quarta-feira, 6 de setembro de 2017

FALA ÁFRICA... MACVILDO PEDRO BONDE

METAPOESIA: QUE CAMINHOS ME GUIAM?
Este texto nasce a propósito das mesas “redondas” dinamizadas pelo Movimento Kupaluxa no Centro Cultural Brasil-Moçambique. Numa das sessões foi abordado para a questão do metapoema no meu livro. É a partir do questionamento do Pedro Pereira Lopes, meu confrade das letras que decide redigir braves palavras sobre a minha poesia.

A princípio considerei inapropriado enveredar por este caminho, mas a necessidade de conhecer melhor os caminhos da criação poética e das minhas inquietações levaram-me a percorrer este atalho sinuoso.

Que elementos de discurso compõem o meu texto para que possa cataloga-los de Meta poesia? Esta é uma questão que irá percorrer este pequeno ensaio a volta do que tenho escrito.

Como defende Sousa Freitas (2008:25) , é na necessidade de interrogar a escrita, que aquelas denominadas artes poéticas pessoais incorporam um movimento de in-escrita e de interrogação onde aparentemente o autor da escrita parece ter substituído o objectivo de comunicar pelo de se exprimir.

Na verdade no livro “ensaios poéticos” procuro enveredar pelo caminho de exorcizar os meus eternos fantasmas literários. Neste sentido, olho para o metapoema como um desses caminhos visto que o mesmo tem por tarefa a descrição do processo criativo do autor, algo que não se apresenta ao longo desta minha primeira aparição.

O século passado (XX) foi marcado por inúmeros autores que seguiram a metapoesia como recurso criativo. Neste sentido, a minha experiência estética em função dos meus gostos estéticos poderá de forma involuntária ter acoplado um conjunto de valores defendidos em Rimbaud e o seu simbolismo.

Recorrendo a uma definição simplista: metapoesia pode ser vista como: “poema em que o autor fala sobre o próprio poema, a poesia e/ou seu processo de criação”.

A minha poesia incorpora acima de tudo o meio envolvente onde me insiro. Ela representa uma forma de desconstruir a realidade social denunciando um conjunto de práticas que não ajudam a dar a poesia o seu verdadeiro lugar.

A este respeito, Thamos (2010) , “a experiência poética funda-se na percepção física da existência. O poeta busca dar a ver, através de imagens, aquilo que deseja exprimir e tende a valer-se da palavra como uma coisa em si”. Esta interpretação vem de algum modo fundamentar que a minha poesia é reflexo do que me rodeia.

“Quantos exercícios faltam para um poema vertical? Por que saga ou epopeia haverá de esperar, na madrugada insone, onde até os mosquitos reclamam da anemia de que padecem as minhas pardas veias? Quantos? Tantas questões ofuscam a réstia de saudade que se cola amiúde à minha forma de existir. Assim relegado ao som da flauta como quem encanta as cobras nas ruas de Panjab, escutas o milagre das ondas que não esmorecem”.

No poema “exercícios poéticos”, encontro elementos que demonstram que a intimidade com a minha poesia é ainda iniciática e artesanal. Há dentro do texto incertezas do eu-lírico perante o processo criativo, a qualidade estética, o sublime e o sentimento.

A comparação é um traço que descreve o estado da alma do poeta no texto. Vendo-se desterrado de valores com os quais um poema nasce “adulto”, fugaz, consciente do seu valor, aguardo um toque magica para despertar para o caminho da perfeição.

“A doença é o tédio da vida, a masmorra da alegria e do ritmo fascinante dos passos infantis à beira-mar. O tédio! O suco dos boémios e poetas na criação do verso. O rio de inspiração, o tubo de escape, a vida. Porque a vida é luta, é coragem para os dias que se avizinham tristes, é pão e água, respiração. A vida e o tédio cantam na janela do poeta a canção de embalar para que no luar o papel virgem brilhe eternamente na boca alheia”.

Em relação ao texto “tédio”, faço referência ao que inspira ao processo criativo. Há uma descrição de fenómenos com os quais se pode tecer um poema. A preocupação quotidiana é um elemento indispensável com o qual no seu íntimo o poeta constrói os seus sonhos no papel. Ou seja, o estado da alma concorre para que sangre sobre o papel o ritmo efervescente do verso. O poeta deixa-se levar a inspiração fazer o seu trabalho.

Como argumentam Martins e Cerqueira (2015:256) , “Tudo o que se transpõe para a forma do poema é, a nosso modo de ver, manifestação de experiências profundas pelas quais esse indivíduo especial tenha passado. Não que necessariamente tenham ocorrido com ele; nesse caso, a observação da experiência alheia dada nos altos níveis que somente aquele tipo de homem consegue experimentar será responsável pela captação poética”.

“Querias ser tu esse ruído medonho, esse estalo diferente na forja da palavra vida.” (p.9). Nota-se aqui uma preocupação com o mundo literário a sua volta. Procurar romper com o discurso do dia em que a literatura anda descrente, sem qualidade para continuar a iluminar a sociedade.

Neste sentido, procuro integrar todo um conhecimento sobre a vida, a literatura como mecanismo de trazer uma lufada de ar fresco a uma geração marcada por exemplos infelizes no campo literário.

“E o poema vertical nascia para a solidão dos campos secos, vestido do inchaço dos dedos, rugindo a saciedade da metáfora triste” (p.12). A preocupação com a qualidade do texto aparece vincada na ideia do poema vertical. Seguindo a ideia deixada por Virgílio de Lemos quando invoca Noémia de Sousa e a sua poesia de reivindicação de uma identidade, o poema vertical aparece como a exaltação do belo.

A criação poética é um fenómeno que associa a habilidade técnica e o acúmulo de experimentações emotivas de diversa ordem (Martins e Cerqueira, 2015:264).

Para concluir podemos invocar o excerto: “Começamos pela palavra, de seguida o verso e por fim a estrofe” (p.15). Este é um processo que indica a criação poética. Não é linear, mas o papel tinge-se de palavras que cobrem o silêncio da textura.


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