martinho, a 11 de Novembro, quando o provérbio, “no dia de S. Martinho,
vai à adega e prova o vinho”, está sempre presente. Eu aí nunca estou presente, diz a Poesia. Os viticultores juntam-se para, pela primeira vez, apreciar e qualificar o vinho da colheita de Setembro/Outubro. A prova dos vinhos é “aconchegada” com a ingestão de umas tapas (broa e chouriça) e com facilidade a euforia se torna desafiadamente sonora.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

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