Pegue agora o substantivo melancia que é concebido
como fruta e que pertence à mesma família do substantivo abóbora que é
concebido como legume,do substantivo pepino que é também é concebido como
legume e do substantivo melão que é concebido como fruta.
Imagine agora um safari turístico ao lado ou frente a
frente com todos aqueles animais e aquela paisagem maravilhosa e inóspita e a
certeza de que aquela visão extraordinária não mais estará em sua mente
tendo-se o bom sendo ou considerando-se o fato de que a transição final se
aproxima, e que serás transformando em pó em breve.
Sinta-se pisado por um elefante, sinta o seu estômago
se comprimindo e seu pulmão parando de funcionar, sinta a precisão do aparelho
de oxigênio mantendo você ainda vivo, ainda com alguma consciência neste mundo
que agora não mais é o que é e nem o que poderia ser.
Coloque o substantivo melancia com casca, semente e
tudo mais dentro do substantivo liquidificador.
No modo imperativo bata a tal fruta com um pouco de
água sem piedade no tal liquidificador e não use coador para eliminar as
sementes neste caso que deverão, antes de se afogar, ser desintegradas pela
constante rotação.
Lembre-se ainda de que você já esteve em pretérito
perfeito na Europa e no Oriente próximo pisando em uvas, na América Tropical
encontrando com os índios e os europeus, na África Central num safari turístico
e lá foi pisoteado por um elefante estando no hospital bem próximo da morte.
Agora retrocedamos vinte mil anos, ao final da era
glacial onde a maçã já era encontrada.
Imaginem agora os poucos animais peludos que
conseguiram sobreviver naquele tempo infinitamente gelado. Imaginem como deve
ser colocar o corpo que acaba de perder contato com este mundo na geladeira ou
no freezer dos necrotérios ou mesmo no porão dos hospitais, imaginem a
curiosidade das pessoas olhando e tocando o corpo para ver se este já
endureceu. Imaginem os comentários medíocres ou despropositados que podem
surgir nesta situação. Tal como os fósseis de mamutes e antílopes, os corpos
jazem na eterna escuridão de um tempo qualquer.
IN HISTÓRIAS PARA NENHUM BOI DORMIR - João Ayres
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso