terça-feira, 10 de julho de 2018

ADRIANA FALA DE... O OUTRO LADO DA MOEDA



Naquela época em que não existiam as redes sociais e o disse-me-disse limitava-se apenas aos vizinhos e círculo de amigos, acho que vivíamos com mais tranquilidade e simplicidade na forma de estar. Mas o tempo e o progresso não perdoam e aqui estamos na era digital, propagando o bem e o mal, a verdade e não verdade e ultrapassando todos os limites da boa conduta, diplomacia e educação. Todos somos críticos, analistas, comentadores e perturbadores da paz alheia. Basta uma postagem no facebook e opiniões se dividem, palavras se inflamam, discussões viram quase uma guerra fria. O que era para ser apenas uma opinião pessoal, dissemina-se de uma tal forma, que questiono, entre os meus botões, o que se ganha com isso? Atenção por alguns segundos? Alguma qualificação?

Fiquei estarrecida dias atrás, com a atitude de uma senhora, falando em Propriedade Intelectual, levantando a bandeira de que autores palestrantes não deveria aceitar a participação em eventos sem remuneração, e nem um pouco solidária com o trabalho, boa intenção e desgaste alheio, e nessa fração do tempo, movimentou por algumas horas mais de cem pessoas em torno de suas afirmativas e observações irônicas, sarcásticas e nada contributivas.

Saí do meu país e atravessei o oceano para perceber que quando o assunto é literatura, poesia, cultura, estamos com as mesmas dificuldades em conseguir patrocínios para realizar eventos, feiras, festivais, encontros, enfim… não há dinheiro para o fomento e divulgação, principalmente da Poesia. Nós, os corajosos que acreditamos e criamos essas movimentações literárias, sabemos o quanto é desgastante e desafiante fazer acontecer. Contamos com o apoio, a boa vontade, a simpatia e o desejo de agregar e contribuir, de um espaço, de um palestrante, de profissionais que abracem a causa, pois se pensarmos em retorno financeiro, a maior parte dos eventos não aconteceria.

Por isso, em resposta a essa senhora, que foi convidada por mim, indicada por uma pessoa de extrema reputação e conceituadíssima no mercado literário, e ao negar a participação em um evento que apoio e visto a camisa pela iniciativa, não satisfeita em se limitar a negativa, tentou denegrir o trabalho alheio. Se conhecesse a realizadora e todo o talento, entusiasmo e ideal nos seus vinte e um anos, ficaria em silêncio, remoendo seus pensamentos sem atacar da forma injusta como o fez, sem direito a resposta. Apenas lamento a pobreza de espírito. E celebro a arte dos encontros e agradeço imensamente a tantos autores que ainda acreditam que o dinheiro e o reconhecimento sempre chegam por outras vias, para quem tem talento, competência e arte, e que podem contribuir de acordo com suas agendas e disponibilidade, participando desses eventos que tanto enriquecem e divulgam a nossa língua portuguesa.

E quanto à propriedade intelectual, acho que se temos algo de bom para contribuir com a arte ou a cultura, não devemos comercializá-lo em troca de moeda. Todos nós precisamos de dinheiro para viver e, para a  grande maioria, é através do trabalho e das nossas competências. Tudo na vida tem um preço e cada um tem um objetivo e uma forma de ser e estar. Concordo que todos os trabalhos deveriam ser remunerados, mas existem diversas formas de contrapartida e possibilidades de um retorno pelo tempo despendido, pelo talento e obra, se não puder ser financeiro, sempre há ganhos e realização pessoal, de uma forma ou de outra. O importante é divulgar o que enaltece e não denegrir e subestimar o trabalho, ideal e esforço daqueles que apesar de todas as dificuldades, conseguem realizar.

Não entrei na discussão, resolvi escrever esse texto.

E é claro, fui bloqueada.

DRIKKA INQUIT

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