quarta-feira, 1 de novembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK

Noites Brancas. E foi como se eu fizesse parte desse fenômeno que acontece no início do verão em um lugar, onde nunca estive, Petersburgo, que caminhei durante algumas horas pelas palavras de Dostoievski. A luminosidade daquelas noites em que não escurece, fazia os meus olhos brilharem e bailarem pela leitura em que mergulhei com imensa satisfação e total cumplicidade pelo sentir do personagem, no qual identifiquei um tempo da minha vida em que, achei, só eu vivia. Surpreendi-me ao ler o mesmo sentir e procura, descrito por um autor russo em 1848. E como tantos bons livros que me chegam às mãos, ao acaso, em épocas que eram necessárias as leituras, para confirmar, despertar ou sacudir elementos que precisam ser observados mais atentamente em nossas vidas, começo a acreditar que há algo mágico nesse universo da escrita. Autor e leitor vivem uma fusão momentânea, onde todo o cotidiano deixa de existir e passamos a viver em outros corpos e lugares, simplesmente porque decidimos abrir um livro e nos deixar envolver por palavras, que vão conduzindo, seduzindo e quando percebemos ocupou totalmente o nosso ser, nos levando para uma viagem e, ao regressarmos, voltamos com um sentimento, um pensamento, ou uma ideia, como refrigério ou alimento para saciar ou preencher alguma sensação de incomodo inconsciente. Genialidade na simplicidade e lirismo ao escrever uma história, justificam e separam o joio do trigo e, talvez por isso, não existam tantos Dostoievski’s, disponíveis a perambular pelas redes sociais ou lançando livros.

Mas o que sei, é que adormeci com a alma aquecida pelo tempo em que estive em outras paragens e feliz constatei, ao regressar, que não estive sozinha nessa busca, enquanto amanheço acalentada pelas presenças que me aquecem. A cumplicidade com o autor que jamais imaginou que, cento e sessenta e nove anos depois, teria uma pessoa com o seu livro em mãos compactuando com o mesmo sentir e pensamento e com um desfecho diferente, para a minha alegria (na vida real) e infelicidade do personagem, que percorre a existência condenado a viver em total solidão.

E tudo isso é apenas para reafirmar o quanto uma boa obra atravessa as intempéries da existência e que a nossa responsabilidade como autores é de extrema importância para a história de um lugar, como sempre divulgo,  na contribuição da vida de um leitor ou significativa nos registros do tempo.

DRIKKA INQUIT

2 comentários:

  1. Genial, Dostoievski. Os jogadores e os prisioneiros revoltosos (bem como os submissos) jamais voltaram a ser encarados da mesma forma na literatura após a trama descrita e desenvolvida pelo autor.

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