Naquela
época em que não existiam as redes sociais e o disse-me-disse limitava-se
apenas aos vizinhos e círculo de amigos, acho que vivíamos com mais
tranquilidade e simplicidade na forma de estar. Mas o tempo e o progresso não
perdoam e aqui estamos na era digital, propagando o bem e o mal, a verdade e não
verdade e ultrapassando todos os limites da boa conduta, diplomacia e educação.
Todos somos críticos, analistas, comentadores e perturbadores da paz alheia.
Basta uma postagem no facebook e opiniões se dividem, palavras se inflamam,
discussões viram quase uma guerra fria. O que era para ser apenas uma opinião
pessoal, dissemina-se de uma tal forma, que questiono, entre os meus botões, o
que se ganha com isso? Atenção por alguns segundos? Alguma qualificação?
Fiquei
estarrecida dias atrás, com a atitude de uma senhora, falando em Propriedade
Intelectual, levantando a bandeira de que autores palestrantes não deveria
aceitar a participação em eventos sem remuneração, e nem um pouco solidária com
o trabalho, boa intenção e desgaste alheio, e nessa fração do tempo, movimentou
por algumas horas mais de cem pessoas em torno de suas afirmativas e
observações irônicas, sarcásticas e nada contributivas.
Saí
do meu país e atravessei o oceano para perceber que quando o assunto é literatura,
poesia, cultura, estamos com as mesmas dificuldades em conseguir patrocínios
para realizar eventos, feiras, festivais, encontros, enfim… não há dinheiro
para o fomento e divulgação, principalmente da Poesia. Nós, os corajosos que
acreditamos e criamos essas movimentações literárias, sabemos o quanto é
desgastante e desafiante fazer acontecer. Contamos com o apoio, a boa vontade,
a simpatia e o desejo de agregar e contribuir, de um espaço, de um palestrante,
de profissionais que abracem a causa, pois se pensarmos em retorno financeiro,
a maior parte dos eventos não aconteceria.
Por
isso, em resposta a essa senhora, que foi convidada por mim, indicada por uma
pessoa de extrema reputação e conceituadíssima no mercado literário, e ao negar
a participação em um evento que apoio
e visto a camisa pela iniciativa, não satisfeita em se limitar a negativa, tentou
denegrir o trabalho alheio. Se conhecesse a realizadora e todo o talento,
entusiasmo e ideal nos seus vinte e um anos, ficaria em silêncio, remoendo seus
pensamentos sem atacar da forma injusta como o fez, sem direito a resposta. Apenas
lamento a pobreza de espírito. E
celebro a arte dos encontros e agradeço imensamente a tantos autores que ainda
acreditam que o dinheiro e o reconhecimento sempre chegam por outras vias, para
quem tem talento, competência e arte, e que podem contribuir de acordo com suas
agendas e disponibilidade, participando desses eventos que tanto enriquecem e
divulgam a nossa língua portuguesa.
E
quanto à propriedade intelectual, acho que se temos algo de bom para contribuir
com a arte ou a cultura, não devemos comercializá-lo em troca de moeda. Todos
nós precisamos de dinheiro para viver e, para a grande maioria, é através do trabalho e das
nossas competências. Tudo na vida tem um preço e cada um tem um objetivo e uma
forma de ser e estar. Concordo que todos os trabalhos deveriam ser remunerados,
mas existem diversas formas de contrapartida e possibilidades de um retorno
pelo tempo despendido, pelo talento e obra, se não puder ser financeiro, sempre
há ganhos e realização pessoal, de uma forma ou de outra. O importante é
divulgar o que enaltece e não denegrir e subestimar o trabalho, ideal e esforço
daqueles que apesar de todas as dificuldades, conseguem realizar.
Não
entrei na discussão, resolvi escrever esse texto.
E
é claro, fui bloqueada.
DRIKKA INQUIT
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