Agradecemos à autora LITAS RICARDO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da mulher na literatura
atual?
Esta questão é interessante, visto que me obrigou a
pesquisar sobre o assunto, já que, confesso, ainda não me tinha questionado
sobre tal. Claro que tenho a noção das diferenças criadas, mas acabo de
perceber que de facto, hoje o papel da mulher na literatura, é bem mais amplo
que outrora. Também a sua forma de escrever a coloca numa situação bem mais
confortável, visto que a própria sociedade evoluiu. Apesar de reconhecer que
ainda é o homem que domina os prémios na literatura, reconheço que nós
mulheres, estamos no bom caminho no sentido de deitar abaixo ideias
preconcebidas bem como costumes obsoletos.
2 – Em que medida o universo feminino influencia na
hora de escrever?
Para melhor resposta, transcrevo um texto de Virgia
Woolf: “(…) quando se põe a escrever um romance, uma mulher constata que está
querendo incessantemente alterar os valores estabelecidos – querendo tornar
sério o que parece insignificante a um homem, e banal o que para ele é
importante. Por isso, é claro, ela será criticada; porque o crítico do sexo
oposto ficará surpreso e intrigado de verdade com uma tentativa de alterar a
atual escala de valores, vendo nisso não só uma diferença de visão, mas também
uma visão que é fraca, ou banal, ou sentimental, por não ser igual à dele”.
Para mim, este texto retrata bem a influência do feminino, pela diferença entre
a escrita no masculino que é mais racional, enquanto a do feminino, é mais
emocional.
3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita
se enquadra?
Escrevo ficção, poema e poesia.
4 - Que importância dá aos movimentos de integração
da mulher?
Todos os movimentos foram e são importantes.
Todavia, na atualidade, acredito que o alcance que pretendemos ter na nossa
vida, em muito depende de cada um de nós, e isso, é uma conquista diária...
5 – O que acredita ser essencial para divulgar a
literatura?
Para mim o essencial para divulgar a literatura,
entre a honestidade e o trabalho de quem o faz, o conhecimento das ferramentas
em função de cada público tem igualmente uma influência considerável. No meu
ponto de vista, a literatura está bem divulgada. Considero que este mercado
está espelhado em todo lado, está bem explorado. Existem imensos eventos
literários divulgados nas diversas redes sociais, um mundo a cada esquina, num
hipermercado ou até nas estradas... Hoje dou por mim a escolher qual o evento
em que estarão mais amigos, pois todos os fins de semana há eventos literários.
Ora se eu tomo conhecimento, creio que todos tomam da mesma forma.
A respeito da literatura, pessoalmente, considero
que o que falha mesmo, e muito se tem discutido quando falo com outros autores,
é a presença do leitor. Mas isso, não
depende da divulgação, mas das consciências e vontades de cada um.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do
universo da escrita?
Começo por esclarecer que o que vou descrever,
faço-o de forma individual e pelo que observo ao longo do tempo e da minha
presença em eventos literários, cujos diálogos vêm muitas vezes ao encontro
desta questão.
Primeiramente realço três pontos que considero
negativos: os custos para o autor, a distribuição do seu livro e a sua
influência no mundo. Para mim, os custos para publicação são elevados. No meu
caso, só consegui lançar os meus livros com recurso a uma plataforma de
crowdfuding. No que concerne à distribuição, este é mais uma complexidade no
mundo literário. Desde as editoras até às livrarias, eis um misto complicado
que condiciona a distribuição dos livros. Contudo, se o autor vai à televisão,
ou se tem posição social, está lançado. O seu livro tem as portas abertas na
editora, porque os leitores compram quem conhecem, independentemente de ser ou
não uma boa escrita, e as livrarias até estendem a passadeira vermelha,
colocando as suas faces destacadas na entrada. Mas, se pelo contrário, um autor
está fora destes meios, então é um “nobre desconhecido” e o leitor não se
desperta, nem se interessa em o conhecer. Existem muitos estigmas em relação
aos autores, e isto, é algo que tenho vindo a observar e a viver nos eventos
que tenho estado presente. A visibilidade pública do autor e a sua
escolaridade, são dois pontos-chave para se negar conhecer um autor. Um dia
questionei uma Senhora que visitou a feira do livro onde eu estava presente,
pelo facto de ela ter negado conhecer-me enquanto pessoa e autora, após
questionar a minha escolaridade, ou seja, por eu ter somente o 12º ano: Se a
Senhora não me conhece de lugar nenhum, porque afirma que não gosta do que
escrevo?
Quanto ao ponto positivo: a cor da vida. Desde 2014,
com a publicação do primeiro livro, que sou muito mais feliz, pois este mundo
transportou-me para vivências as quais valorizo imenso: desde os convívios que
me permitem conhecer pessoas e as suas histórias de vida, conhecer lugares
diferentes, até à partilha de realidades e viveres. E é nesta imensidão de
sentires, que evoluo enquanto pessoa e escritora. Aprendi a apreciar e a
analisar cada pormenor que me rodeia. Ou seja, pessoalmente, e só posso dar a
minha opinião pessoal, hoje vejo-me em lugares que não pensava antes de
frequentar, vejo-me com pessoas que acreditava serem inalcançáveis, valorizo
muito mais os encontros com outras pessoas, até porque a minha inspiração, advém
do contacto com as pessoas, com as suas e as minhas vivências.
7 – O que pretende alcançar enquanto autora?
Quero continuar a escrever, publicar o que me for
possível, e o que advier daí, é bem recebido.
8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Publicar o primeiro livro de poesia da minha
autoria, assim como o romance que está preparado; e a longo prazo, escrever um
livro com referência ao Síndrome de Down, o qual desejo muito fazer e ceder os
direitos de autor a uma associação.
9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).
O livro “Anjos Negros” de Laura Alho
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem?
E como responderia?
Considera-se uma mulher feliz? Sim, sou uma mulher
muito feliz, tanto na pele de autora como na pele da mulher por detrás da
autora, pois amo viver.
Sobre a autora:
Autora:
Litas Ricardo
Poemas:
Adjetivo de Mulher e Saudade Revolta
Cidade:
Santarém, Portugal
BIOGRAFIA LITERÁRIA:
Autora
dos livros “Era uma vez… a minha Vida!” e “O valor da vida”, tem no momento
participação em dez antologias publicadas, tanto com textos poéticos, como com
um conto.
Escrever
é respirar; respirar é viver; viver é agradecer cada dia com a consciência que
o coração é o melhor guia.
Gostei muito desta entrevista. Muito obrigada pela partilha.
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