Agradecemos à autora SÍLVIA SCHMIDT a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se
define enquanto autora e pessoa?
Uma cidadã hoje mergulhada no caos- no universal - em
conexão com o internacional e regional. Sinto-me parte do todo no todo. Uma
miríade. A obra a materialidade por onde esta consciência transcende da autora
que se cria. Sou linguagem e línguas
dentro do conceito - escreviver - já usado por Clarice Lispector e o poeta gaúcho
Carlos Nejar. Não há separação.
2 - O que a inspira?
Estas
possibilidades quânticas, a vida em si – como disse Osho – “uma oportunidade” e
Guatari e Deleuze na Filosofia “o devir”. Estas aberturas para o novo o
surpreendente. Um barco jogado ao mar enquanto Língua por Saussure em seus
estudos em linguística geral.
3 - Existem
tabus na sua escrita? Porquê?
Não, muito
pelo contrário se somos este emaranhado de possibilidades – se estou na vida
para o encontro não posso colocar barreiras entre o que estou sendo, penso e
faço. Isso não quer dizer que não tenha meus limites, senso crítico e claro
ética. Mas tabu no sentido de preconceitos e ou moralidades excludentes não.
4 - Que
importância dá às antologias e colectâneas?
Muita!
Penso que com o mercado editorial sectarizado e recrudescido cada dia mais
precisamos nos unir. Numa coletânea nós escritores em diferentes gêneros
literários podemos dialogar, mostrar e revelar novos escritos. Nem sempre
possível em uma obra pelo valor que isso significa assim como a dificuldade de
encontrarmos o leitor a livraria que a recebam. Devemos organizar mais
coletâneas, e se possível com temas , com intenções para que elas ganhem força.
Resenhar, criticar – pensar o encontro dos selecionados. Importante critério na
seleção sem o qual as mesmas podem cair em descaso. Isso é papel importante de
curadoria - que precisa além do trabalho gráfico editorial saber selecionar
escritores pautados em crítica literária. Dar harmonia entre os escolhidos,
instigar o exercício da escrita enquanto experiência com a matéria prima da
Literatura a palavra e distribui-las a em eventos tais como saraus, feiras de
livros, festas, bibliotecas. Vejo vocês realizar isso. Fico muito grata.
5 -
Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?
Há dois momentos no surgimento da web na minha escrita. Ao estar na
vida, nestas tantas viagens entre diferentes países, fora de ordem e fora de
casa, a internet me conectou sim com os amigos da estrada, com a família e
claro com o leitor. Foi sensacional estar ali junto de tantos que inclusive se
tornaram vozes em personagens quando neles encontrei originalidade. Para
divulgar meus escritos, lançamentos foi essencial. Há muitos sites que há anos
permitem o encontro em salas de modo online e ao vivo. O lançamento de meu
primeiro romance - 2014 - Duty Free - foi realizado assim em museus e bibliotecas e
com sala virtual cheia, o que não ocorre hoje em encontros presenciais
infelizmente. Realizei um que será marco em meu processo - Biblioteca Nacional
no Rio de Janeiro. Fiz para compreender e mostrar os passos de catalogação de
uma obra: o ISBN - Catalogação, Direitos autorais - o arquivo legal. Enfim os
passos para legitimar a obra oficialmente. Segue link abaixo.
Por outro
lado, estar disponível demais no meio virtual tira do leitor por vezes a
curiosidade de encontros presenciais e mesmo a leitura da obra. Pequenos
trechos os satisfazem e isso torna o processo desistimulante para quem escreve.
Surgem críticos dispostos a tirar onda com sua pequena e ainda insignificante
parcela de trabalhos, obras ainda não lançadas. Ao expormos estes pequenos
arroubos de iniciantes, por vezes impensadamente – queimamos etapas - e
curadores de prêmios significativos exigem ineditismo. Somos artistas sempre
exigidos e quase nada lembrados.
6 - Quais
os pontos positivos e negativos do universo da escrita?
