quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

IN-FINITA APRESENTA... VERSOS & CLIQUES: INSTANTES

Por vezes o melhor que podemos fazer por um livro, e seu autor, é dar a conhecer a primeira impressão. Assim sendo, aqui fica o prefácio que Andréa Mascarenhas escreveu para o livro, VERSOS & CLIQUES: INSTANTES, de Anita Santana


Cliques de uma poética mais que visual

A produção de imagens jamais é gratuita[1]


O livro de estreia da autora baiana, Anita Santana, intitulado Versos & Cliques: instantes, apresenta ao público leitor um encontro bem realizado entre fotografia e palavra poética, duas artes que provocam estados de fruição diferentes em quem se permite mergulhar em universos artísticos.
Cada poema e foto parece se organizar com um firme propósito: captar flashes de instante presentes no cotidiano, na vida que se transmuta em nosso tão comum quanto extraordinário dia a dia.
Nas páginas do livro que nos oferece à leitura, Anita cria imagens onde podemos encontrar outras belezas arquitetadas em meio aos seus versos: memórias, natureza, filosofia, música, muitas cores, temáticas sociais, traços provenientes de culturas orais, entre outros elementos.
Mas, uma imagem se destaca no conjunto da obra: a que se ocupa em nos dar a ver/sentir um sertão outro, diferente daquele comumente pitado ao longe, no mais das vezes distorcido/estereotipado, por quem não pisa o chão e nem sente o aroma da terra.
Lemos/sentimos, aqui, um sertão úmido, banhado por chuvas e prantos, um lócus verde que nem sempre se perde na ausência de cores, mas que pode nos proporcionar ‘um se perder’ por outras abundâncias: entre pássaros, réstias e sombras, silêncios orquestrados em oração/procissão. Eis uma pequena amostra de como a autora maneja muito bem sua escrita imagética.
O forte aspecto visual que se forma entre palavras e imagens parece comunicar uma poética que vai além das letras e das fotografias. Temos, diante dos olhos, um objeto poético diferente, que se concretiza em movimento dialógico, que capta o real ao tempo que nos desafia na tarefa de decifrá-lo.
Neste primeiro livro da autora, já se pode notar um exercício de escrita e de experimentação literária que (se) constrói caminhos. Ao passear pela obra com Anita, nas trilhas de seus caminhos/palavras, de formas diversas atravessamos e somos atravessados por pensamentos e reflexões deveras pertinentes em qualquer tempo.
Nos poemas de saída (ou de entrada) deixamos a porta aberta para um exercício de leitura plural, capaz de se refazer a cada leitora/leitor e, com isso, passamos o bastão da ação leitora ao porvir, ato importante em pleno século XXI, quando vemos direitos duramente conquistados serem ameaçados de não mais existir. Mas, alimentados por fluxos poéticos, ainda podemos vivenciar/fruir gentes e livros, para seguirmos humanamente irmanados rumo a novos sonhos e versos.

Andréa Mascarenhas,
(escritora e Docente da área de Literatura - UNEB.
Doutora em Comunicação e Semiótica - PUC).
Salvador/BA, primavera de 2018.


[1] AUMONT, Jacques. A imagem. Tradução de Estela Abreu e Cláudio Santoro. 6. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2001, p. 78 (Col. Ofício de Arte e Forma).

Saibam mais da autora e do livro neste link

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