Agradecemos à autora ANA KANDSMAR pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?
É uma acima de
tudo uma forma de estar. Através da escrita reinvento-me o que me dá margem
para testar as minhas várias camadas e explorar o meu potencial criativo.
2 - Em que género literário se sente mais
confortável?
Sinto-me mais
confortável na prosa, no romance ficcional. Dá-me um prazer imenso criar
personagens e fazê-las evoluir ao longo da trama.
3 - O que escreve é inspiração ou trabalho?
Ambos. Como
também sou jornalista escrevo muito por trabalho. Todavia, escrever um romance
não deixa de ser trabalho, precisamente porque dá muito trabalho.
4 - O que pretende transmitir com a sua escrita?
A minha forma
única de ver o mundo e de estar no mundo. E com isso, levar a que outros
descubram novas formas de ver e de estar no mundo também.
5 - Qual o seu público alvo?
Até agora tudo o
que escrevi dirige-se ao público adulto, embora o meu primeiro livro, A
Guardiã- O Livro de Jade do Céu, tenha sido muito bem recebido pelos mais
jovens. Penso que isso se deveu ao facto de o livro ter uma componente muito
forte do género fantástico.
6 - Em que corrente literária acha que a sua escrita
pode ser incluída?
Ficção,
obviamente. Embora tudo o que escrevo
resulte da mistura da realidade com a ficção.
7 - Quais as suas referências literárias?
Muitas. Entre os meus autores contemporâneos
preferidos estão o Afonso Reis Cabral; o Joel Neto; o João Tordo; o Luís
Corredoura; João Pinto Coelho, João de Melo, por exemplo, os mais clássicos
como António Lobo Antunes ou Agustina Bessa Luís, os que já morreram como o
Saramago ou Pessoa, Natália Correia, Eça... Tenho paixão pela poesia do Eugénio
de Andrade e também a da Florbela Espanca; a do Carlos Drummond de Andrade… e
gosto muito de autores que são, infelizmente pouco conhecidos do público, como
a Ana Cristina Silva; o Paulo Pimentel; o Carlos Queiroz; o Luís Ferreira; a
Mbarreto Condado; o Fernando Teixeira; Maria Cecília; Helena de Macedo; o Jerónimo Jarmelo; João
Nuno Azambuja… Neste grupo estão autores que admiro muito, uns pelo potencial,
outros porque são já verdadeiramente bons. Entre os estrangeiros, Dostoyevsky e
Murakami, Tolkien e George RR Martin, Lesley Pearce… entre outros.
8 - O que costuma fazer para divulgar o que escreve?
As redes sociais
desempenham muito bem esse papel, todavia, estar presente em alguns eventos
também é importante e eu tento cumprir essa parte do acordo, digamos assim, que
fiz com os meus leitores. Para além disso, tenho os meus blogues, um para o meu
trabalho na área do jornalismo e outro para a escrita criativa e ambos têm um
número de visitantes já bastante simpático.
9 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?
Basicamente que
me leiam. Quem escreve quer ser lido. E se os leitores me acharem merecedora,
que me acompanhem. Tudo o resto virá por
acréscimo se, e isso também é muito importante, as grandes editoras pararem,
entretanto, de destruir o mercado literário português.
10 - Que pergunta gostaria que lhe fizessem e como
responderia?
Poderia agora
aproveitar para me perguntar, como é que eu acho que as grandes editoras
destroem o mercado literário português, e eu responderei que o fazem publicando
às pazadas de autores estrangeiros, que escrevem lixo, para não darem
oportunidade a tantos autores portugueses que até escrevem bem. E fazem-no,
também, quando publicam autores portugueses muito medíocres com base nos
milhares de seguidores de uma página no facebook que o autor andou durante
meses a alimentar com patrocínios pagos. Se as pessoas já compram poucos
livros, e ainda encontram só porcaria nas livrarias, com a honrosa excepção de
meia dúzia de escritores que estão no topo porque merecem lá estar, como é que
as vamos fazer comprar mais livros e ler mais? É um risco cada vez maior
comprar autores desconhecidos, e o dinheiro que não abunda na carteira dos
portugueses não pode ser mal gasto. Apesar de tudo, ainda vou arriscando, mas
faço-o apenas com autores portugueses. Dos estrangeiros, tenho uns quantos que
já são os meus preferidos, e não passo muito daí.
Outra pergunta à
qual gostaria de responder é uma que já me fizeram, mas eu não respondi na
altura, exactamente de acordo com o que genuinamente pensava. “Porque é que não
concorres a prémio literários?” e eu
responderia: “Porque não faço parte da elite da Esquerda, o meu pai não tem um
nome sonante e eu não tenho amigos entre os jurados.” Essa é, aliás, também a
razão pela qual, se calhar, ainda não fui publicada por nenhuma grande editora.
Essa gente que monopoliza a literatura, e outras artes em Portugal, não pode
continuar a achar que todos os outros são parvos e não percebem o que se passa
à sua volta.
Outra ainda: “Sobre o Acordo Ortográfico?” Só
se não puder evitar.
Muito obrigada pela partilha. Votos de muito sucesso!!!
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