Agradecemos à autora GIOVANA DAMACENO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da mulher na literatura
atual?
Na conjuntura atual, penso que o papel da mulher seja
o de impor – isso mesmo, impor – sua arte e seu talento, ao mesmo tempo que em
se utiliza de suas ferramentas de criação para denunciar a desigualdade de
gênero, de contribuir na educação e crescimento de outras mulheres, incentivar
a produção e afirmar a representatividade feminina no universo literário.
2 – Em que medida o universo feminino influencia na
hora de escrever?
Quanto mais me integro às lutas feministas e a tudo o
que Movimento envolve, a mulher está mais presente no meu trabalho. As
personagens são mulheres e sempre criadas a partir de histórias reais que ouço
aqui e ali. Pela minha palavra irrompem-se as dores, os choros, a opressão, a
sujeição a que a maioria de nós passa ou já passou um dia. Até agora escrevo
sobre essas mulheres e elas estão nas ideias de trabalhos futuros também.
3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita
se enquadra?
Penso que minha escrita se enquadre numa mistura de
correntes a partir do realismo, se analisada de modo mais acadêmico. Porém, não
vejo no meu trabalho – como também não vejo em obras contemporâneas – uma
corrente definida em suas autoras e autores. No meio em que milito estamos
preocupados e focados nas questões sociais e como jornalista ainda tenho meus
pés fincados no piso dessas questões.
4 - Que importância dá aos movimentos de integração da
mulher?
São movimentos fundamentais, dos quais não há mais
modo de retroceder. E só prometem algum resultado, quanto mais forem coesos,
ativos, organizados e fortes.
5 – O que acredita ser essencial para divulgar a
literatura?
A informação e seus meios de propagação estão muito
fragmentados atualmente, como também os públicos. Não há mais uma massa única
que consuma esse ou aquele produto, mas grupos distintos que consomem produtos
e serviços diversos. A internet e as redes sociais conseguiram esse feito, ao
mesmo tempo em que as mídias tradicionais perderam ou extinguiram seus espaços
destinados à divulgação e debate literários, o mercado editorial passou a
investir essencialmente no que vende e não há disponibilidade nesse mercado
para conhecer e dar oportunidade a tantos talentos revelados nos últimos anos,
com a ajuda da internet. Estamos engatinhando nos novos formatos; não vejo
agora algo que seja o ideal. Creio que estejamos construindo novos espaços e
novos meios.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo
da escrita?
Pouca – ou total ausência – de oportunidade para as
mulheres, os escritores jovens, os novos autores, os “desconhecidos do grande
público”.
7 – O que pretende alcançar enquanto autora?
Há no meu trabalho um processo permanente de
aprimoramento, do qual não me furto. Leio muito, estudo, pesquiso, escrevo
incansavelmente, ainda que não publique, sempre aplicada ao aprendizado do que
me dispus a fazer. Quero alcançar o entendimento e a compreensão de quem me lê,
garantir uma linguagem acessível, contar histórias para serem facilmente
absorvidas e recontadas, sempre e sempre com o objetivo de servir de
instrumento para colaborar com a mudança que quero ver (e não vou ver) no mundo.
Sou exigente comigo. Cometo muitos erros, tropeço, vou e volto, contudo, o intuito
é sempre o de aprender para oferecer o melhor possível.
8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
A curto prazo, batalhando para concluir um livro
jornalístico, em produção há quatro anos. Não é uma obra longa, mas o tema denso
me fez parar diversas vezes para respirar. A longo prazo, o meu primeiro
romance, já idealizado e desenhado, aguardando na fila.
9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).
Uma autora estrangeira: Leïla Slimani – “Canção de
Ninar”
Uma autora brasileira: Maria Valéria Rezende – “Quarenta
Dias” (livro que me sacudiu em 2018)
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E
como responderia?
Acredita que a literatura deve ter uma função social?
Acredito e milito na literatura com esse objetivo. Não
me vejo fazendo de outro modo. Preciso dizer algo, promover, provocar,
colaborar, denunciar. É o que faço com o que sei fazer.
Sobre a autora:
Giovana Damaceno, jornalista e
escritora de Volta Redonda/RJ. Publicou de modo independente as coletâneas de
crônicas “Mania de Escrever” (2010) e “Depois da chuva, o recomeço” (2013), e o
relato pessoal “Do lado esquerdo do peito” (2013), pela Editora Penalux.
Participou de dez coletâneas de prosa e uma de poesia. É membro da Academia
Volta-redondense de Letras.
Sempre bom conhecer um pouco do pensamento de outros escritores...
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