Ainda é cedo,
Amor.
Sobre o Ato
Terrorista em Campinas.
Ainda é cedo, amor...
Assim como na bela música do Cartola diria que
"ainda é cedo, amor...". Há muitas camadas neste caso. E essas
camadas revelam muito do que nós já éramos e do que estamos excretando como
sociedade. Relacionamentos abusivos estão na ordem do dia. Não se restringem
aos casais, mas se ampliam às pessoas em geral, às relações como um todo, num
complexo. No nosso trabalho mesmo, quantos relacionamentos abusivos são
mantidos - e por décadas? Quantas doenças nos causam? E o excesso de
informação? A enxurrada cotidiana de notícias manipuladas? Todo o barulho e mal
estar causado pelas mídias sociais que pouco acrescentam. E se tivermos uma
arma na mão? Nossa história é uma história de escravidão, humilhações
constantes, opressão, de subserviência, de ódios reprimidos não trabalhados, de
ressentimentos e não-diálogo com os divergentes.
Há um grande abismo, um grande vazio de significados
entre o discurso intelectual acadêmico e o movimento feminista real, o
movimento social feminista. Então é muito estranho ler textos que dizem sempre
o mesmo do mesmo, mas são incapazes de representar o que é a vivência da mulher
com a violência doméstica cotidiana, a vivência da mulher que sofre abusos
contínuos, abusos de classe, abusos étnicos, os de gênero, todos os abusos. As
mulheres da Maria da Penha, as Mães de Acari e de Manaus... Creio que esteja
faltando um trabalho de campo bem direcionado, que desvele as experiências e as
narrativas singulares dessas mulheres. Está faltando solidariedade, porque
empatia é palavra para alguns entrarem em consenso, talvez vender sabonetes.
Está faltando, principalmente, diálogo. E sobre as pílulas morais que andei
lendo, é preciso ir mais fundo, escavar, olhar para todos os dentros, fazer
palimpsestos. O que aconteceu em Campinas não deve cair nesse mar de
banalidades do mau discurso midiático, mesmo o de "boa" intenção.
Neste momento, o zelo pela história alheia é imprescindível. Fazer as velhas emulações morais-intelectuais-cívicas não é de grande ajuda. O silêncio já seria bom para refletir antes. Um silêncio respeitoso de quem não sabe tudo ou não consegue dar conta de toda pós-verdade.
Neste momento, o zelo pela história alheia é imprescindível. Fazer as velhas emulações morais-intelectuais-cívicas não é de grande ajuda. O silêncio já seria bom para refletir antes. Um silêncio respeitoso de quem não sabe tudo ou não consegue dar conta de toda pós-verdade.
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
*
(Oswald de Andrade)
Ainda é cedo, amor...
Mal começastes a conhecer a vida.
*
(Cartola)
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