sábado, 4 de novembro de 2017

FALA ÁFRICA... MACVILDO PEDRO BONDE - X

Ao Rui

Knopfli escreveu sobre a sua alma negra, desenhou nos areais de Inhambane a naturalidade. Que interessa a cor do asfalto na epiderme? Estou aqui disperso de mim, entre a poética e a erudição. Como poderei saltar o arame do vazio, fingir que não houve vida antes da nossa crença da palavra.

A vida é rica em masturbações precoces, lutas estomacais por um lugar no livro dos eleitos. Despido do volume da cigarrilha nas mãos, vou seguindo a trajectória do trabalho, com leituras intermináveis entre as camadas que se elevam a cada degrau.

O fardo não se desfaz, cobre a presença friorenta do abismo. As mãos calejadas dos pedregulhos entre acácias e farpas ao ar reinventam no olhar do silêncio, a metáfora escondida.

Na avenida deserta espero o autocarro sem rumo, conto os tampões do passeio que abrem fendas para o descaso da métrica. Como se faz grande esgueirando-se da sombra do vulto?

Não importa a voz da multidão, não importa a descrença no outro, não importa a cegueira colectiva; vou distraído das querelas infames sobrevoando o calor da palavra, reintroduzir na língua do mundo as hidrografias do meu berço.

Breve biografia
M.P.Bonde nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária “Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.

Vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.

1 comentário:

Toca a falar disso