Por vezes o melhor que podemos fazer por um livro, e seu autor, é dar a conhecer a primeira impressão. Assim sendo, aqui fica o prefácio que Andréa Mascarenhas escreveu para o livro, VERSOS & CLIQUES: INSTANTES, de Anita Santana
Cliques de
uma poética mais que visual
A produção
de imagens jamais é gratuita[1]
O livro de estreia da autora baiana,
Anita Santana, intitulado Versos & Cliques: instantes, apresenta ao
público leitor um encontro bem realizado entre fotografia e palavra poética,
duas artes que provocam estados de fruição diferentes em quem se permite
mergulhar em universos artísticos.
Cada poema e foto parece se
organizar com um firme propósito: captar flashes de instante presentes
no cotidiano, na vida que se transmuta em nosso tão comum quanto extraordinário
dia a dia.
Nas páginas do livro que nos oferece
à leitura, Anita cria imagens onde podemos encontrar outras belezas
arquitetadas em meio aos seus versos: memórias, natureza, filosofia, música,
muitas cores, temáticas sociais, traços provenientes de culturas orais, entre
outros elementos.
Mas, uma imagem se destaca no
conjunto da obra: a que se ocupa em nos dar a ver/sentir um sertão outro,
diferente daquele comumente pitado ao longe, no mais das vezes distorcido/estereotipado,
por quem não pisa o chão e nem sente o aroma da terra.
Lemos/sentimos, aqui, um sertão
úmido, banhado por chuvas e prantos, um lócus verde que nem sempre se
perde na ausência de cores, mas que pode nos proporcionar ‘um se perder’ por
outras abundâncias: entre pássaros, réstias e sombras, silêncios orquestrados
em oração/procissão. Eis uma pequena amostra de como a autora maneja muito bem
sua escrita imagética.
O forte aspecto visual que se forma
entre palavras e imagens parece comunicar uma poética que vai além das letras e
das fotografias. Temos, diante dos olhos, um objeto poético diferente, que se
concretiza em movimento dialógico, que capta o real ao tempo que nos desafia na
tarefa de decifrá-lo.
Neste primeiro livro da autora, já
se pode notar um exercício de escrita e de experimentação literária que (se)
constrói caminhos. Ao passear pela obra com Anita, nas trilhas de seus
caminhos/palavras, de formas diversas atravessamos e somos atravessados por
pensamentos e reflexões deveras pertinentes em qualquer tempo.
Nos poemas de saída (ou de entrada)
deixamos a porta aberta para um exercício de leitura plural, capaz de se
refazer a cada leitora/leitor e, com isso, passamos o bastão da ação leitora ao
porvir, ato importante em pleno século XXI, quando vemos direitos duramente
conquistados serem ameaçados de não mais existir. Mas, alimentados por fluxos
poéticos, ainda podemos vivenciar/fruir gentes e livros, para seguirmos
humanamente irmanados rumo a novos sonhos e versos.
Andréa
Mascarenhas,
(escritora
e Docente da área de Literatura - UNEB.
Doutora em
Comunicação e Semiótica - PUC).
Salvador/BA,
primavera de 2018.
[1]
AUMONT, Jacques. A imagem. Tradução de Estela Abreu e
Cláudio Santoro. 6. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2001, p. 78 (Col. Ofício
de Arte e Forma).
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