Entrevista conduzida por Adriana Mayrinck
1. Taciana Valença, produtora
cultural, editora da Revista Perto de Casa, diretora social da União Brasileira
de Escritores em Recife, poeta e cronista, faça um breve resumo das suas
atividades e como consegue conciliar o seu tempo?
A pergunta mais difícil: como
consegue conciliar? Realmente não é fácil quando se faz a opção de ser autônoma. São muitos afazeres diferentes,
acrescentando, de quebra, ser mãe, esposa ,dona de casa e trabalhar com vendas.
Dureza, não é? Realmente só sendo poeta
ou um ser considerado estranho ao mundo.
Na verdade algumas manhãs tiro para
casa e textos, alguns dias para vendas
de anúncios, outros para vendas da representação. No mais administro o tempo
para a UBE, projetos junto com a Letrart, da qual sou sócia também, organizar o
Conversando Perto de Casa (uma vez ao mês) na Livraria Jaqueira, o site da
revista e exercitar a escrita. Mas estou sempre envolvida em outros projetos
que surgem. Tenho grande vontade de fazer teatro e retomar minhas entrevistas.
Só não me pergunte que tempo terei
para isso.
2. Como começou a escrever poesias,
há uma temática, alguém que lhe inspirou, segue uma rotina de criação ?
Sempre fui uma criança que prestava
atenção nas coisas mínimas, ou seja, que ninguém mais prestava. Lembro que saí
de uma escola muito pequena para outra enorme, tinha lago, peixe elétrico,
macaco e muitas joaninhas no jardim. Na época eu não escrevia, mas imaginava
histórias. Depois me envolvi nos esportes e também não sobrava muito tempo. Só aos 12 anos comecei a rabiscar algo,
coisas simples que colocava em um caderno. Certo dia meu pai levou para o
trabalho para mostrar aos amigos e depois disso eu rasguei o caderno. Nunca
entendi o porquê e até hoje tenho curiosidade para saber o que escrevia naquela
época. Talvez eu tenha ficado sentida pela invasão. Depois muito
esporadicamente até os 19 anos, quando escrevia algumas coisas. Na verdade
nunca me considerei poeta, faço da escrita um passatempo que gosto, mas, como
dizem que sou, tudo bem.
3. Há planos para um livro? Poemas
ou crônicas?
Sim, pretendo ainda esse ano lançar
o de poesias. Faz tempo que está quase pronto, mas sempre saio mudando, achando
que precisa amadurecer mais e tal. Porém, dessa vez acho que sai mesmo. Na
realidade quero muito lançar o de crônicas, mas será o próximo passo.
4. Faça uma analogia do início da sua vida como autora e os dias atuais.
Houve mudanças consideráveis?
Sim, houve. Existe um site chamado
Recanto das Letras, onde registro alguns escritos, pensamentos, poesias,
crônicas, frases, etc. Vez por outra vou lá e vejo algumas coisas escritas,
digamos, em 2008. Nossa, tem muita coisa ruim, imatura, boba até, mas não tiro,
serve justamente como termômetro. Uma época eu estava com mania de rima. Meu
Deus, eu rimava tudo! Depois fiquei completamente enjoada de poesias rimadas.
Gosto dos versos livres, sem compromissos com rimas. Não quer dizer que não
rime mais, mas procuro não exagerar. Mesmo assim tenho vontade de fazer um
curso de cordel, pois acho legal um cordel bem feito. As mudanças são
consideráveis sem dúvida.
5. Na União Brasileira de
Escritores, como diretora social, quais os projetos mais importantes desde que
tomou posse e quais as perspectivas parta 2018?
Na verdade tomei posse em março
deste ano, durante as reuniões estamos reanalisando desde os estatutos até os
programas. Ultimamente me envolvi na Flipo e só agora retomo o que venho
amadurecendo como inovação para a UBE. Quero levar estudantes de escolas
particulares e até crianças para eventos literários, como tardes debatendo
autores ou poetas. Existe já um programa muito bacana coordenado pelas
escritoras Bernadete Bruto e Ivanilde Gusmão, que leva estudantes das escolas
públicas para debaterem contos de grandes autores e conhecerem autores da
própria UBE. Não tem preço ver que os
estudantes estão interessados, envolvidos. O projeto chama-se Filosofando sobre
o amor na literatura. Minha intenção é trazer mais e mais jovens, estimulando e
os envolvendo no mundo literário. Esse ano também farei a Semana da Arte na
UBE, provavelmente em Novembro, no intuito de divulgar artistas e deixá-los
mais próximos da literatura, pois ambas são na verdade expressões artísticas.
