terça-feira, 31 de outubro de 2017

DEZ PERGUNTAS A... EMANUEL LOMELINO

Entrevista conduzida por Adriana Mayrinck

1 - Quem é o autor Emanuel Lomelino? E como a poesia reflete na sua forma de estar na vida ?

R – O autor Emanuel Lomelino é uma entidade que se distanciou do cidadão Emanuel Lomelino, após a edição do segundo livro, e que se rege por conceitos muito próprios e todos direccionados para a criação. Tem o mesmo grau de exigência e rigor mas apenas se preocupa com o que cria. Já o cidadão é mais opinativo e intransigente, e não tem problema algum em falar o que pensa. Se há alguma influência da poesia na forma de estar na vida, essa será apenas pelo tempo e dedicação empregues. Por isso acho que a vida influencia mais a poesia do que o contrário.

2- Seus títulos são marcantes e remetem a fases da sua caminhada poética. Auto-retrato ou criação independente do homem?

R – Pode-se considerar que os dois primeiros títulos, ainda tocados pela inocência ou, dito de melhor forma, pelo estado ainda imberbe do autor, têm doses elevadas de autobiografia. A partir daí, com a aprendizagem, entretanto adquirida, nasceu uma maior consciência de autor e todos os trabalhos posteriores passaram a ser menos pessoais, mais criteriosos e alvo de maior grau de auto exigência.

3-  Conte-nos um pouco da sua obra e de suas expectativas como autor.

R – A obra nasceu, primeiro pelo concretizar de um sonho, depois por mera conjugação de oportunidades. Neste momento o sonho está mais que realizado e, enquanto as oportunidades forem aparecendo, cá estarei para acrescentar mais alguns trabalhos. Não tenho expectativas porque nunca as crio e porque, mesmo que as oportunidades um dia deixem de aparecer, não me incomodará em nada deixar de editar pois o que me move é escrever. Eu edito porque escrevo… não escrevo para editar.

4- Percebemos a sua versatilidade e facilidade de adaptação poética em linguagens diferenciadas. Heterônimos?

R – Não! A minha esquizofrenia é una e indivisível. Mais a sério, é apenas uma característica que junto a outras e que servem de ferramentas de criação. Por outro lado, até me convém ter essa versatilidade pois sou muito avesso a rotinas e gosto de me desafiar enquanto autor.

5- O poder criativo é ilimitado. Previsão para novas publicações? Comente sobre essas possibilidades, há um planejamento ou os livros acontecem?

R – Existe uma ideia central, fruto da tal consciência de autor que mencionei noutra questão, mas que é susceptível de alterações motivadas pelas oportunidades que vão surgindo. Dou um exemplo: seguindo essa minha ideia inicial, o meu terceiro livro não seria o LICENÇA POÉTICA – DUETOS LOMELINOS… eu tinha um outro livro pronto para ser editado, no entanto na mesma altura foi-me oferecido um contrato editorial, que dificilmente poderia recusar, e que consistia na elaboração desse projecto de duetos. O outro ficou na gaveta esperando decisões. Quanto a trabalhos futuros… há um em fase de pré-edição, que também não estava programado mas é uma oportunidade que não podia deixar passar. Para além deste há muito material pronto, somente à espera de interessados. 

6 - O TOCA A ESCREVER, seu blogue, criado há sete anos é um projeto de relevância e a cada dia acrescenta novos autores e leitores. É um trabalho de dedicação, persistência, disciplina e sem retorno financeiro. Ideologia, sonho ou utopia?

R – O TOCA A ESCREVER nasceu motivado por uma lacuna que detectei no universo da escrita: a falta de divulgação dos livros editados. Mais que um trabalho, e apesar de dar mesmo muito e consumir muitas horas, é uma paixão que, felizmente, tem vindo a crescer com o patrocínio de editoras e alguns autores. E agora, com a parceria da IN-FINITA, e a junção de forças por um objectivo comum, esse crescimento foi mais acelerado.

7- No TOCA A FALAR DISSO  você expõe a sua opinião de forma clara, transparente, nua e crua. O mercado literário é um meio bem delicado em se conviver, como é a receptividade do leitor , autores e editoras na sua espontaneidade de se mostrar sempre autêntico e firme em suas opiniões. Te impulsiona ou te freia para  novas ações e interações?

R – o TOCA A FALAR DISSO tem mais o cunho do homem do que do autor. Enquanto o autor se dedica a criar e a tentar fazer obra, o homem é mais crítico e, tendo a possibilidade de expressar a minha opinião, jamais deixarei de o fazer. Isso não quer dizer que estejas sempre certo no que escrevo. As minhas opiniões são fruto das minhas verdades e nunca foi minha intenção impingir aos outros as minhas ideias nem o faço para arranjar seguidores para elas. Limito-me a lançar os temas para debate e depois cada um que pense pela sua cabeça. Dito isto, não me preocupo nem um pouco com a sensibilidade de quem está no meio literário. Ter isso em consideração obrigar-me-ia a censurar o meu pensamento e a não o expressar. E o livre pensamento e a liberdade de expressão são dois direitos que não abdico.

8-  Uma vida dedicada a arte da escrita, e uma caminhada permanente, ininterrupta e consolidada. Há um objetivo ou desejo ainda não realizado ?

R – Como disse anteriormente, o objectivo era editar e isso foi alcançado. Depois o objectivo passou a ser ter três livros editados e parar. Entretanto as oportunidades foram aparecendo e esse objectivo cumpriu-se pela metade e tudo o que tenho feito desde aí já não faz parte de nenhum objectivo delineado. Neste momento tenho-me limitado a ir na onda. Já fiz de tudo no universo da escrita, já vivi algumas coisas que, se não fosse a escrita, nunca as teria vivido. A minha certeza é que continuarei a escrever e o que vier será bem vindo e se deixar de vir não tem problema porque, como também disse, eu edito porque escrevo… não escrevo para editar.

9- Como é o profissional Emanuel Lomelino, seja como organizador de coletâneas e antologias, prefaciador ou palestrante. Há uma linha de conduta ? Mistura-se com o autor ou são vertentes distintas?

R – O autor é a extensão criativa e tudo o resto é responsabilidade do homem. É evidente que existem pontos de contacto mas apenas em alguns aspectos de conduta. Quando estou envolvido nessas actividades mencionadas sou, tal como o autor, exigente e rigoroso, mas muito mais intransigente e faço tudo para que os resultados finais estejam o mais próximo possível da perfeição. Apesar da tremenda realização que essas tarefas me proporcionam, é muito raro ficar totalmente satisfeito com o resultado final.

10- Um desabafo. O que mais te incomoda? Uma alegria. O que te move? 

R – Não sou homem de me incomodar. No entanto, há alguns assuntos que não me deixam ficar sossegado, nomeadamente a questão do plágio e a incompetência consciente. Quanto ao resto… sou demasiado desligado. Para mim o mais importante de tudo é chegar ao fim de cada dia e ter consciência que fui fiel a mim e aos meus princípios, encostar a cabeça no travesseiro e adormecer tranquilamente.


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