Sou
neta de livreiro e editor, bisneta de dono de sebo, e meu pai por um bom tempo
trabalhou em uma gráfica. Percorro o mundo dos livros desde cedo, quintal da
minha infância. Sempre me encantou aquelas livrarias enormes, que para mim,
eram o meu parque de diversões, o meu sonho de consumo.
E
ganhar livros ou esperar por eles, tem sabor de boas lembranças de infância.
Passear
pelo sebo do meu bisavô, chegar a casa com a sacola cheia de preciosidades e
ainda ganhar um pudim de leite de sobremesa, era o programa que eu não
substituía por nada, e lembro de como o meu coração batia feliz ao caminhar
pelas ruas barulhentas do centro do Rio de Janeiro, naquele quase estado de
deslumbramento.
O
tempo fechou o sebo, e os queridos se foram. Mudei de cidade e cresci, levando
comigo essas doces lembranças.
E
acompanhei livreiros, editoras, gráficas, autores. E todos, em unanimidade,
nunca estavam totalmente satisfeitos, sempre havia um se... talvez ... porque...
Acreditava
ser exigência de uns, falta de visão de outros, incompetência de alguns e falta
de preparo de outros tantos...
E guardei, algumas observações, ideias e projetos para outros tempos, na
certeza de que saberia encontrar o ponto de convergência.
E
hoje, lembrando de tudo isso, chego a uma observação que me fez parar para
escrever: A quase impossível tarefa de conciliar o desejo do autor com o
editor.
Qual a dificuldade de ouvir, perceber e fazer exatamente o que o autor deseja?
Ouço, acompanho e vivencio muitas estórias e senti na pele e na alma, por maior
empatia que se tenha, a difícil tarefa de ter suas vontades totalmente
compreendidas e aceitas por parte da editora. De observadora e questionadora de
trabalhos alheios, virei não sei se vítima, mas com um certo incômodo, a
autora insatisfeita que luta até o último segundo do tempo para deixar a obra o
mais próxima possível do que se imaginou.
Agora
o prazo acabou, a editora levou para a gráfica e sinceramente não sei, por mais
que se tenha pedido, solicitado, revisado, se está condizente em cada detalhe
ao que desejei.
E
depois justifico para quem?
Ah, o erro foi meu, que não revisei, da designer que não enquadrou corretamente
ou da editora que mudou a seu bel prazer, porque achou que assim estaria
melhor?
A quem recorro? A um colo amigo, ao grito silencioso, ou deixo para lá, que no
próximo sai como eu quero... E assim se caminha a humanidade. Editoras e
gráficas ganhando dinheiro, com os direitos da criação e o criador, vira mero
coadjuvante à mercê de outros desejos, que não são o dele.
E
tento sentir de novo aquele sabor do pudim de leite, e a sensação de que aquele
mundo encantado, foi criado apenas para nos enriquecer culturalmente, perpetuar
a riqueza de uma língua, preencher o insaciável, fazer viajar por experiências
jamais imaginadas e, principalmente, nos incentivar a sonhar.
Mas
na minha ingenuidade juvenil, nem ousava imaginar que, por trás das histórias e
das belas capas, travava-se uma guerra de incoerências,
desacertos e vaidades que, só agora, consegui perceber e sentir, esse sabor,
não tão doce.
DRIKKA INQUIT
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