6. Como você se define, como
profissional e como ser humano ?
Como profissional eu gosto de desafios.
Sempre acho que vou conseguir. Como ser humano gosto de ser prestativa, amiga,
tenho grande instinto de cooperação. Gosto de divulgar o trabalho das pessoas,
principalmente quando relacionadas à cultura e literatura. Gosto de fazer
amizades, conversar, ajudar. Admiro muito as pessoas discretas, sinceras e que
se unem por uma causa comum. As que me conquistam geralmente é para sempre,
caso contrário é porque tem algo no caráter que naturalmente me afasta. Isso
não administro bem, sou muito sensível para reconhecer as verdadeiras faces e
facetas das pessoas.
7. Como iniciou a revista Perto de
Casa e quais os projetos agregados?
A Revista Perto de Casa começou em
maio de 2008, quando, junto com uma amiga, fizemos um projeto para uma revista
de bairro que divulgasse o comércio, a arte, literatura e turismo locais.
O nome surgiu da nossa mania de dizer: é ali,
perto de casa. A minha sócia era
designer gráfica e eu ficava com as vendas. Depois entrei na TV SABER (Canal
fechado-SIM TV) com o Programa Perto de Casa na TV, na intenção de entrevistar
artistas, escritores e profissionais liberais, seguindo a linha da revista,
porém, com largo espaço para divulgação. Antes mesmo de completar dois anos
fiquei só na revista e no programa, pois minha sócia resolveu tomar um outro
rumo.
O programa durou mais ou menos 3
anos e terminou quando a TV fechou. Depois comecei o Navegando em Poesias
(2010), projeto onde reúno poetas num passeio de catamarã pelo Rio Capibaribe.
O objetivo é estimular os poetas a desengavetarem suas poesias. Durante o trajeto, além das declamações há
música, vinho e petiscos. Também surgiu o Conversando Perto de Casa na Livraria
Jaqueira, seguindo a mesma linha da TV, porém, com várias homenagens aos artistas
locais. O projeto acontece sempre nos quartos sábados de cada mês, da 17 às 19h
na livraria e hoje faz parte de um projeto
maior, o Multivercidades, que agrega mais 4 projetos, um a cada sábado.
8. Qual a sua opinião sobre o meio
literário e cultural, por onde transita em Recife?
Acho o meio cultural e literário em
Recife bem efervescente. Artistas, escritores e músicos muito bons e criativos.
É claro que existem os medíocres, mas há muita gente boa. A dificuldade é
sempre financeira para que bons projectos saiam do papel. Apesar dos incentivos,
como o Funcultura, onde muita gente fica de fora pela grande quantidade de
detalhes a serem observados, é tudo muito difícil no meio cultural.
9. Um sonho. Um desafio. Um
obstáculo. Pode descrevê-los?
Não sou muito de ter sonhos únicos,
também não alimento sonhos impossíveis até mesmo porque não os tenho. Meus sonhos são palpáveis e dependem muito de
mim. Sempre há algo a fazer, sempre melhor, então há uma realidade a ser
trabalhada dia após dia. Sou impulsiva e isso ajuda a não temer obstáculos.
10. O que te move e o que te
desanima?
Sou movida pela paixão pelas coisas
que gosto de fazer. Sonhos e novos projetos me movem, da mesma forma o amor
pela família, especialmente pelos meus filhos, presentes divinos.
Não acredito que nada possa
desanimar a não ser o meu próprio estado de espírito. Já me envolvi
politicamente, já fui ao fundo do poço da decepção pelas coisas que não posso
mudar, mas mudei um pouco nesse sentido. O que vivemos nesse país hoje é um
grande salve-se quem puder! Vivemos hoje uma grande farsa nesse país. Você
escolhe continuar ou ficar parado se indignando. Eu escolho continuar e lutar
pelo que gosto e pelo que acredito.Nada que venha dos
outros me desanima. Acredito que o desânimo está em nós mesmos. Fiquemos então atentos para que não nos abata.
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