sábado, 28 de outubro de 2017

DEZ PERGUNTAS A... TACIANA VALENÇA

Entrevista conduzida por Adriana Mayrinck 

1. Taciana Valença, produtora cultural, editora da Revista Perto de Casa, diretora social da União Brasileira de Escritores em Recife, poeta e cronista, faça um breve resumo das suas atividades e como consegue conciliar o seu tempo?

A pergunta mais difícil: como consegue conciliar? Realmente não é fácil quando se faz a opção de ser autônoma.  São muitos afazeres diferentes, acrescentando, de quebra, ser mãe, esposa ,dona de casa e trabalhar com vendas. Dureza, não é?  Realmente só sendo poeta ou um ser considerado estranho ao mundo.
Na verdade algumas manhãs tiro para casa e textos, alguns dias  para vendas de anúncios, outros para vendas da representação. No mais administro o tempo para a UBE, projetos junto com a Letrart, da qual sou sócia também, organizar o Conversando Perto de Casa (uma vez ao mês) na Livraria Jaqueira, o site da revista e exercitar a escrita. Mas estou sempre envolvida em outros projetos que surgem. Tenho grande vontade de fazer teatro e retomar minhas entrevistas.
Só não me pergunte que tempo terei para isso.

2. Como começou a escrever poesias, há uma temática, alguém que lhe inspirou, segue uma rotina de criação ?

Sempre fui uma criança que prestava atenção nas coisas mínimas, ou seja, que ninguém mais prestava. Lembro que saí de uma escola muito pequena para outra enorme, tinha lago, peixe elétrico, macaco e muitas joaninhas no jardim. Na época eu não escrevia, mas imaginava histórias. Depois me envolvi nos esportes e também não sobrava muito tempo.  Só aos 12 anos comecei a rabiscar algo, coisas simples que colocava em um caderno. Certo dia meu pai levou para o trabalho para mostrar aos amigos e depois disso eu rasguei o caderno. Nunca entendi o porquê e até hoje tenho curiosidade para saber o que escrevia naquela época. Talvez eu tenha ficado sentida pela invasão. Depois muito esporadicamente até os 19 anos, quando escrevia algumas coisas. Na verdade nunca me considerei poeta, faço da escrita um passatempo que gosto, mas, como dizem que sou, tudo bem.

3. Há planos para um livro? Poemas ou crônicas?

Sim, pretendo ainda esse ano lançar o de poesias. Faz tempo que está quase pronto, mas sempre saio mudando, achando que precisa amadurecer mais e tal. Porém, dessa vez acho que sai mesmo. Na realidade quero muito lançar o de crônicas, mas será o próximo passo.

4. Faça uma analogia do início da sua vida como autora e os dias atuais. Houve mudanças consideráveis?

Sim, houve. Existe um site chamado Recanto das Letras, onde registro alguns escritos, pensamentos, poesias, crônicas, frases, etc. Vez por outra vou lá e vejo algumas coisas escritas, digamos, em 2008. Nossa, tem muita coisa ruim, imatura, boba até, mas não tiro, serve justamente como termômetro. Uma época eu estava com mania de rima. Meu Deus, eu rimava tudo! Depois fiquei completamente enjoada de poesias rimadas. Gosto dos versos livres, sem compromissos com rimas. Não quer dizer que não rime mais, mas procuro não exagerar. Mesmo assim tenho vontade de fazer um curso de cordel, pois acho legal um cordel bem feito. As mudanças são consideráveis sem dúvida.

5. Na União Brasileira de Escritores, como diretora social, quais os projetos mais importantes desde que tomou posse e quais as perspectivas parta 2018?

Na verdade tomei posse em março deste ano, durante as reuniões estamos reanalisando desde os estatutos até os programas. Ultimamente me envolvi na Flipo e só agora retomo o que venho amadurecendo como inovação para a UBE. Quero levar estudantes de escolas particulares e até crianças para eventos literários, como tardes debatendo autores ou poetas. Existe já um programa muito bacana coordenado pelas escritoras Bernadete Bruto e Ivanilde Gusmão, que leva estudantes das escolas públicas para debaterem contos de grandes autores e conhecerem autores da própria UBE.  Não tem preço ver que os estudantes estão interessados, envolvidos. O projeto chama-se Filosofando sobre o amor na literatura. Minha intenção é trazer mais e mais jovens, estimulando e os envolvendo no mundo literário. Esse ano também farei a Semana da Arte na UBE, provavelmente em Novembro, no intuito de divulgar artistas e deixá-los mais próximos da literatura, pois ambas são na verdade expressões artísticas.

