sábado, 3 de novembro de 2018

DEZ PERGUNTAS A... RAMON MEDEIROS

Agradecemos ao autor RAMON MEDEIROS a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autor e pessoa?

Enquanto autor: simples, que prefere a rusticidade ao artificial e se encanta com as paisagens naturais e formas de vida existentes no Nordeste brasileiro, sobretudo, do sertão; enquanto pessoa: humilde, pacato, sentimentalista, romântico, defensor da cultura nordestina.

2 - Quais as influências do Nordeste na sua escrita?

Mariana Teles, Patativa do Assaré, Os Nonatos e Bráulio Bessa.

3 - O que lhe motiva a escrever? E por que a poesia?

Dar vida aos acontecimentos mais simples do cotidiano do povo nordestino; transformar sentimentos e ficção em realidade. Por ser um dom divino e a forma mais bela da expressão da arte.

4 - Que barreiras existem no seu percurso como autor?

Falta de espaço para a divulgação do trabalho autoral e da poesia como um todo; falta de incentivo em cultura e educação por parte dos poderes públicos; desconhecimento e desvalorização por parte da sociedade, principalmente para com os artistas locais.

5 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

Assumem papel de fundamental importância, pois a partir das referidas mídias é possível atingir públicos diversos, uma vez que as mesmas estão cada vez mais acessíveis e com maior potencial de alcance, permitindo assim, a interação e o compartilhamento de distintas formas (escrita e audiovisuais) do conteúdo produzido. Graças as essas ferramentas consegui(o) chegar a lugares e pessoas que sem o auxílio das mesmas seria impossível.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Positivos: incentivo a leitura; exercício da linguagem verbal e suas normas; produção física ou digital do conteúdo (livro, cordel, revista, etc.);
Negativos: falta de interesse em leitura por parte da sociedade; restrição quanto ao alcance e acesso ao conteúdo; pouca valorização da escrita; dificuldades para publicação, principalmente quanto aos altos custos, entre outros.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Propagação do seu trabalho através de: inclusão em programações de eventos; valorização e respeito a sua cultura; espaço nos meios de comunicação mais acessíveis (rádio, TV, internet, jornais, revistas, etc.), entre outras.

8 - O que tem feito, enquanto autor, para o enriquecimento da literatura nordestina?

Tenho dois livros publicados no segmento poesia popular (literatura de cordel): Simplicidade Poética (2015) e Simplesmente Eu (2018); participação em sete coletâneas de poesias, sendo estas: Relíquias da Cantoria; IV e V edições do Festival Vamos Fazer Poesia; Romance do Nosso Amor; O que é Poesia? Centenário do Poeta Furiba: a lenda viva da viola e Antologia Ecos do Nordeste; defendo e propago a poesia popular em eventos culturais, sociais e religiosos, programas de rádio e televisão; ministro oficinas e palestras de literatura de cordel.

9 - Sugira um autor e um livro do Nordeste!

Patativa do Assaré – Inspiração Nordestina

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Na sua opinião, no Nordeste a poesia popular tem o espaço e a valorização que merece?

Não! A poesia popular, seja ela escrita ou de improviso, literatura de cordel ou cantoria de violas, respectivamente, é bastante conhecida, divulgada e praticada no Nordeste brasileiro, mas ainda estar longe de ter o espaço, o respeito e a valorização que merece. Basta olharmos as programações das Tv’s e rádios ou até mesmo dos grandes eventos locais e regionais para percebermos que quando existe espaço para a expressão da arte em questão, este é mínimo. Muito tem sido feito e conquistado, porém, ainda existe uma enorme lacuna a ser preenchida para com a raiz cultural da nossa região.

Como conquistas cito: o recente reconhecimento do cordel como patrimônio cultural do Brasil; a inclusão da literatura de cordel na grade curricular em escolas de alguns munícipios nordestinos; o espaço que o poeta cearense Bráulio Bessa tem semanalmente numa emissora de Tv de alcance internacional; os programas de cantoria de violas (diários ou semanais) em emissoras de rádio, principalmente no interior nordestino; o grande alcance que a poesia ganhou com as novas tecnologias e meios de comunicação, entre outros.

Mas, para notarmos o débito para com poesia e principalmente para com os artistas que a carregam sobre os ombros, basta observarmos as programações dos festejos juninos, época do ano em que a cultura nordestina ganha destaque nacional e internacional e a poesia quase não tem espaço nos grandes eventos. Pagam-se altos cachês à artistas (em muitos casos externos a nossa cultura) que na maioria das vezes trazem em seus repertórios conteúdos que deturpam os nossos valores culturais e princípios como a moral e o respeito, e baixíssimas quantias aos artistas locais (poetas e trios pé-de-serra). Outro exemplo é a lei Rouanet, “principal mecanismo de fomento à cultura do país”, que tem como objetivo “disponibilizar recursos para a realização de projetos artísticos-culturais”. Através desta lei, artistas já consagrados nacional e internacionalmente conseguem milhares e até milhões de reais para financiarem seus projetos, enquanto que artistas e instituições de menor expressão, principalmente os que defendem as raízes culturais do Nordeste, têm dificuldades absurdas para conseguir apoio da referida lei. É importante ressaltar também o poder da sociedade, que muitas vezes fomenta artistas dos mais distintos estilos e não incentiva nem prestigia os valores culturais da região.

Quer constatar a veracidade do que ora escrevo? Tente realizar um festival de violas ou um sarau poético em praça pública com o apoio dos poderes públicos? Tente publicar uma obra no segmento cultural poesia popular (cordel, livro, revista, documentário, etc.)? Tente conseguir um horário “nobre” em programas de rádio ou TV para divulgar a poesia?...

Por fim, concluo reafirmando e reconhecendo que muito já foi feito, porém, muito mais precisa-se fazer!

Iniciativas como essa da IN-FINITA BRASIL, de levar a poesia popular para além das fronteiras do país, além de louvável precisam ser copiadas!

Acompanhe este e outros autores nordestinos neste link

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