terça-feira, 14 de maio de 2019

O BEATO ANTÔNIO (excerto) - SÓNIA BISCHAIN

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O encontro com o amigo Paulo foi marcado pras quinze horas, na praça, em frente à Igreja Matriz. A condução em seu Bairro é ruim, pra evitar atrasos, ela saiu cedo de casa. Estava ansiosa pra rever o amigo. Adiantada, Carolina resolveu entrar na igreja.
— Gente, há quanto tempo não entro numa igreja! Deve fazer uns vinte anos! — lembrou. A última vez, foi no casamento da amiga Isabel. Deu muitas risadas naquele dia. Uma tia da noiva pisou no véu, que foi arrancado de sua cabeça. Logo depois, alguém tropeçou num vaso de flores. O vaso foi ao chão espalhando água pelo corredor por onde a noiva entrava. Isabel, ao ver a cena, fez o trajeto até o altar às gargalhadas. Na hora da troca de alianças, quem disse que Isabel conseguia colocar a aliança no dedo do noivo?
A Igreja Matriz é linda — réplica da original, construída no final do século XVIII. Cem anos após a inauguração, foi destruída por um incêndio. Um sacristão trapalhão, ao tentar acabar com uma colmeia instalada no alto da torre, ateou fogo no templo. A reconstrução do prédio foi concluída no início do século XX. Além do altar central, existem dois menores, um em cada lateral.
O celular de Carolina vibrou. Uma mensagem do amigo, Paulo: iria se atrasar. Ela, então, dirigiu-se, ao acaso, pro lado esquerdo do recinto. O que viu a fez voltar no tempo: a relíquia do Beato Antônio, dois pedaços de osso do seu braço direito: seu antebraço. Dizem, que este seria o braço misericordioso de Antônio, o que levava pão pros pobres da cidade europeia em que viveu, há quinhentos anos. Antônio, no Brasil, ganhou status de santo e um altar na Igreja Matriz. Um dia, um casal de imigrantes ao ver o altar, comentou com o pároco local:
— Na igreja da nossa cidade natal, lá na Europa, fica a urna com os restos mortais desse Antônio, mas ele nunca foi canonizado, é só um beato.
É mesmo? — surpreendeu-se o pároco.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - ANTOLOGIA - IN-FINITA

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