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Destroços. Escombros. Restos. Declínio.
Em ruínas.
Devastada. Esfacelada. Esmorecida.
Arruinada.
Desmoralizada. Debilitada. Degradada. Aniquilada.
Por uma, duas, três vezes. Por quantas mais necessário. Por tempos indeterminados. Por fases áureas e fases sombrias. O apogeu e a queda. A ordem e o caos.
Mas sempre perene.
Ainda que o tempo, imperecível e infinito, caia por sobre cada processo. Ainda que o processo em si seja o próprio tempo.
Ainda que, aflita, seja preciso recuar. Esperar e escutar. Ouvir os murmúrios vindos de antigas vozes, vindos do profundo da terra, vindos de não se sabe bem onde... Mas ali. Vivos. Presentes e eternos.
E aprender.
Aprender com a terra que tudo transmuta. O que hoje é morte, amanhã nasceu diferente. A quietude da semente, a beleza da flor e resiliência da folha que cai, cumprindo seu papel. Abraçar as raízes pra alcançar os galhos. Morrer, decompor, perecer - para renascer.
Aprender com o fogo a se autoalimentar, fazendo de cada respiração uma nova força para se manter acesa, viva. Consumir-se em si mesma.
Aprender com o ar que o que estava aqui, frente aos olhos, agora é vento. Corre solto por outros ares. E carregar em si o poder de ser brisa quando é necessário o acalento e gerar furacões quando a instabilidade é a ordem.
Aprender com as águas a contornar os obstáculos sem perder o fluxo. A ser sempre a mesma, e nunca a mesma. Ser escura, turva e voluptuosa. Ser clara, morna e mansa. Aprender a ser chuva, nuvem, rio, mar: ser mestra de si e de seus domínios.
E honrar.
Seu sangue, pulso vivo da terra. Devolver. Permitir que o retorno aconteça, em todos seus níveis.
Suas ancestrais, vozes vivas ecoando a plenos pulmões, mas com tamanha sutileza que é preciso colar os ouvidos aos véus do profundo para captar os ensinamentos há tanto esquecidos.
Ser. Estar. Permanecer.
Com toda a essência que houver.
Aceitar, entregar, confiar, agradecer.
Na sequência que couber.
E seguir. Carregando seu templo repleto de magias e curas, carregando nas mãos o poder de ser todas: da mulher amada a poderosa e indesejada sacerdotisa. Da frágil filha a sábia anciã. Da mais brilhante luz a completa escuridão.
Seguimos.
Podem derrubar-nos quantas vezes quiserem: nossos alicerces são tão fundos na alma do mundo que sempre restarão nossas ruínas, vivos monumentos das mulheres que teimam em resistir.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - ANTOLOGIA - IN-FINITA
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