Agradecemos à autora CARINA FORTUNA a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da
mulher na literatura atual?
Devido a questões históricas e
sociais, existem, ainda, muitos estereótipos relacionados com a “presença”
feminina na literatura. Todavia, a mulher tem tido um papel fundamental não só
nesta área, mas em muitas outras da sociedade, pelo que o seu papel passa por
continuar a “desbravar” as folhas em branco, numa postura de luta. Uma mulher
que escreve terá de ter coragem para se afirmar, quebrar regras e padrões.
2 – Em que medida o universo
feminino influencia na hora de escrever?
Falarei da minha experiência.
Influência, na medida em que nós, mulheres, temos dentro de nós um vulcão de
emoções. Somos riquíssimas no que diz respeito a sentimentos, duvidas e
vivências, logo, somos influenciadas por este sentir acutilante, explorando
assim o que “ferve” em nós, quer seja bom ou mau.
3 – Em que corrente literária
acha que a sua escrita se enquadra?
Prefiro não enquadrar o que
escrevo nas correntes literárias existentes e aceitar a minha escrita como
sendo livre, às vezes desconcertante e mesmo inclassificada. Faço da minha
poesia uma janela, dela vejo horizontes imensos de universos livres onde o que
impera é o sentimento, a emoção e a vida a dedilhar-me o sangue.
4 - Que importância dá aos
movimentos de integração da mulher?
Considero válidas todas as lutas, desde que defendam
causas justas e nobres. Respeito todos os movimentos organizados em prol da
igualdade quer sejam no trabalho, na família, na sociedade e sou solidária com
todas as organizações/associações/movimentos que combatem injustiças sem
distinção de género. Todos falhamos enquanto pessoas, ao sermos cúmplices do
silêncio.
5 – O que acredita ser
essencial para divulgar a literatura?
Costumo dizer que escrever um
livro é mais fácil do que divulgá-lo. Também sou da opinião que a divulgação de
uma obra, começa antes do lançamento da mesma. É essencial uma boa capa, uma
sinopse e imagem apelativas, um bom titulo e com isso tentar cativar os
leitores.
O primeiro combustível,
fundamental, para nos mover chama-se vontade, a partir daí será necessário
muito trabalho.
É essencial aceitar esta nova
era das TIC; as redes sociais, sites, blogues, as plataformas digitais, etc.
são excelentes meios para divulgação, já que estamos, também, na era da cultura
digital.
Em Angra do Heroísmo, onde
tenho o privilégio de viver, o jornal ainda é um excelente meio de divulgação,
utiliza uma linguagem com rigor, mas próxima às exigências do público, os OCS
também.
É essencial para divulgar a
literatura a participação em feiras, exposições, eventos, a realização de
palestras, entrevistas aos autores, fomentar a presença destes em sessões de
apresentação, enfim... tudo o que leve a uma proximidade com o público leitor.
6 - Quais os pontos positivos
e negativos do universo da escrita?
Começo pelos pontos negativos
e de uma forma muito resumida: a falta de apoios e não me refiro apenas ao
apoio financeiro; a falta de oportunidades, os novos autores travam uma luta
que exige persistência e muita vontade; as críticas destrutivas, etc.
Quanto aos pontos positivos e
gosto mais de me focar nestes: falando da minha experiência, sendo que sou
“nova” neste caminhar, saliento as novas amizades, tenho conhecido pessoas
fantásticas. Embora já escreva poesia há mais tempo, publiquei o meu primeiro
livrinho em 2016, realizei um sonho, desde então, tenho participado em
Antologias, Coletâneas e tem sido um percurso muito gratificante. Tenho à minha
volta pessoas que me incentivam, que têm apoiado esta minha paixão e que
colaboram comigo.
A partilha, quem escreve
poesia, despe a alma, fá-lo de forma sincera e numa entrega de si, desejando um
sentimento que seja comum e cúmplice, quando percebemos que essa mágica
cumplicidade acontece é inspirador. É uma experiência que acontece entre dois
olhares, o de quem escreve e o de quem lê. Poesia é sentir.
O universo da escrita é imenso
e faz-nos “viajar” para mundos infinitos, é uma aprendizagem constante. Aprecio
muito as mensagens dos leitores, inclusive as críticas construtivas, é com elas
que vou revendo algumas questões que podem, efetivamente, ser melhoradas.
Por todas as pessoas que
caminham connosco, por toda a experiência e aprendizado, vale a entrega a todas
as dificuldades, a luta para as ultrapassar e perceber que é muito gratificante
fazer parte do universo da escrito.
7 – O que pretende alcançar
enquanto autora?
Apenas partilhar o que vou
escrevendo. Entre o escrever e o partilhar, se encontrar alguém que se
identifique, se alguém vestir o olhar e despir o coração com as minhas palavras,
já terei alcançado o que eu pretendo e estarei grata aos leitores por isso. Só
faz sentido escrever se existir alguém para ler, mas acima de tudo que essa
pessoa possa sentir. A poesia não faz falta a ninguém que a leia, porém, se a
sentirmos, delicia-nos a alma.
8 – Cite um projeto a curto
prazo e um a longo prazo.
Terminar o 3º livro de poesia.
9 - Sugira uma autora e um
livro (contemporâneos).
Autora: Sophia de Mello
Breyner Andresen
Livro: Como Uma Flor de
Plástico na Montra de Um Talho
10 - Qual a pergunta que
gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
O
que sente quando escreve poesia? Vivo, fecho gavetas de histórias empoeiradas,
abro portas acenando à esperança, apanho boleia da liberdade e voo na asa de um poema. No destino de uma
folha em branco, minha alma de açor, percorre sonhos em céus infinitos.
Biografia
Carina Fortuna
Nasceu a 27 de outubro de 1979, em
Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores.
Participou e continua a concorrer a
várias antologias e coletânias.
Em abril de 2016, publicou o seu
primeiro livro de poesia – No Mar dos Meus Sonhos.
Em outubro de 2017, publicou o seu
segundo livro de poesia – Poesia-me a Alma!.
Em junho de 2018, tomou a
iniciativa e organizou a antologia – Palavras (Con)Sentidas.
Encontra-se a preparar o seu
terceiro livro.
É autora e responsável pelo blogue
POESIA-ME da WORDPRESS.COM.
Fantástica entrevista.
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