Agradecemos à autora ROSÁRIO PEDROSO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1. Como se define enquanto autora e pessoa?
O
ato de escrever faz parte da minha forma de me relacionar com o mundo, o meu e
o dos outros. Tornou-se uma forma de sobrevivência, num mundo que pede
constantemente a racionalização, o autocontrolo, o politicamente correto, a
poesia aparece como uma forma de perscrutar o que sinto, o que trago de
dignidade, honra e humanidade. Escrever poesia é uma luta política pela
dignidade humana.
2.O que a inspira?
Tenho um poema sobre esse
assunto.
O que me inspira
O que me inspira é a viagem
inacabada
em torno do frenesi civilizacional.
Transporta-me a uma obscura mágoa
entre tonturas de veleiros sob o
sol contínuo
no granito rosa das pedreiras.
Tinge de seda a roda-viva de gente
pelos portos
sofreguidão insaturável do que
somos
fluxo de nevoeiros no percurso
ermo.
O que me inspira? O caminho para a
gruta
de Calipso na colina prolixa.
Sempre o caminho…
desloca anelante um afã de templos
e vulcões
subleva gestos confusos
presos em vertigens de peixes em
voo.
Muda atalhos que apenas o corpo
trilha.
Coleciona ímpetos de tristeza na
tua voz
fontes secas, o real algoz.
O que me inspira? Partirem-se
exíguos
mediterrânicos laços dos planaltos
sedentos
porque a dor inventa as vidas,
desliza-as pelas feridas.
O caule do deserto leva-te de mim.
Escuto do saltério um canto
rompente de luz
relato de terras sôfregas, muralhas
intocáveis.
Quimeras em matagais de calcário,
refúgio franco!
Baías inquietadas da Ásia Menor!
Em cima de um silêncio voraz
caminho.
3. Existem tabus na sua escrita?
Porquê?
Não existem tabus na minha
escrita.
O
gosto pela poesia aprendi-o na escola e tornou-se uma forma de pensar as
ausências, a morte, o amor, as utopias, o abandono, a fome, a guerra, a
emigração, a Europa, o ambiente, e até
um certo romantismo da minha geração.
4. Que importância dá às
antologias e coletâneas?
São uma forma de mostrar o nosso trabalho, de conhecer quem
está a escrever no momento e um incentivo para publicar também a solo.
5. Que impacto têm as redes
sociais no seu percurso?
São muito importantes para divulgar o nosso
trabalho e os grupos de poetas e saraus têm sido um estímulo.
6. Quais os pontos positivos e
negativos da escrita?
A escrita é um espaço de encontro
comigo, com os outros, com a realidade, apesar de transfigurada.
7. O que acredita ser essencial
na divulgação de um autor?
Parece-me fundamental a
divulgação de autores nas rádios, televisões, feiras de livros e ter as obras à
venda nas livrarias.
8. Quais os projetos para o
futuro?
Estou a organizar uma nova obra
poética para ser publicada em 2019: flashes,
sombras e emoções transfiguradas por palavras e imagens.
9. Sugira um autor e um livro!
“Última Ciência” de Herberto
Helder
10. Qual a pergunta que gostaria
que lhe fizessem? E como responderia?
Gostaria de falar dos livros já publicados, independentemente
da minha vasta participação em antologias.
Publiquei com dezanove anos o livro de poesia
“POR UMA HORA NÃO VALE A PENA”, Edição do autor, tenho uma outra obra poética
de 2016 “EXTRAMUROS,ESPAÇOS E TEMPOS HABITÁVEIS”, Pastelaria Studios.
Escrevo
sobre o vivido e as poeiras do não realizado na busca de um diálogo afetivo que
afaste as sombras da época, do quotidiano rude e traga sol amigo. Gostaria que
houvesse mais sonho e outros caminhos!!!
Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link
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