terça-feira, 5 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK

Adriana Mayrinck, por ela mesma.

Desnudo-me nas palavras que deixo escorregar no papel quando escrevo poesia. Não sei onde começa e termina a autora, a pessoa, a fantasia. Nas entrelinhas, marco a minha passagem e não percebo quem é que se mostra com mais intensidade, o concreto, o oculto ou o abstrato de mim mesma. Sei que sou eu, múltipla nas formas de me expressar.

Sou poeta, como Cecília Meirelles, denominava-se. Adotei a palavra, expressão máxima do que se vai além do ser e é assim que me deixo traduzir.  

E produtora cultural. Caminho conduzido pela vida, ao abandonar o jornalismo, que nunca saiu de mim. A palavra, a curiosidade, a necessidade de ouvir histórias e conhecer gente, estão no sangue que circula, fervendo, por entre o olhar tranquilo e o sorriso receptivo. E a fascinação pela arte. Principalmente a da escrita, na língua portuguesa e seus infinitos sentidos e vocábulos.

Hoje, além do espaço em que os amigos acostumaram-se a chegar, apresento-me  para além das fronteiras e é por isso que estou aqui. Coordenadora do FALA AÍ BRASIL e muito honrada e feliz com o convite do Emanuel Lomelino, no qual sem bajulações, tenho imensa admiração pela retidão de caráter e habilidade em expor com autenticidade suas opiniões, sigo na mesma linha, fiel aos meus princípios. E enriquecida a cada dia com os autores que se chegam, nesse universo tão imenso e rico de talentos e expressões, com contos, crônicas e divulgação de seus livros e entrevistas, comecei a olhar para o meu lado de fora. Na poesia, renasço a cada linha e como autora, com livro recém publicado tenho ressalvas a fazer sobre o trabalho da editora, que percebo ser generalizado e guardo para outro momento.

Como produtora cultural, divulgadora e fundadora da In-Finita, não tenho como transcender palavras e torna-las mais fluídicas. É o meu lado mais concreto, racional, objetivo que se revela. Embora sempre, sutilmente, com um toque de arte. E é esse lado tão prazeroso quanto amargo na profissão, que experimento nesses 27 anos de caminhada que mais me gratifica e mais me sacrifica. O tempo que me consome pelas madrugadas sem dormir a cada evento, a falta de atenção aos amigos, família e a filha, que com sabedoria, a vida a colocou com o talento e vocação para me completar e acompanhar, nessa rotina de produção e trabalho. Juntas, trilhamos com nossas exigências de perfeição, esse caminhar por entre flores e espinhos que é o de realizar, produzir, promover, divulgar e conduzir, todos os trabalhos que chegam até nós. Excelência é a palavra de ordem, o desejo de quem nos contrata, sempre em primeiro lugar, e nenhum detalhe pode fugir do que nos propomos. Transpiração e inspiração misturam-se por entre os sorrisos da realização e a sensação de decepção, nos espinhos fincados, vez ou outra. A designer e fotógrafa, fica por trás da tela, da lente, de uma maneira ou de outra, protegida, como faço com a minha sócia. Protejo-a, mas nunca fica isenta totalmente, pois também é assistente de produção, aprendendo desde cedo, a conhecer o lado menos iluminado de algumas pessoas e da incompetência generalizada. Sigo representando a empresa, matando leões, acariciando corsas e caçando raposas. Os leões são fáceis, atacam e aprendemos a nos defender. As corsas, são o que nos incentivam a seguir e a ser cada vez melhor e as raposas, ah... Essas ficam a espreita, escondidas, circulando e esperando a melhor hora de se revelar.

Com a transparência que me é peculiar, deixo apenas o meu registro atento, as vaidades que em nome da arte usufrui sem limites as boas intenções e o talento alheio, para se promover, ou pior, copiar.

Os meus anos de noites insones e trabalho árduo, levaram –me a ter uma empresa referência em competência e profissionalismo. Nunca foi e não é fácil. Nosso meio denominado cultural e artístico, tem mais gato por lebre do que se possa imaginar, desconhecem o caminho construído pedra sob pedra até ser o que se é hoje, com arranhões e espinhos, e invadem o mercado, ludibriando clientes e apresentando trabalhos de má qualidade.

E como aqui é um espaço também de opinião, hoje no FALA AÍ BRASIL... mostro-me como sou: profissional e gentil, mas também crítica e indignada pela incompetência alheia reverenciada nas redes sociais. Não há planejamento, estudo, experiência. Hoje todos se auto intitulam produtores culturais e jogam lixo no mercado.

Aprendi a fazer a minha parte, realizar, observar e calar, porque o meu trabalho é real e concreto, mas como formadora de opinião, sinto-me na obrigação de pontuar essas situações prejudiciais ao universo literário e cultural, pois ganham adeptos e curtidores, e o pior,  cativam clientes que desatentos, não percebem e incentivam a má qualidade das realizações seja em que segmento for, eventos, cultural ou literário.

A superação das expectativas, surpreender, cativar, agregar, promover o outro, e manter-me fiel ao que desejei, é a compensação desse gosto meio amargo que fica, quando os oportunistas de plantão, seguem, como provedores culturais, ludibriando os desavisados, e espalhando lixo cultural.

O gratificante é o carinho daqueles que nos prestigiam e acreditam em nosso trabalho. E é só por isso que vale a pena, sempre... prosseguir.

DRIKKA INQUIT

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