quarta-feira, 11 de julho de 2018

DEZ PERGUNTAS A... ROSÁRIO PEDROSO


Agradecemos à autora ROSÁRIO PEDROSO a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1. Como se define enquanto autora e pessoa?

O ato de escrever faz parte da minha forma de me relacionar com o mundo, o meu e o dos outros. Tornou-se uma forma de sobrevivência, num mundo que pede constantemente a racionalização, o autocontrolo, o politicamente correto, a poesia aparece como uma forma de perscrutar o que sinto, o que trago de dignidade, honra e humanidade. Escrever poesia é uma luta política pela dignidade humana.

2.O que a inspira?

Tenho um poema sobre esse assunto.

O que me inspira

O que me inspira é a viagem inacabada
em torno do frenesi civilizacional.
Transporta-me a uma obscura mágoa
entre tonturas de veleiros sob o sol contínuo
no granito rosa das pedreiras.
Tinge de seda a roda-viva de gente pelos portos
sofreguidão insaturável do que somos
fluxo de nevoeiros no percurso ermo.
O que me inspira? O caminho para a gruta
de Calipso na colina prolixa.
Sempre o caminho…
desloca anelante um afã de templos e vulcões
subleva gestos confusos
presos em vertigens de peixes em voo.
Muda atalhos que apenas o corpo trilha.
Coleciona ímpetos de tristeza na tua voz
fontes secas, o real algoz.
O que me inspira? Partirem-se exíguos
mediterrânicos laços dos planaltos sedentos
porque a dor inventa as vidas, desliza-as pelas feridas.
O caule do deserto leva-te de mim.
Escuto do saltério um canto rompente de luz
relato de terras sôfregas, muralhas intocáveis.
Quimeras em matagais de calcário, refúgio franco!
Baías inquietadas da Ásia Menor!
Em cima de um silêncio voraz caminho.

3. Existem tabus na sua escrita? Porquê?

Não existem tabus na minha escrita.
O gosto pela poesia aprendi-o na escola e tornou-se uma forma de pensar as ausências, a morte, o amor, as utopias, o abandono, a fome, a guerra, a emigração,  a Europa, o ambiente, e até um certo romantismo da minha geração.

4. Que importância dá às antologias e coletâneas?

São uma forma de mostrar o nosso trabalho, de conhecer quem está a escrever no momento e um incentivo para publicar também a solo.

5. Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

São muito importantes para divulgar o nosso trabalho e os grupos de poetas e saraus têm sido um estímulo.

6. Quais os pontos positivos e negativos da escrita?

A escrita é um espaço de encontro comigo, com os outros, com a realidade, apesar de transfigurada.

7. O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Parece-me fundamental a divulgação de autores nas rádios, televisões, feiras de livros e ter as obras à venda nas livrarias.

8. Quais os projetos para o futuro?

Estou a organizar uma nova obra poética para ser publicada em 2019: flashes, sombras e emoções transfiguradas por palavras e imagens.

9. Sugira um autor e um livro!

“Última Ciência” de Herberto Helder

10. Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Gostaria de falar dos livros já publicados, independentemente da minha vasta participação em antologias.

Publiquei com dezanove anos o livro de poesia “POR UMA HORA NÃO VALE A PENA”, Edição do autor, tenho uma outra obra poética de 2016 “EXTRAMUROS,ESPAÇOS E TEMPOS HABITÁVEIS”, Pastelaria Studios.
Escrevo sobre o vivido e as poeiras do não realizado na busca de um diálogo afetivo que afaste as sombras da época, do quotidiano rude e traga sol amigo. Gostaria que houvesse mais sonho e outros caminhos!!!

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

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