sábado, 17 de novembro de 2018

IN-FINITA APRESENTA... A MEMÓRIA É UM PEIXE FORA D'ÁGUA


A MEMÓRIA É UM PEIXE FORA D’ÁGUA, DE PATRÍCIA PORTO. MAIS DO QUE UM ACERTO DE CONTAS, UM ACERTO DE CONTOS

A memória é o que alicerça, até aqui, a obra de Patrícia Porto. Não a memória no seu sentido mais corriqueiro, mas sim tratada e enriquecida a partir de ângulos diferentes e até opostos. Há, por exemplo, o ângulo acadêmico, trazido no livro: Narrativas Memorialísticas - por Uma Arte Docente na Escolarização da Literatura (Ed. CRV, 2010), escrito a partir de tese finalista do prêmio CAPES. Há o ângulo poético, trabalhado na trilogia composta pelos volumes: Sobre Pétalas e Preces (Ed. Multifoco, 2014), Diário de Viagem para Espantalhos e Andarilhos (Ed. Autografia, 2015) e Cabeça de Antígona (Ed. Reformatório, 2017). E, agora, há o ângulo apresentado nos contos de A Memória é um Peixe Fora D’Água (Ed. Penalux, 2018). Dividido em três partes (Os Ossos No Porão, Os Crônicos e Fogaréu no Céu, Exílio na terra), A Memória é um Peixe Fora D’Água é escrito, muitas vezes, de forma tensa. Como se a autora abandonasse o método do livro acadêmico e as ressignificações dos livros de poesia e disciplinasse as palavras usando a estreiteza de horizontes do Brasil dos anos 70 – sim, vários contos se passam nesta época, mesmo que a autora não diga isso textualmente. É uma obra política? É. Tanto quanto a memória daqueles dias pode ser, na visão de uma criança que nada sabia de ditadura e muito sabia de autoritarismo. É uma obra de formação? É. Tanto quanto a percepção de que o futuro é só um paliativo na visão de uma jovem dos anos 80. É uma obra memorialística? É acerto de contas? Talvez sim, talvez não. E podendo ser tantas, é, necessariamente, literatura – uma literatura que em seus pontos altos obedece ao ensinamento de Graciliano Ramos: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.” Contos como Coturno 36 (“Pediu ao padrasto coturnos que coubessem nos pés 36. Ele logo soltou em forma de berro: “E tu é homem? Vai usar coturno pra quê?”), Ícaro (“Ícaro morreu aos sete meses dentro da minha barriga. Fiquei anos me odiando pela escolha desastrosa do nome.”), A Gata Amarela (Eu cresci por atropelos e de forma desalinhada. Aos dez anos tinha por hábito viver a amplidão das ruas do nosso bairro do interior) ou ainda O Método (Arroubos é uma palavra que eu sempre quis usar. Porque não sei como viver. Viver arroubos. Ou viver mesmo.) nos mostram uma autora que sabe sentir como poesia e revelar como prosa. Ricardo Gualda, publicitário e escritor. 

A Memória é um Peixe Fora D’água, Patrícia Porto Editora Penalux – 1ª edição: 2018 Capa: Patrícia Ferreira

Nota sobre a autora: Maranhense, Patrícia Porto é graduada em Literatura, mestra em Educação e doutora em Políticas Públicas pela UFF (Universidade Federal Fluminense), tendo vários artigos acadêmicos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior.

Assessoria Literária In-Finita

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