A MEMÓRIA É UM PEIXE
FORA D’ÁGUA, DE PATRÍCIA PORTO. MAIS DO QUE UM ACERTO DE CONTAS, UM ACERTO DE
CONTOS
A memória é o que
alicerça, até aqui, a obra de Patrícia Porto. Não a memória no seu sentido mais
corriqueiro, mas sim tratada e enriquecida a partir de ângulos diferentes e até
opostos. Há, por exemplo, o ângulo acadêmico, trazido no livro: Narrativas
Memorialísticas - por Uma Arte Docente na Escolarização da Literatura (Ed. CRV,
2010), escrito a partir de tese finalista do prêmio CAPES. Há o ângulo poético,
trabalhado na trilogia composta pelos volumes: Sobre Pétalas e Preces (Ed.
Multifoco, 2014), Diário de Viagem para Espantalhos e Andarilhos (Ed.
Autografia, 2015) e Cabeça de Antígona (Ed. Reformatório, 2017). E, agora, há o
ângulo apresentado nos contos de A Memória é um Peixe Fora D’Água (Ed. Penalux,
2018). Dividido em três partes (Os Ossos No Porão, Os Crônicos e Fogaréu no
Céu, Exílio na terra), A Memória é um Peixe Fora D’Água é escrito, muitas
vezes, de forma tensa. Como se a autora abandonasse o método do livro acadêmico
e as ressignificações dos livros de poesia e disciplinasse as palavras usando a
estreiteza de horizontes do Brasil dos anos 70 – sim, vários contos se passam
nesta época, mesmo que a autora não diga isso textualmente. É uma obra
política? É. Tanto quanto a memória daqueles dias pode ser, na visão de uma
criança que nada sabia de ditadura e muito sabia de autoritarismo. É uma obra
de formação? É. Tanto quanto a percepção de que o futuro é só um paliativo na
visão de uma jovem dos anos 80. É uma obra memorialística? É acerto de contas?
Talvez sim, talvez não. E podendo ser tantas, é, necessariamente, literatura –
uma literatura que em seus pontos altos obedece ao ensinamento de Graciliano
Ramos: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a
palavra foi feita para dizer.” Contos como Coturno 36 (“Pediu ao padrasto
coturnos que coubessem nos pés 36. Ele logo soltou em forma de berro: “E tu é
homem? Vai usar coturno pra quê?”), Ícaro (“Ícaro morreu aos sete meses dentro
da minha barriga. Fiquei anos me odiando pela escolha desastrosa do nome.”), A
Gata Amarela (Eu cresci por atropelos e de forma desalinhada. Aos dez anos
tinha por hábito viver a amplidão das ruas do nosso bairro do interior) ou
ainda O Método (Arroubos é uma palavra que eu sempre quis usar. Porque não sei
como viver. Viver arroubos. Ou viver mesmo.) nos mostram uma autora que sabe
sentir como poesia e revelar como prosa. Ricardo Gualda, publicitário e
escritor.
A Memória é um Peixe Fora D’água, Patrícia Porto Editora Penalux – 1ª
edição: 2018 Capa: Patrícia Ferreira
Nota sobre a autora:
Maranhense, Patrícia Porto é graduada em Literatura, mestra em Educação e
doutora em Políticas Públicas pela UFF (Universidade Federal Fluminense), tendo
vários artigos acadêmicos e capítulos de livros publicados no Brasil e no
exterior.
Assessoria Literária
In-Finita
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