PARA SE FALAR DE UM AUTOR E UM LIVRO, NADA MELHOR QUE A PRIMEIRA IMPRESSÃO. EIS O PREFÁCIO, ESCRITO POR TITO LÍVIO, PARA
O LIVRO MAR INTERIOR, DE SUSANA PIRES
“Sou
um simples véu numa encosta à beira mar“
Eis
a bela definição de Susana Pires no seu poema/biografia breve, mas impactante e
tão vera para quem a conhece, e privou, com ela de perto, a aprendeu a ler, no
dia-a-dia, na sua ternura, na sua bonita feminilidade, na dádiva de uma
profissão exigente, no seu carinho junto dos amigos, como mulher plena de
afectos que é.
Neste
seu primeiro Livro de Poesia, “Mar Interior” ela entrega-se-nos,
desvenda-se, de corpo inteiro, numa poesia lírica, confessional e intimista, em
que a presença da água, elemento feminino por excelência, é omnipresente. Daí este
título de “Mar Interior”, mar sempre vizinho e companheiro permanente na
paisagem que habita desde menina, marés com o seu fluxo e refluxo constante e a
sua ligação às Luas, outro elemento bem feminino, enchente e vazante, como
aliás acontece na vida de cada um de nós. Até nas surpresas que as ondas
altaneiras fazem, chegar, inesperadamente à praia.
“Apareceste
Amo-te assim sem sono
nem acordes no tempo “
Depois
do cansaço das rotinas e da espera, um corpo que renasce e se transforma e
revive nas mãos, nos braços do homem amado, nos seus beijos e carícias há tanto
desejados. Uma poesia erótica, carnal, mas sempre púdica, às vezes indizível,
porque nem todas as emoções e sentimentos encontram expressão nas palavras
justas. Porque elas só se encontram plenas na linguagem dos corpos dos amantes.
"Meu
amor/não anuncies o zumbido/dos nossos pulsos - quando voltares".
E
depois há o anúncio da festa dos corpos e do seu maravilhoso encontro, a mulher
na vertigem/vórtice das sensações:
"Deixa-me
beijar a noite"...
A
mulher sedutora, a mulher que sabe surpreender e capaz de ser surpreendida, de
captivar e enlear o amante.
“Ele
achou-a louca... só para saborear como homem todo o seu Ser“
A
projecção dos sentimentos pessoais na paisagem circundante e cúmplice. Porque
no coração, e no corpo/ brotaram, numa nova Primavera, flores e frutos.
"Despertarei
os teus jardins/até que as árvores soprem de felicidade"
Mas
Susana Pires encontra de, de facto, no AMOR, por vezes, a magia exacta das
palavras porque é uma Poesia que vem do mais fundo e secreto de si mesma como
se nos quisesse envolver, a todos, nesse halo, momentos de felicidade total e
pura.
"E
foi assim/quando aquele beijo/foi devolvido/como a transparência/da gota de
orvalho/pena que esvoaça do ninho".
Feiticeira
apaixonada, ela dança e rodopia e canta, e diz, diz-nos, transmitindo a sua
enorme plenitude de mulher.
"Danço
que nem bailarina/Meu corpo reluz/sobre o grito que desprendes/pérola do meu
sonho/feiticeira sou".
Mas
a autora começa por viajar até à infância e a uma juventude serena, feliz,
calma tranquila, sempre com a eterna presença do Mar e das Marés como fundo
propiciatório. E sempre "com os olhos assoberbados da
infância".
Finalmente
a surpresa de alguns poemas de uma poesia gráfica, no tamanho variável de
certos versos, no isolar de algumas palavras mais importantes, no jogo das
maiúsculas quando se quer destacar algo mais importante, aviso ao leitor como sinais
de um caminho acidental, desigual, mas de final seguro.
Minha
querida Susana, o teu livro surpreendeu-me, e adoro quando os amigos/as me
conseguem surpreender pela positiva. E há um contacto nas nossas Poesias que
amei: esse lado erótico que consegues exprimir de uma forma muito bela,
inteira, mas sempre púdica, porque, como dizia o meu Mestre José Régio:
"coisas que terei pudor de contar seja a quem for..."
“E
se puderes, sê uma águia de asas abertas e um pardal que ninguém nem nada
consegue prender porque nasceu, e quer morrer, livre e liberto"
Ou,
como tão bem, exprimes:
"Já
não quero ser gente /mas pássaro/ter asas de águia/bico de colibri/frescura de
andorinha/voar por entre os verdejantes das colinas/percorrer o mar"
Porque
o Mundo há que conquistá-lo, está aqui à nossa espera e tu nunca poderás
felizmente ser um dolorido "pássaro de asas cortadas".
O
teu Amigo e admirador:
Tito
Lívio
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