Enviado pelo
autor, de Recife, recebi essa semana, surpreendida até pela rapidez, O OLHO DO
RINOCERONTE, que atravessou o oceano atlântico, e aportou em Lisboa, não para
ser lido, mas para ser apreciado.
E ao gostar
muito da capa e deparar-me na contracapa com a seguinte descrição: Os rinocerontes são grandes mamíferos
perissodáctilos (ungulados de dedos ímpares), da família Rhinocerontidae.
Geralmente vivem isolados. Para demarcar território, pisam nas próprias fezes,
acumulando em pilhas que podem atingir um metro de altura, às vezes escavam em
volta pilhas, tornando-as ainda mais visíveis. Têm cabeça e tórax grandes e
pernas curtas, olfato e audição potentes, seus olhos são pequenos, sua visão é
fraca…
Fiquei pensando
no quanto seria difícil escrever essa resenha e ler esse livro, confesso.
Depois como
sempre, e mais uma vez, Frederico Spencer, surpreende:
…Mas esse livro não é sobre rinocerontes, é um livro
de contos, com suas várias histórias que nos coloca frente a aspectos de
verossimilhança com o comportamento animal. Todo o resto é mera ficção.
E fui em busca,
com avidez e curiosidade, dessas semelhanças que temos com esses seres que
nunca fizeram parte do meu universo. E não consegui parar, até à última página.
Li, reli, absorvi, aspirei, traguei cada palavra, embevecida pela forma quase
poética e metafórica dos escritos. Cada conto tem a sua particularidade, uns
emocionam, outro causa repulsa, outros despertam o pensamento, ensinam,
preenchem a alma e confortam. E sempre nos conduzem para a inquietação.
Daquelas que mexem com o que está sossegado dentro de nós e nos conduzem de
volta a sensações escondidas na memória. E ficamos com o olhar perdido no
tempo, imersos em nossos questionamentos e buscas. E é isso que o autor
provoca, com O OLHO DO RINOCERONTE, uma imersão em nós mesmos. Em cada página,
percebemos nas entrelinhas, as intenções, análise crítica, exercício de
escrita, e cuidado na elaboração de cada conto. Frederico Spencer não escreveu
para ser uma simples obra de entretenimento. Ele faz um chamamento ao leitor,
para um mergulho no reflexo do espelho, no lado de dentro. Nos conduz até um
ponto, depois solta a nossa mão e nos empurra para um mergulho íntimo. E
deparamos com todas as nossas memórias, algumas esquecidas, outras abandonadas,
consciente ou inconscientemente, estão lá e são despertadas em cada página do
livro. Sensações e sentimentos, altruístas, egoístas, gentis, amáveis,
humorados, solidários, irracionais, cruéis, sádicos, masoquistas, de
sobrevivência ou simplesmente o que somos, ao nos despir de todas as
influências do meio social e nos defrontarmos com a nossa nudez como ser
humano, e em essência, como diz o autor, percebemos o quão somos semelhantes,
com os nossos irmãos do mundo animal.
Além de
agradecer, por essa imersão e despertar dos sentidos e pensamento, com uma
leitura agradável e envolvente, parabenizo Frederico Spencer por saber usar as
ferramentas certas e ser esse fio condutor, dentro da poesia ou da prosa, um
autor completo, que utiliza como ninguém uma das ferramentas mais preciosa no
espaço literário: a análise do ser humano e suas analogias, transportada por
uma imensa capacidade de criação e conhecimento, não só estrutural e
gramatical, mas, principalmente poética.
Frederico Spencer - biografia:
É sociólogo, professor, produtor cultural, poeta e contista. Membro
fundador da Academia de Letras de Jaboatão dos Guararapes. Como poeta foi
premiado pela Academia Pernambucana de Letras em 1985 (Prêmio Gervásio Fioravanti).
É editor do Portal Domingo com Poesia (dois Prêmios pelo Top Blog Brasil nos
anos de 2012 e 2013, no gênero literatura. Tem quatro livros publicados:
Portal do Tempo (Editora Bagaço) 1986, Quadrantes Urbanos
(Editora Livrorápido) 2006, Abril Sitiado (Editora Bagaço)
2011, Linha de Risco (Editora Bagaço) 2016. Tem vários poemas
publicados em antologias, jornais e revistas literárias.
DRIKKA INQUIT
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