"Ai
daqueles que não morderam o sonho
e
de cuja loucura
nem
mesmo a morte os redimirá."
Paulo Leminski
"O
poeta é um fingidor" disse Fernando Pessoa. Hoje ao me despir da capa que
carreguei desesperadamente pela vida, me ocultando de viver o que é de natureza
intensa, revi algumas velhas notícias. Porque novidades também envelhecem e
morrem. E feito o poeta fingidor também finjo a dor que deveras sinto. Talvez
porque tenho aprendido pouco sobre a realidade real, porque a imaginação, esta
sim é que foi minha companheira. Pouco entendo dos falsos moralistas que
oprimem a liberdade alheia dizendo sempre o que se deve vestir, ler, pensar,
falar, escrever... Estranho os que não sabem fingir, os que dizem nunca mentir.
Estranho os opressores. E admiro cada vez mais os patéticos, os bobos, os
loucos, os inúteis, a gente toda que sabe sorrir e festejar a vida como se a
beleza residisse numa alegria breve. Confesso sim: não sou boa de frases de
efeito e não me saio bem com competidores, perco sempre. Faço isso desde
criança e quando era obrigada a jogar damas, perdia, perdia, fazia sempre
questão de perder e por isso ficava feliz. Talvez porque o meu vazio nunca
precisara desse tipo de cheia. Amei alguns homens, ah, sim, mas sempre perdi
também. Perdoem a comparação. Mas fazia como as damas, já saia perdendo de
início. E ao final, meu vazio esvaziado de sentido, enchia-se de dores. Ao
entardecer percebo que algumas pessoas são como rede e moinho, redemoinham.
Precisam de vento e de pouca certeza, precisam de pouco, um pouco de sereno, um
pouco de distância, um pouco de silêncio. Para compreender quem está fora do
meu vazio, também preciso sair da roda, deixar que ele veja o meu estado e se
entristeça da minha dor e sorria da minha alegria. Preciso me des-centrar para
poder o olhar o outro com-paixão. Preciso desejar menos e sonhar mais. Estarei
preparada para amar? Não, não há preparação que se justifique. Pego o meu
guarda-chuva e entro no quadro de Alice. Alice sim soube amar como ninguém.
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