Agradecemos à autora ROSA MARIA MANO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se define
enquanto autora e pessoa?
Não consigo separar as
duas. Tudo o que escrevo é minha história, minha maneira de ver e sentir as
coisas todas do mundo e das pessoas. Separar a poeta da mulher seria uma
traição de mão dupla. Sou poeta-pessoa de coisas corriqueiras: os laços que
fiz, os que desfiz, filhos, desejo, sexualidade, minha visão da sociedade, as
distorções que carrego, uma sombra imensa por trás dos olhos por todos os
motivos que o mundo tem para estar na sombra. E a percepção da luz possível.
Sou meus avós portugueses, o vô índio, a negra trisavó de cachimbinho. Sou
autora independente de matrizes, tendências ou escolas e faço questão de
continuar assim. Não sei se tenho um estilo que se encaixe em algum lugar e
isso não me preocupa. Assim é a pessoa, sem tirar nem por.
2 - O que a inspira?
A Vida. Os poetas que li
e leio, o amor em todas as suas manifestações. Tudo é grão de poesia. Às vezes
uma palavra, noutras um conceito, um sonho, a eclosão de um broto, um filme...
as chagas, a cura. Eu vivo e respiro poesia.
3 - Existem tabus na sua
escrita? Porquê?
O conceito de tabu é
bastante elástico, concorda? O que é tabu para a minha cidade, país ou cultura,
pode não ser para outros. Mas, olhando para minha própria trajetória, posso
afirmar que já vivi alguns tabus que, aos poucos, foram sendo derrubados. Em
virtude de muita rigidez na educação, dentro de uma sociedade machista e
católica, vivi alguns tabus. Hoje posso afirmar que não fazem mais parte da
minha escrita.
4 - Que importância dá às
antologias e colectâneas?
As coletâneas e
antologias nos apresentam uma enorme gama de estilos, conceitos, formas,
sentires e saberes. A diversidade e o intercâmbio de ideias estão presentes
nelas, não somente para os leitores, mas para os autores. Essa é sua grande
importância.
5 - Que impacto têm as
redes sociais no seu percurso?
É através das redes
sociais que divulgo meu trabalho. Fundamentais para autores pouco conhecidos,
criam um espaço bastante democrático e a possibilidade de conhecermos outros
autores. Estamos do outro lado do mundo em segundos. As redes sociais dão uma
visibilidade que não havia em décadas anteriores ao seu advento. Para quem está
ligado à literatura, à música, às artes em geral, são ferramentas de trabalho que
colaboram na expansão de ideias. Cabe a nós determinarmos os limites nesse
espaço.
6 - Quais os pontos
positivos e negativos do universo da escrita?
Falo aqui como poeta:
escrever alarga a alma. É um exercício de conhecimento e de reconhecimento. É
nossa alma que fala e sua maneira de sentir. Descobrimos o mundo na escrita.
Nos faz observar mais de perto e mais profundamente. Mas ainda hoje o exercício
da escrita poética não recebe o reconhecimento que merece. É visto como
devaneio, hobby, escrita menos importante, ao menos no meu país. Quando a
escrita é de uma mulher... isso tudo eleva-se ao cubo. Poetas não são
considerados profissionais da literatura. Há uma imensa dificuldade no
acolhimento de editores e divulgadores. É desestimulante.
7 - O que acredita ser
essencial na divulgação de um autor?
Creio que uma abertura no
mercado editorial e uma renovação nesse setor. Mas não acredito que seja
possível, ao menos no que se refere às grandes editoras. Vejo o trabalho das
pequenas editoras como uma possibilidade mais viável. Além disso, o que está
acontecendo nas mídias: revistas eletrônicas, intercâmbios, festivais que dão
visibilidade a novos autores. Parcerias honestas, onde o conjunto é mais
importante, como no caso dessa coletânea da qual, honradamente, participo.
8 - Quais os projectos
para o futuro?
Tenho mais três livros
prontos: “Manuscritos de Fogo”, “O Lume e a Fábula” e “Fractais”. Destes, dois
estão com previsão de serem editados em 2019. Há mais um e-Book sendo
preparado. Estarei na FLIP 2018 e preparo um livro de contos, “Maria que Deus
não quis”. Além dos livros, desenvolvo um projeto de leitura nas escolas,
voltado para o Ensino Médio. Leitura de poetas atuantes, que estão produzindo
hoje, de diversas nacionalidades. Esse projeto será divulgado em breve.
9 - Sugira um autor e um
livro!
O autor é uma autora:
Hilda Hilst, a poeta que mais me inspira. Seu livro, “Da morte, odes mínimas”,
é meu livro de cabeceira. Mas sinto que traio outras autoras e autores ao ter
que escolher apenas um livro.
10 - Qual a pergunta que
gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Gostaria que me
perguntassem como vejo a trajetória da mulher nas sociedades. E respondo que
caminhamos muito pouco. Mulheres com acesso à educação abrem seus horizontes, compreendem
seus direitos, exercem seus deveres e lutam por melhores condições para todas.
Mas essas mulheres, em termos globais, são uma minoria. Vasto mundo, o lugar das
mulheres ainda é definido por sociedades impregnadas de machismo e
preconceitos. Elas ainda são espancadas, raptadas, vendidas, violentadas,
amordaçadas. Creio que não seja necessário que eu dê exemplos.
A caminhada ainda é muito
longa e essa minoria de mulheres que compreende isso, tem nas mãos uma tarefa
árdua e dolorosa: a de lutar por mais educação, saúde e respeito, para que esse
pequeno número aumente e aumente e aumente. Creio que a hora é agora, porque o
mundo está mais ágil, a comunicação mais eficaz. Volto a falar em redes
sociais: temos uma ferramenta poderosíssima a nosso dispor. Falamos mais alto
que a mídia oficial. Falamos melhor e com maior honestidade. É preciso que haja
uma união entre educadoras, escritoras, jornalistas independentes,
historiadoras, profissionais de saúde, enfim, que as mulheres tomem o pulso da
História e ajam, enquanto é tempo.
Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso