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Quando se pergunta a uma criança, o que quer ser quando for grande, habitualmente respondem: professor, bailarina, médico, piloto de avião, chef de cozinha e por ai fora, mas não a Rosa, quando crescesse a Rosa queria ser: avó.
Talvez por isso, tenha tido toda a vida, um ar mais velho do que seria suposto. Quando nasceu não parecia uma bebé acabado de nascer, parecia uma velhinha enrugada no colo da mãe. Antes dos dez anos, tinha já compridas melenas de cabelo branco e os traços do rosto sempre muito vincados a delinear-lhe a expressão.
Naturalmente interessou-se sempre por hobbies muito pouco infantis como aprender a fazer crochet, depenar galinhas, cozer botões, passar a ferro e seguir afincadamente as telenovelas mexicanas dobradas em brasileiro.
Na escola revelou uma apetência inata para ler e escrever, e para tudo o que era trabalhos manuais. Os pais acompanhavam-na com um misto de orgulho e preocupação. Sabiam que era diferente, que se comportava de forma distinta, mas não queriam que sofresse por esse motivo, e as crianças podem ser muito cruéis umas com as outras. Apesar das diferenças óbvias, por um qualquer milagre inexplicável nunca foi gozada na escola nem nas brincadeiras com os amigos.
Entre as crianças, havia respeito. Talvez por se tratar de alma antiga, a Rosa nutria admiração e apreço por parte dos amigos, recorriam a ela para pedir ajuda ou consolo. E ela estava lá sempre para eles, arregaçava as mangas sem medo e fazia tudo.
Quando foi mãe pela primeira vez, não se sentiu particularmente feliz ou ligada à criança. Sabia que, ser mãe seria um ponto de ligação vital para se tornar avó, e que o seu futuro passava por esta etapa. Teria de ser mãe antes de ser avó, a lógica da vida não permite inverter as regras naturais das coisas. Um dia, aquela criança iria concretizar a sua vocação de vida, com a materialização de um neto ou neta.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - ANTOLOGIA - IN-FINITA
Obrigado pela partilha ❤ (Sofia Cortez) www.omeuserendipity@blogspot.pt
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