segunda-feira, 12 de novembro de 2018

IN-FINITA APRESENTA... - MAR INTERIOR

PARA SE FALAR DE UM AUTOR E UM LIVRO, NADA MELHOR QUE A PRIMEIRA IMPRESSÃO. EIS O PREFÁCIO, ESCRITO POR TITO LÍVIO, PARA
O LIVRO MAR INTERIOR, DE SUSANA PIRES

“Sou um simples véu numa encosta à beira mar“

Eis a bela definição de Susana Pires no seu poema/biografia breve, mas impactante e tão vera para quem a conhece, e privou, com ela de perto, a aprendeu a ler, no dia-a-dia, na sua ternura, na sua bonita feminilidade, na dádiva de uma profissão exigente, no seu carinho junto dos amigos, como mulher plena de afectos que é.

Neste seu primeiro Livro de Poesia, “Mar Interior” ela entrega-se-nos, desvenda-se, de corpo inteiro, numa poesia lírica, confessional e intimista, em que a presença da água, elemento feminino por excelência, é omnipresente. Daí este título de “Mar Interior”, mar sempre vizinho e companheiro permanente na paisagem que habita desde menina, marés com o seu fluxo e refluxo constante e a sua ligação às Luas, outro elemento bem feminino, enchente e vazante, como aliás acontece na vida de cada um de nós. Até nas surpresas que as ondas altaneiras fazem, chegar, inesperadamente à praia.

“Apareceste
 Amo-te assim sem sono
 nem acordes no tempo “

Depois do cansaço das rotinas e da espera, um corpo que renasce e se transforma e revive nas mãos, nos braços do homem amado, nos seus beijos e carícias há tanto desejados. Uma poesia erótica, carnal, mas sempre púdica, às vezes indizível, porque nem todas as emoções e sentimentos encontram expressão nas palavras justas. Porque elas só se encontram plenas na linguagem dos corpos dos amantes.

"Meu amor/não anuncies o zumbido/dos nossos pulsos - quando voltares".

E depois há o anúncio da festa dos corpos e do seu maravilhoso encontro, a mulher na vertigem/vórtice das sensações:

"Deixa-me beijar a noite"...

A mulher sedutora, a mulher que sabe surpreender e capaz de ser surpreendida, de captivar e enlear o amante.

“Ele achou-a louca... só para saborear como homem todo o seu Ser“

A projecção dos sentimentos pessoais na paisagem circundante e cúmplice. Porque no coração, e no corpo/ brotaram, numa nova Primavera, flores e frutos.

"Despertarei os teus jardins/até que as árvores soprem de felicidade"

Mas Susana Pires encontra de, de facto, no AMOR, por vezes, a magia exacta das palavras porque é uma Poesia que vem do mais fundo e secreto de si mesma como se nos quisesse envolver, a todos, nesse halo, momentos de felicidade total e pura.

"E foi assim/quando aquele beijo/foi devolvido/como a transparência/da gota de orvalho/pena que esvoaça do ninho".

Feiticeira apaixonada, ela dança e rodopia e canta, e diz, diz-nos, transmitindo a sua enorme plenitude de mulher.

"Danço que nem bailarina/Meu corpo reluz/sobre o grito que desprendes/pérola do meu sonho/feiticeira sou".

Mas a autora começa por viajar até à infância e a uma juventude serena, feliz, calma tranquila, sempre com a eterna presença do Mar e das Marés como fundo propiciatório. E sempre "com os olhos assoberbados da infância".

Finalmente a surpresa de alguns poemas de uma poesia gráfica, no tamanho variável de certos versos, no isolar de algumas palavras mais importantes, no jogo das maiúsculas quando se quer destacar algo mais importante, aviso ao leitor como sinais de um caminho acidental, desigual, mas de final seguro.

Minha querida Susana, o teu livro surpreendeu-me, e adoro quando os amigos/as me conseguem surpreender pela positiva. E há um contacto nas nossas Poesias que amei: esse lado erótico que consegues exprimir de uma forma muito bela, inteira, mas sempre púdica, porque, como dizia o meu Mestre José Régio: "coisas que terei pudor de contar seja a quem for..."

“E se puderes, sê uma águia de asas abertas e um pardal que ninguém nem nada consegue prender porque nasceu, e quer morrer, livre e liberto"

Ou, como tão bem, exprimes:

"Já não quero ser gente /mas pássaro/ter asas de águia/bico de colibri/frescura de andorinha/voar por entre os verdejantes das colinas/percorrer o mar"

Porque o Mundo há que conquistá-lo, está aqui à nossa espera e tu nunca poderás felizmente ser um dolorido "pássaro de asas cortadas".

O teu Amigo e admirador:

Tito Lívio

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