Agradecemos ao autor FLÁVIO ULHOA COELHO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1- Quando e em que
circunstâncias surgiu o autor Flávio Ulhoa Coelho?
Acredito que foi de
forma inesperada, nunca tinha pensado em ser escritor até o dia, já com meus
vinte e cinco anos, em que me arrisquei a escrever um conto, em uma daquelas
noites de insônia. Esse conto se chama “Postal”
e abre o meu primeiro livro de contos, o “Conto
que conto”. O prêmio que ganhei com esse livro me incentivou a continuar a escrever.
Acredito que um passo importante nessa direção aconteceu quando eu passei
quatro anos na Inglaterra a estudos. A distância do Brasil e as novas
experiências foram me motivando a colocar ideias e emoções no papel e os contos
foram surgindo.
2 - Como é o seu
processo de criação?
Em geral, vou anotando
ideias em pedaços de papel e cadernetas para depois trabalhá-las com mais calma.
Essa segunda parte é a mais complicada, nunca estou satisfeito e sigo
trabalhando o texto até, digamos assim, me cansar
dele, momento em que decido que ele está pronto, busco outro papelzinho com
ideias e sigo adiante. Por outro lado, minha ansiedade quer ver o texto pronto
logo e, por isso, dá então para perceber o caos em que me meto quando escrevo.
Acontece de, tempos depois, perceber que alguma ideia que tive não tenha sido
explorada totalmente e, nesses casos não tão raros assim, eu volto a ela em
algum outro formato.
3 - O que considera
mais importante no que escreve? As estórias ou os personagens? Porquê?
Depende muito do texto,
mas, em geral, a ideia da estória vem antes e aí eu tento desenvolver os
personagens de acordo com ela. Mas há também alguns personagens que me
acompanham sem me darem trégua, ressuscitam de tempos em tempos em meus
escritos, ressurgem em sonhos e nunca me abandonam, verdadeiros fantasmas. E nem
estou falando, por exemplo, de personagens como o Thio Therezo que me acompanha
frequentemente, principalmente em meu blog, pois esse já faz parte de meu
cotidiano e é trabalhado de forma consciente.
4 - Lendo a sua
biografia literária, nota-se predominância da narrativa curta. Que razões
sustentam essa apetência?
Sempre gostei de ler
narrativas curtas. Inclusive, à época em que comecei a escrever, a narrativa
curta, mormente a latino-americana, estava em alta. De forma geral, gosto de
narrativas que não se resolvem totalmente, que levem o leitor a também
participar delas e narrativas curtas em geral se prestam melhor a isso, em
algum sentido que não saberia racionalizar muito bem.
Acho que, no começo,
também pesaram dois aspectos. Por um lado, a ansiedade de ver o texto pronto
que eu mencionei acima talvez tenha, mesmo inconscientemente, influenciado para
que meus escritos sejam mais curtos, mais diretos. Por outro, por conta de meu
trabalho como professor e matemático, o tempo que tinha para escrever não era
tão grande assim no começo e textos longos demandam uma rotina de escrita mais
consistente. Como se pode notar, essa não é uma opção definitiva, longe disso,
pois, apesar de ainda escrever mais contos no meu cotidiano, estou me
aventurando em outros gêneros literários e gostando.
5 - Quais as diferenças
mais relevantes entre escrever um conto e um romance?
Tenho uma experiência
maior em escrever contos e só recentemente me aventurei nos romances. De um
ponto de vista bastante pragmático, escrever um romance demanda uma rotina
diferente, é necessário estar concentrado na estória por um período mais longo
e de forma mais intensa, ao menos essa foi a minha experiência. A narrativa
curta, em geral, ou se resolve rapidamente ou pode ser deixada de lado e
retomada sempre que possível sem a necessidade de um tempo excessivo de
trabalho. Do ponto de vista de temática, porém, não vejo diferenças que sejam
significativas.
6 - Como surgiu a
ideia, e em que se inspirou, para a construção de Pigarreios?
O “Pigarreios”, na realidade, nasceu como um conto que eu escrevi de
forma inesperadamente rápida. Apesar de estar satisfeito com ele do ponto de
vista formal, senti que a estória poderia ter uma outra leitura se eu
desenvolvesse mais os personagens intercalando outras possíveis estórias.
Apesar das ideias centrais do conto inicial estarem preservadas no romance,
acredito que consegui desenvolver melhor o enredo nessa, digamos assim, versão
estendida.
7 - Quais as maiores
dificuldades que encontrou ao escrever este romance?
É o meu primeiro
romance e a dificuldade maior foi manter o fôlego de uma escrita mais longa
vista a minha experiência com narrativas curtas. Fiquei, ao final, muito
satisfeito com o resultado.
8 - Que mensagens
procura transmitir com este trabalho?
Não sei se poderia
chamar de mensagens, nunca penso nesses termos quando escrevo, mas algo que
permeia a estória de “Pigarreios” é o
fato de poder haver múltiplas versões para um mesmo evento a depender de como
se olha e de seus interesses nele.
9 - As estórias que
ficaram em suspenso ao longo de Pigarreios são prenúncio de continuidade?
Não, não penso em
continuidade. O que ficou em suspenso é tarefa do leitor ajustar, completar e
talvez até decidir por qual versão implícita do texto ele se identifica mais.
Qualquer coisa que eu escrevesse a mais sobre a estória narrada lá mataria um
pouco o que tive em mente ao escrever.
10 - Que mais podem os
leitores esperar do autor Flávio Ulhoa Coelho?
Bom, sigo no meu blog
semanal (asquintasfeiras.blogpost.com) até quando o meu fôlego aguentar.
Demorei um pouco para começá-lo pois queria que ele tivesse essa continuidade
rotineira, toda quinta-feira um novo texto. E lá se vão mais de três anos e
meio e sigo firme. Além disso, tenho trabalhado em contos que não pretendo
publicar lá por conta da proposta do blog (crônicas, tentativas de poemas e
contos curtos, alguns até republicações de contos de livros esgotados no
mercado) e também em novos romances. No momento estou trabalhando em um romance
que espero terminar em breve. Ah! e também estou trabalhando em textos para o
público infanto-juvenil, pois gostei muito de minha experiência recente para
essas faixas etárias, principalmente com o livro “Guarda-Trecos”.
Podem acompanhar o autor neste link
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O autor estará a autografar o seu livro PIGARREIOS, no próximo dia 29 de Novembro, na Fnac do Gaia Shopping. Apareçam!
ASSESSORIA LITERÁRIA IN-FINITA
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