terça-feira, 19 de junho de 2018

DEZ PERGUNTAS A... ROSA MARIA MANO


Agradecemos à autora ROSA MARIA MANO a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autora e pessoa?

Não consigo separar as duas. Tudo o que escrevo é minha história, minha maneira de ver e sentir as coisas todas do mundo e das pessoas. Separar a poeta da mulher seria uma traição de mão dupla. Sou poeta-pessoa de coisas corriqueiras: os laços que fiz, os que desfiz, filhos, desejo, sexualidade, minha visão da sociedade, as distorções que carrego, uma sombra imensa por trás dos olhos por todos os motivos que o mundo tem para estar na sombra. E a percepção da luz possível. Sou meus avós portugueses, o vô índio, a negra trisavó de cachimbinho. Sou autora independente de matrizes, tendências ou escolas e faço questão de continuar assim. Não sei se tenho um estilo que se encaixe em algum lugar e isso não me preocupa. Assim é a pessoa, sem tirar nem por.

2 - O que a inspira?

A Vida. Os poetas que li e leio, o amor em todas as suas manifestações. Tudo é grão de poesia. Às vezes uma palavra, noutras um conceito, um sonho, a eclosão de um broto, um filme... as chagas, a cura. Eu vivo e respiro poesia.

3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?

O conceito de tabu é bastante elástico, concorda? O que é tabu para a minha cidade, país ou cultura, pode não ser para outros. Mas, olhando para minha própria trajetória, posso afirmar que já vivi alguns tabus que, aos poucos, foram sendo derrubados. Em virtude de muita rigidez na educação, dentro de uma sociedade machista e católica, vivi alguns tabus. Hoje posso afirmar que não fazem mais parte da minha escrita.

4 - Que importância dá às antologias e colectâneas?

As coletâneas e antologias nos apresentam uma enorme gama de estilos, conceitos, formas, sentires e saberes. A diversidade e o intercâmbio de ideias estão presentes nelas, não somente para os leitores, mas para os autores. Essa é sua grande importância.

5 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

É através das redes sociais que divulgo meu trabalho. Fundamentais para autores pouco conhecidos, criam um espaço bastante democrático e a possibilidade de conhecermos outros autores. Estamos do outro lado do mundo em segundos. As redes sociais dão uma visibilidade que não havia em décadas anteriores ao seu advento. Para quem está ligado à literatura, à música, às artes em geral, são ferramentas de trabalho que colaboram na expansão de ideias. Cabe a nós determinarmos os limites nesse espaço.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Falo aqui como poeta: escrever alarga a alma. É um exercício de conhecimento e de reconhecimento. É nossa alma que fala e sua maneira de sentir. Descobrimos o mundo na escrita. Nos faz observar mais de perto e mais profundamente. Mas ainda hoje o exercício da escrita poética não recebe o reconhecimento que merece. É visto como devaneio, hobby, escrita menos importante, ao menos no meu país. Quando a escrita é de uma mulher... isso tudo eleva-se ao cubo. Poetas não são considerados profissionais da literatura. Há uma imensa dificuldade no acolhimento de editores e divulgadores. É desestimulante.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Creio que uma abertura no mercado editorial e uma renovação nesse setor. Mas não acredito que seja possível, ao menos no que se refere às grandes editoras. Vejo o trabalho das pequenas editoras como uma possibilidade mais viável. Além disso, o que está acontecendo nas mídias: revistas eletrônicas, intercâmbios, festivais que dão visibilidade a novos autores. Parcerias honestas, onde o conjunto é mais importante, como no caso dessa coletânea da qual, honradamente, participo.

8 - Quais os projectos para o futuro?

Tenho mais três livros prontos: “Manuscritos de Fogo”, “O Lume e a Fábula” e “Fractais”. Destes, dois estão com previsão de serem editados em 2019. Há mais um e-Book sendo preparado. Estarei na FLIP 2018 e preparo um livro de contos, “Maria que Deus não quis”. Além dos livros, desenvolvo um projeto de leitura nas escolas, voltado para o Ensino Médio. Leitura de poetas atuantes, que estão produzindo hoje, de diversas nacionalidades. Esse projeto será divulgado em breve.

9 - Sugira um autor e um livro!

O autor é uma autora: Hilda Hilst, a poeta que mais me inspira. Seu livro, “Da morte, odes mínimas”, é meu livro de cabeceira. Mas sinto que traio outras autoras e autores ao ter que escolher apenas um livro.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Gostaria que me perguntassem como vejo a trajetória da mulher nas sociedades. E respondo que caminhamos muito pouco. Mulheres com acesso à educação abrem seus horizontes, compreendem seus direitos, exercem seus deveres e lutam por melhores condições para todas. Mas essas mulheres, em termos globais, são uma minoria. Vasto mundo, o lugar das mulheres ainda é definido por sociedades impregnadas de machismo e preconceitos. Elas ainda são espancadas, raptadas, vendidas, violentadas, amordaçadas. Creio que não seja necessário que eu dê exemplos.
A caminhada ainda é muito longa e essa minoria de mulheres que compreende isso, tem nas mãos uma tarefa árdua e dolorosa: a de lutar por mais educação, saúde e respeito, para que esse pequeno número aumente e aumente e aumente. Creio que a hora é agora, porque o mundo está mais ágil, a comunicação mais eficaz. Volto a falar em redes sociais: temos uma ferramenta poderosíssima a nosso dispor. Falamos mais alto que a mídia oficial. Falamos melhor e com maior honestidade. É preciso que haja uma união entre educadoras, escritoras, jornalistas independentes, historiadoras, profissionais de saúde, enfim, que as mulheres tomem o pulso da História e ajam, enquanto é tempo.

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

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