Impressões
cotidianas I
Mergulho
no caos urbano, em um dia de chuva. Alagamentos e trânsito congestionado.
Rostos retraídos passando pelo para-brisas, onde perdem
entre buzinas e impaciências o tempo da vida. O taxista, senhor de setenta
anos, esconde todo tipo de dor, com a sabedoria dos anos vividos. E aqueles que
esperam o ônibus lotado que não vem, o trabalho que telefona impaciente pela
falta do funcionário, a ambulância que para sem ter para onde ir, na sua
urgência ...e vidas que se vão. A polícia que insiste na sirene, tumultuando o
ar quase irrespirável. Lixo boiando, esgotos rompidos, rostos tensos e
irritados. E aqueles que jogaram o papel no chão nos dias de sol...pisam agora
enlameados pela cegueira da ignorância, amaldiçoando a chuva. E seguimos usando
máscaras, para esconder que ainda consideramos a todos parte da família
SER-HUMANO. As pessoas tornaram-se ecos de reclamação. Estou aqui, presa no
caos, após amanhecer acreditando ter um dia melhor que o anterior. E
pergunto-me qual o sentido de tudo isso? A chuva incessante não dá trégua.
Penso nos moradores de rua, naqueles que vivem à margem da dignidade. Penso na
violência calada desses que usam os transportes como arma de agressão. Para
justificar desequilíbrios nos dia de chuva ou calor. O governador deve estar
dormindo. O prefeito viajou. E os responsáveis pelo trânsito, bem abrigados
fingindo que nada acontece. E nós? Eleitores, trabalhadores, cidadãos
conscientes? Que lugar nos pertence? Somos obrigados a viver em cárcere, aprisionados
pela nossa própria impotência e incapacidade de coordenar nosso cotidiano. E
achar normal o "deixar para lá". As horas passam, mas a vida
paralisou na angustia, revolta e insatisfação de não sermos nada, no meio das
nossas escolhas erradas, quando acreditamos que naquela eleição as coisas iriam
mudar. E que a humanidade tem salvação. Mas eu ainda espero por um dia
diferente. Quero o meu direito de ir e vir, livremente. Quero passar por
sorrisos leves.
Caminhar por entre gentilezas e educação. Utopia? Espero que
não...
Mas
hoje ainda olho para o céu, e respiro fundo abafando meu grito de indignação.
DRIKKA INQUIT
Queremos tão pouco, poeta. O simples, o mais simples de tudo, com toda doçura e delicadeza da alma. Por que tão difícil? Por que a humanidade complica, dificulta, anda pra trás? Lindo texto.
ResponderEliminarSim querida, também me faço essa pergunta. Grata pelo carinho. Beijos
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