Nesse universo
virtual e real da escrita onde todos são poetas fico pensando com os meus
botões, a banalização da palavra e do que é realmente ser poeta. Não, eu não
sou poeta e tenho um olhar muito crítico sobre tudo isso. Claro que é a minha
opinião e que ninguém tem que aceitar ou concordar. Mas lembro-me com os meus
dez anos quando ganhei de presente um dos livros da coleção Para Gostar de Ler,
com Mário Quintana, Vinícius de Moraes, entre outros. Esse livro me acompanhou
por muitos anos, e até a criação do Orkut, eu estava convencida de que para ser
Poeta tinha que ter um português perfeito, muito conhecimento sobre literatura
e poesia e principalmente capacidade de compor e estruturar um poema dentro de
todas as normas e regras, além é claro de uma sensibilidade ímpar. Fui
crescendo, conhecendo Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Camões, Bocage, e
tantos mais, e por entre passeios pelo sebo (alfarrábio) do meu bisavô no Rio
de Janeiro, e as histórias do meu avô, quando ainda era sócio e gerente da José
Olympio editora, eu estava realmente convencida de que Ser Poeta e editar um
livro era para aqueles eleitos e privilegiados. Timidamente escrevia as minhas
percepções e sentimentos e deixava tudo em um diário, como se aquilo fosse o
meu segredo e a cada ano, comprava um novo diário e escrevia sem parar. Depois
foram destruídos devido a mudança de cidade e é um dos sentimentos de perda que
sempre levarei na lembrança, como algo que não deveria ter feito. Mas como
disse, jamais imaginei que teria ferramentas para os publicar algum dia. E,
como quem escreve nunca pára, vieram outros escritos, e os guardei por vinte
anos até reunir alguns em um livro. Mas esse incentivo, de publicar em redes
sociais e editar, veio justamente depois de perceber que todas as pessoas com o
mínimo de sensibilidade eram “poetas” e que eu também podia sê-lo, por que não?
Nesses quase doze anos que acompanho esse universo virtual, como autora e
produtora cultural, tenho lido muito e conhecido muita gente, com boa escrita e
com outras nem tão boas, já vi coisas absurdas e coisas esplêndidas e aprendi a
separar o Poeta do Autor, o Escritor do Autor. E divulgo e incentivo que a
escrita deve ser para todos, assim como a pintura e a música. Tudo é arte e
forma de expressão. Só acho que deve haver conhecimento, o autor tem por
obrigação saber auto definir-se, e conhecer a sua escrita, dentro dos estilos e
correntes literárias, ficar atento com a gramática e a ortografia, por mais que
a poesia seja livre e cada um tenha o seu estilo, e principalmente, ter coerência
e responsabilidade. Se não tem capacidade para criar, melhor apenas admirar o
outro do que plagiá-lo. É feio e vergonhoso. Ah, e tem mais uma observação,
somos autores, e precisamos mudar o nosso discurso, por mais que a alma
transborde de emoção e seja criativa, não escrevemos com a alma, precisamos aprender
a escrever como exercício, estudar, revisar, analisar, melhorar a escrita a
cada dia. Falo por conhecimento de causa, escrevia à beira da praia,
diretamente no orkut e com o passar do tempo e com o amadurecimento, comecei a
ter vergonha dos erros banais que às vezes eram causados por falta de atenção
ou pelo corretor , mas já estava lá, circulando por entre uns e outros. Aprendi
a ter consciência, aprendi a ter capacidade de análise, aprendi a ter humildade
e saber o meu lugar, que está bem longe ainda do SER POETA. O caminho é longo e
nem sei se um dia conseguirei atingir essa nomenclatura. Mas continuo, com a
alma transbordando e sempre… Aprendendo a escrever.
DRIKKA INQUIT
Adriana, escrever será sempre um exercício de aprender. Toca a escrever!
ResponderEliminar