quarta-feira, 1 de maio de 2019

SER MÃE É FATAL - LIZ RABELLO

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

“O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que profere mentiras não estará firme perante os meus olhos!” Salmos 101:7
“A barata diz que tem sete saias de filó... É mentira da barata, ela tem é uma só...” Este era o refrão predileto do meu filho mais novo. Cantava para o Ro, enquanto o colocava sentado em cima da mesa, eu em pé, para a gente poder trocar beijinhos de pertinho, abraços intermináveis e carícias com os olhos. Ele adorava sentir meus cílios tocando os dele, em sintonia com nossas piscadinhas. Quando parava de cantar para ele e lhe dizia que seu nariz já estava crescendo igualzinho ao do Pinóquio, era o momento certo para que me contasse mais um pouquinho da sua louca aventura. Aos poucos, ia costurando os fatos mais doidos de minha pior e mais fascinante experiência materna. Por Deus, como é difícil ser mãe! E eu cutucava as memórias daquele menininho apronta quieto, esperto, amoroso e muito falante! – “Quer dizer, então, que a baratinha pegou um ônibus” – E ele continuava a história... “O home disse pra mim: Cuidado, menino, você vai cair!” Em outros momentos, frases curtas: “O onbus abria a porta e fechava, cansei, desci”. Certa vez, ao voltarmos das compras, passei embaixo do viaduto que ligava meu bairro à Vila dos Remédios, o carro atrás de um veículo, quando meu filho falou: “Mamãe, meu onbus passou daqui, tinha aquele dois ali e era verdinho”. A despeito de minhas ansiosas indagações, respostas chegavam só quando bem entendia. Uma tarde, no clube que frequentávamos, quando passávamos pela catraca para entrar na piscina, ele gritou: “É igualzinha do meu onbus!” Eu jamais o levara para passear de ônibus, embora meu filho sempre pedisse.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - ANTOLOGIA - IN-FINITA

1 comentário:

Toca a falar disso