METAPOESIA: QUE CAMINHOS ME
GUIAM?
Este texto nasce a propósito das
mesas “redondas” dinamizadas pelo Movimento Kupaluxa no Centro Cultural
Brasil-Moçambique. Numa das sessões foi abordado para a questão do metapoema no
meu livro. É a partir do questionamento do Pedro Pereira Lopes, meu confrade
das letras que decide redigir braves palavras sobre a minha poesia.
A princípio considerei inapropriado
enveredar por este caminho, mas a necessidade de conhecer melhor os caminhos da
criação poética e das minhas inquietações levaram-me a percorrer este atalho
sinuoso.
Que elementos de discurso compõem o
meu texto para que possa cataloga-los de Meta poesia? Esta é uma questão que
irá percorrer este pequeno ensaio a volta do que tenho escrito.
Como defende Sousa Freitas (2008:25)
, é na necessidade de interrogar a escrita, que aquelas denominadas artes
poéticas pessoais incorporam um movimento de in-escrita e de interrogação onde
aparentemente o autor da escrita parece ter substituído o objectivo de
comunicar pelo de se exprimir.
Na verdade no livro “ensaios
poéticos” procuro enveredar pelo caminho de exorcizar os meus eternos fantasmas
literários. Neste sentido, olho para o metapoema como um desses caminhos visto
que o mesmo tem por tarefa a descrição do processo criativo do autor, algo que
não se apresenta ao longo desta minha primeira aparição.
O século passado (XX) foi marcado por
inúmeros autores que seguiram a metapoesia como recurso criativo. Neste
sentido, a minha experiência estética em função dos meus gostos estéticos
poderá de forma involuntária ter acoplado um conjunto de valores defendidos em
Rimbaud e o seu simbolismo.
Recorrendo a uma definição simplista:
metapoesia pode ser vista como: “poema em que o autor fala sobre o próprio
poema, a poesia e/ou seu processo de criação”.
A minha poesia incorpora acima de
tudo o meio envolvente onde me insiro. Ela representa uma forma de desconstruir
a realidade social denunciando um conjunto de práticas que não ajudam a dar a
poesia o seu verdadeiro lugar.
A este respeito, Thamos (2010) , “a
experiência poética funda-se na percepção física da existência. O poeta busca
dar a ver, através de imagens, aquilo que deseja exprimir e tende a valer-se da
palavra como uma coisa em si”. Esta interpretação vem de algum modo fundamentar
que a minha poesia é reflexo do que me rodeia.
“Quantos exercícios faltam para um
poema vertical? Por que saga ou epopeia haverá de esperar, na madrugada insone,
onde até os mosquitos reclamam da anemia de que padecem as minhas pardas veias?
Quantos? Tantas questões ofuscam a réstia de saudade que se cola amiúde à minha
forma de existir. Assim relegado ao som da flauta como quem encanta as cobras
nas ruas de Panjab, escutas o milagre das ondas que não esmorecem”.
No poema “exercícios poéticos”,
encontro elementos que demonstram que a intimidade com a minha poesia é ainda
iniciática e artesanal. Há dentro do texto incertezas do eu-lírico perante o
processo criativo, a qualidade estética, o sublime e o sentimento.
A comparação é um traço que descreve
o estado da alma do poeta no texto. Vendo-se desterrado de valores com os quais
um poema nasce “adulto”, fugaz, consciente do seu valor, aguardo um toque
magica para despertar para o caminho da perfeição.
“A doença é o tédio da vida, a
masmorra da alegria e do ritmo fascinante dos passos infantis à beira-mar. O
tédio! O suco dos boémios e poetas na criação do verso. O rio de inspiração, o
tubo de escape, a vida. Porque a vida é luta, é coragem para os dias que se
avizinham tristes, é pão e água, respiração. A vida e o tédio cantam na janela
do poeta a canção de embalar para que no luar o papel virgem brilhe eternamente
na boca alheia”.
Em relação ao texto “tédio”, faço
referência ao que inspira ao processo criativo. Há uma descrição de fenómenos
com os quais se pode tecer um poema. A preocupação quotidiana é um elemento
indispensável com o qual no seu íntimo o poeta constrói os seus sonhos no
papel. Ou seja, o estado da alma concorre para que sangre sobre o papel o ritmo
efervescente do verso. O poeta deixa-se levar a inspiração fazer o seu
trabalho.
Como argumentam Martins e Cerqueira
(2015:256) , “Tudo o que se transpõe para a forma do poema é, a nosso modo de
ver, manifestação de experiências profundas pelas quais esse indivíduo especial
tenha passado. Não que necessariamente tenham ocorrido com ele; nesse caso, a
observação da experiência alheia dada nos altos níveis que somente aquele tipo
de homem consegue experimentar será responsável pela captação poética”.
“Querias ser tu esse ruído medonho,
esse estalo diferente na forja da palavra vida.” (p.9). Nota-se aqui uma
preocupação com o mundo literário a sua volta. Procurar romper com o discurso
do dia em que a literatura anda descrente, sem qualidade para continuar a iluminar
a sociedade.
Neste sentido, procuro integrar todo
um conhecimento sobre a vida, a literatura como mecanismo de trazer uma lufada
de ar fresco a uma geração marcada por exemplos infelizes no campo literário.
“E o poema vertical nascia para a
solidão dos campos secos, vestido do inchaço dos dedos, rugindo a saciedade da
metáfora triste” (p.12). A preocupação com a qualidade do texto aparece vincada
na ideia do poema vertical. Seguindo a ideia deixada por Virgílio de Lemos
quando invoca Noémia de Sousa e a sua poesia de reivindicação de uma
identidade, o poema vertical aparece como a exaltação do belo.
A criação poética é um fenómeno que
associa a habilidade técnica e o acúmulo de experimentações emotivas de diversa
ordem (Martins e Cerqueira, 2015:264).
Para concluir podemos invocar o
excerto: “Começamos pela palavra, de seguida o verso e por fim a estrofe”
(p.15). Este é um processo que indica a criação poética. Não é linear, mas o
papel tinge-se de palavras que cobrem o silêncio da textura.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso