terça-feira, 3 de outubro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK

Impressões cotidianas I

Mergulho no caos urbano, em um dia de chuva. Alagamentos e trânsito congestionado. Rostos retraídos passando pelo para-brisas, onde perdem entre buzinas e impaciências o tempo da vida. O taxista, senhor de setenta anos, esconde todo tipo de dor, com a sabedoria dos anos vividos. E aqueles que esperam o ônibus lotado que não vem, o trabalho que telefona impaciente pela falta do funcionário, a ambulância que para sem ter para onde ir, na sua urgência ...e vidas que se vão. A polícia que insiste na sirene, tumultuando o ar quase irrespirável. Lixo boiando, esgotos rompidos, rostos tensos e irritados. E aqueles que jogaram o papel no chão nos dias de sol...pisam agora enlameados pela cegueira da ignorância, amaldiçoando a chuva. E seguimos usando máscaras, para esconder que ainda consideramos a todos parte da família SER-HUMANO. As pessoas tornaram-se ecos de reclamação. Estou aqui, presa no caos, após amanhecer acreditando ter um dia melhor que o anterior. E pergunto-me qual o sentido de tudo isso? A chuva incessante não dá trégua. Penso nos moradores de rua, naqueles que vivem à margem da dignidade. Penso na violência calada desses que usam os transportes como arma de agressão. Para justificar desequilíbrios nos dia de chuva ou calor. O governador deve estar dormindo. O prefeito viajou. E os responsáveis pelo trânsito, bem abrigados fingindo que nada acontece. E nós? Eleitores, trabalhadores, cidadãos conscientes? Que lugar nos pertence? Somos obrigados a viver em cárcere, aprisionados pela nossa própria impotência e incapacidade de coordenar nosso cotidiano. E achar normal o "deixar para lá". As horas passam, mas a vida paralisou na angustia, revolta e insatisfação de não sermos nada, no meio das nossas escolhas erradas, quando acreditamos que naquela eleição as coisas iriam mudar. E que a humanidade tem salvação. Mas eu ainda espero por um dia diferente. Quero o meu direito de ir e vir, livremente. Quero passar por sorrisos leves. 

Caminhar por entre gentilezas e educação. Utopia? Espero que não...

Mas hoje ainda olho para o céu, e respiro fundo abafando meu grito de indignação.


DRIKKA INQUIT

2 comentários:

  1. Queremos tão pouco, poeta. O simples, o mais simples de tudo, com toda doçura e delicadeza da alma. Por que tão difícil? Por que a humanidade complica, dificulta, anda pra trás? Lindo texto.

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  2. Sim querida, também me faço essa pergunta. Grata pelo carinho. Beijos

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