6. Como você se define, como profissional e como ser humano ?

Como profissional eu gosto de desafios. Sempre acho que vou conseguir. Como ser humano gosto de ser prestativa, amiga, tenho grande instinto de cooperação. Gosto de divulgar o trabalho das pessoas, principalmente quando relacionadas à cultura e literatura. Gosto de fazer amizades, conversar, ajudar. Admiro muito as pessoas discretas, sinceras e que se unem por uma causa comum. As que me conquistam geralmente é para sempre, caso contrário é porque tem algo no caráter que naturalmente me afasta. Isso não administro bem, sou muito sensível para reconhecer as verdadeiras faces e facetas das pessoas.

7. Como iniciou a revista Perto de Casa e quais os projetos agregados?

A Revista Perto de Casa começou em maio de 2008, quando, junto com uma amiga, fizemos um projeto para uma revista de bairro que divulgasse o comércio, a arte, literatura e turismo locais.
O nome surgiu da nossa mania de dizer: é ali, perto de casa.  A minha sócia era designer gráfica e eu ficava com as vendas. Depois entrei na TV SABER (Canal fechado-SIM TV) com o Programa Perto de Casa na TV, na intenção de entrevistar artistas, escritores e profissionais liberais, seguindo a linha da revista, porém, com largo espaço para divulgação. Antes mesmo de completar dois anos fiquei só na revista e no programa, pois minha sócia resolveu tomar um outro rumo.
O programa durou mais ou menos 3 anos e terminou quando a TV fechou. Depois comecei o Navegando em Poesias (2010), projeto onde reúno poetas num passeio de catamarã pelo Rio Capibaribe. O objetivo é estimular os poetas a desengavetarem suas poesias.  Durante o trajeto, além das declamações há música, vinho e petiscos. Também surgiu o Conversando Perto de Casa na Livraria Jaqueira, seguindo a mesma linha da TV, porém, com várias homenagens aos artistas locais. O projeto acontece sempre nos quartos sábados de cada mês, da 17 às 19h na livraria e  hoje faz parte de um projeto maior, o Multivercidades, que agrega mais 4 projetos, um a cada sábado.

8. Qual a sua opinião sobre o meio literário e cultural, por onde transita em Recife?

Acho o meio cultural e literário em Recife bem efervescente. Artistas, escritores e músicos muito bons e criativos. É claro que existem os medíocres, mas há muita gente boa. A dificuldade é sempre financeira para que bons projectos saiam do papel. Apesar dos incentivos, como o Funcultura, onde muita gente fica de fora pela grande quantidade de detalhes a serem observados, é tudo muito difícil no meio cultural.

9. Um sonho. Um desafio. Um obstáculo. Pode descrevê-los?

Não sou muito de ter sonhos únicos, também não alimento sonhos impossíveis até mesmo porque não os tenho.  Meus sonhos são palpáveis e dependem muito de mim. Sempre há algo a fazer, sempre melhor, então há uma realidade a ser trabalhada dia após dia. Sou impulsiva e isso ajuda a não temer obstáculos.

10. O que te move e o que te desanima?

Sou movida pela paixão pelas coisas que gosto de fazer. Sonhos e novos projetos me movem, da mesma forma o amor pela família, especialmente pelos meus filhos, presentes divinos.
Não acredito que nada possa desanimar a não ser o meu próprio estado de espírito. Já me envolvi politicamente, já fui ao fundo do poço da decepção pelas coisas que não posso mudar, mas mudei um pouco nesse sentido. O que vivemos nesse país hoje é um grande salve-se quem puder! Vivemos hoje uma grande farsa nesse país. Você escolhe continuar ou ficar parado se indignando. Eu escolho continuar e lutar pelo que gosto e pelo que acredito.Nada que venha dos outros me desanima. Acredito que o desânimo está em nós mesmos. Fiquemos  então atentos para que não nos abata.

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