A demora por correspondências – que sejam os leitores,
os prêmios, os convites às mesas e debates às coletâneas e resenhas com certeza
é o lado negativo da arte literária. Há estudos em letras contemporâneas
riquíssimos que vamos ter acesso muitos anos depois de anunciados, estamos
sempre atrasados no tempo criativo em relação ao expositivo. Uma lástima. Eu
pessoalmente corro para não perder este delay
– deste vácuo e isso cansa também por demais. Para estarmos no meio crítico
criativo há de se fazer investimentos em viagens para estes debates, congressos,
festas literárias, a compra dos livros. O tempo de leitura dos escolhidos. Recém descobri um marco histórico da
literatura latinoamericana e estou há meses procurando torná-la conhecida e
reconhecida no meio. Num primeiro momento desconfiam – o que te afasta ainda
mais da sua intenção genuína, depois te esquecem para que não crie cama nem
fama entre os famosos. Não é fácil e exige responsabilidade inclusive no que
tange o campo do conhecimento. Não é nada gratuito muito menos glamoroso. É trabalho
não remunerado.
Penso no
entanto que o lado positivo é este universo criativo de possibilidades mil que
me alimenta intelectual e espiritualmente. Uma estrada com pedras de pontas
afiadas, mas que temos que saber esperar, trocar e confiar. Do campo do
conhecimento a Literatura é das trocas simbólicas a mais exigente e isso nos
faz redimensionar o olhar, a postura com as diferenças ter posição crítica e
política. Como comentei lá em cima estou absolutamente imersa. Algo sairá deste
caldo de estrelas e entrelinhas - espero.
7 - O que
acredita ser essencial na divulgação de um autor?
Estudos
críticos e para isso um profissional da area. Sou formada em Letras, e nem
sempre reconhecida como uma profissional. Podemos não ter talento mas na hora
de uma resposta em teoria, crítica (acadêmica e criativa) ou em debates o
profissional precisa ser chamado. Nem sempre quem tem apenas talento,
criatividade com a escrita tem as condições para circusncrever o objeto ali
exposto. Posicioná-lo no tempo no espaço em sua originalidade em referências
históricas é super importante para dar-lhe legitimidade. Enfim teoria e prática
nem sempre andam juntas. O curador precisa deles e deve dar ao devido respeito
ao procurar um profissional que experiente em estudos literários para aí então
divulgá-los.
8 - Quais
os projectos para o futuro?
Hoje depois de 16 anos na sala de aula como professora de Literatura
e 18 anos na estrada, como disse
escrevivendo, preciso de um lugar silencioso para descansar. Na verdade
editar-me. Preferi eu mesma editar-me através do selo Símbol@Digital sob minha
concepção. As mulheres em especial estão a elaborar seus escritos, suas obras
porque perceberam em tempo que o mercado lhe é fechado. No Brasil estudos
provam que é machista elitista e excludente. Esperar mais o quê se isso já esta
definido por estudos seríssimos. então mãos “às obras”. Tenho pelo menos cinco
livros no prelo e isso significa - orelha de capa, designer, lançamento,
divulgação, vendas a parte mais complicada do processo penso eu. Ainda assim
estou confiante e faço o que é preciso - com muita rotina.
Ah mas a necessidade do silêncio hoje é urgente.
9 - Sugira
um autor e um livro!
Um e um?
Quase impossível. Penso sempre em conjunto da obra.
José
Saramago - em Evangelho Segundo Jesus Cristo.
10 - Qual a
pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Pergunta :
o que mereces?
Resposta :
ser lida
Segue um poema para fecharmos a entrevista que desde já
agradeço com afeto renovado. Livrx para todos.
Livrx
Sob
linhas entre folhas- o papel- plano livre lhe cai
um
vento- brisa sucinto para ele sopra todo o falar
mãos
de anjos subscrevem no símbolo o som sibilar
Nele
costumes união -de ritmos- em belas imagens
sincretismos
entre decassílabos poemas ou haikais
revelam
-se as dores d'alma do corpo inerte - cais
Signos
que ao todo como- metáfora- em sílabas vai
incrustando
desejos e no tempo sua morada fazem
de
platônica estrada suas curvas ruas ou mesmo ais
Assim
em quase- poético filamento-profético se faz
alcançando
invernos qual galhos em árvores- sublime paz
não
se perscrutam sua origem ou mesmo sua finalidade
A
palavra em sua metalinguagem- falácias nele escorre
entre
areias brancas e tufos de algodão na incapacidade
por
não refazer a trajetória-bagagem- a que lhe é d´ fato
[Livrx-
estado-de quem pensa em quase fúnebre marcha
cujo contrário também lhe é próprio e acertado
de fato]
In
esparsos
grata amigos do Toca e de Conexões . Feliz por esta oportunidade.
ResponderEliminarGratos estamos nós pelo apoio e participação...
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