EU FALO DE… A PALAVRA NA POESIA DE EDSON INCOPTÉ
A palavra é um silencio arrebatado da
nossa (des)conhecida existência – como disse o Antônio Ramos Rosa -; é um
silêncio vivo, e às vezes morta pela nossa própria resignação, e ou, o nosso
abismo existencial; um silêncio que só no ser poeta não cala e muito menos
morre. Se morre, morre-se sossegado porque acredita na ressurreição. Ela (a
palavra) ressuscita na esperança e no amor – na esperança d’um sonho ainda não
vivido e no amor à pátria sob jogada e martirizada –; i.e. esta a imagem da
palavra na poesia do Edson Incopté. O Incopté, nas suas lavras alenta a palavra
que morre no íntimo do ser guineense, ressuscita-a e dá-lhe a nova forma: o
sentido da esperança. Para o poeta, a poesia não é e nunca será um simples
conjugar de palavras. Ela é mais do que isto porque não é uma figura (expressa
ou escrita) inerte; ela possui uma vida própria – apesar de ser característica
individual de cada um - isto é, motivada pela forma siu generis de ver e encarrar a natureza de
cada poeta. A poesia é o meio civilizado de propor e fazer mudanças porque é
visionária, dinâmica e histórica. Como ele próprio disse: «Entre a poesia e a esperança, percorre um longo e sinuoso rio que
vai emprenhando com a sua plenitude à margem de ambos os sentires. Um rio que
comunga, entre tantas coisas, o sagrado e o livre». É neste rio que vamos comungando o sangrado e
com um punhado de tintas derrubando o profano.
Ao viajar pelas páginas dos livros do Edson,
cedo me apercebi que ele - como quase todos da minha geração - viu e sentiu na
pele todas as perturbações e recuos que a nossa sociedade vem vivenciando ao
longo de quatro décadas da sua existência, e se viu em silêncio quase
ensurdecedor questionar, onde está o Homem Novo? Na ausência (de também quase
surda) duma resposta apenas escuta o gritar do seu interior, um grito poético embalsamado;
um grito que rompe todas as atmosferas
duma sociedade resignada e convida para um novo sentir e viver. É nesse
convite que a palavra traz a vida na poesia Incopteana. Uma poética cheia de
simbolismo patriótico e de visão futurista duma sociedade que ainda teima em
viver no escuro do seu próprio precipício, mas que ainda acredita ser fidalgo.
A sua poesia espelha o seu apego aos valores identitários da nação, os valores que
fazem da nossa terra um paraíso autêntico; um mosaico humano e cultural
paradisíaca do qual todo o ser guineense genuíno contenta e orgulha.
O realismo do Edson é convidativo, pois
nos transporta para uma reflexão que nos leva a compreender, de forma sucinta, o
nosso modus operandi e vivendi para depois convidar-nos a prestar
o juramento para com a Guiné-Bissau. São essas e mais algumas características –
o realismo poético Incopteano - que me fazem acreditar que, «ainda que lesto vai
numa viagem distante», muito distante do status
quo e dar razão ao nosso Emílio Tavares Lima ao afirmar que o poeta da
Insana Rebeldia e do Setembro Adormecido nunca é indiferente às conjunturas,
avanços e recuos da sua sociedade, porém sempre esteve/está presente e na cintura da pena escreve os seus encantos
e chora os seus desencantos, que não são poucas.
Tenho para mim que o Edson «atravessou o deserto» e atingiu os
patamares distantes do abandono da
intelectualidade e da espiritualidade do ser da sua raça. Ele «não
se detém no frio e nem na solidão, foi-se criar um espaço que lhe abre à
plenitude», à liberdade e à vida. Com a sua poesia cria uma verdadeira
força da esperança e tece no pano de pente poético a certeza num amanhã diferente. O Edson Incopté está
longe de ser um poeta vago ou gago, não fala e nem escreve as palavras pela
metade; assume-a com coragem e bagagem em nome da pátria.
Biografia
António
Mané,
nome que o guineense Ussumane Grifom
Camará escolheu usar, artisticamente, em homenagem ao pai. Nasceu em 22 de
Agosto de 1987 na cidade de Bissau. Membro fundador da SAG – Sociedade de
Autores Guineense e Vice-Presidente da Assembleia geral da mesma. É
Vice-Presidente da Seiva da Nova Geração (Clube Guineense d’ Arte). Participou
na Antologia do III e IV Encontro de Poetas da Língua Portuguesa.
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