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O percurso de um autor não se faz apenas de
lançamentos e apresentações dos livros editados. O percurso de um autor não se
deve limitar a presenças regulares em feiras do livro e tertúlias ou saraus. O
percurso de um autor não deve estar direccionado apenas na conquista de novos
leitores. O percurso de um autor deve, para além de tudo o que atrás referi,
completar-se com momentos de partilha com aqueles que são colocados à margem da
sociedade ou, mais grave ainda, ignorados socialmente.
O parágrafo anterior serve de ponto de partida para
vos dar conta da belíssima tarde que desfrutei, no passado dia 4 de Abril,
junto dos utentes do Grupo de Acção Comunitária (GAC), a convite da autora, e
psicologa desta instituição, Marta Teixeira Pinto.
Inserida na actividade de escrita criativa, esta minha
visita permitiu-me contactar mais de perto com uma realidade que, na maioria
das vezes, parece estar longe dos nossos olhos, isto quando não nos limitamos a
desviar o olhar e fingir que não vemos.
Precisamente devido a essa reacção, ou falta dela,
alguns técnicos de doença mental acharam por bem criar esta instituição com o
propósito de prestar um melhor serviço àqueles que mais necessidade têm de um
apoio continuado para superar, não só a doença, mas, acima de tudo a
indiferença de toda a sociedade.
De modo a serem criadas condições para o
desenvolvimento cognitivo dos utentes, os profissionais do GAC desenvolveram
uma série de actividades que lhes permitem alguns progressos visíveis, entre
elas a escrita criativa, que pude constatar nesta visita e me foi explicado por
Elisabete Sousa, uma das utentes que, tal como outros, de forma interessada e
participativa, se revelou uma enorme anfitriã.
Depois de uma visita guiada pelas instalações foi-me
entregue um livro, editado pela Federação Nacional de Entidades de Reabilitação
de Doentes Mentais, cujos textos são da autoria de algumas das pessoas que, por
razões bem distintas e em graus diferentes, sofrem de alguma patologia de foro
mental, e deixam desta forma registadas algumas memórias e considerações sobre
tudo o que está relacionado com a doença que os atingiu.
Numa sala muito bem composta por utentes e técnicos do
GAC, sentados em círculo, deu-se início ao evento. Primeiro, um a um, todos os
presentes apresentaram-se falando um pouco de si, do tempo que frequentam a
instituição e das actividades em que participam. E foi importante para mim ver
que todos eles (especialmente os utentes) falaram-me olhos nos olhos e sem
qualquer complexo sobre a sua doença. E senti que o fizeram quase como uma
demonstração inequívoca de que, apesar dos seus problemas de saúde, são iguais
a todos os outros que, como eu, são considerados normais aos olhos da
sociedade. E, de facto, a conversa decorreu entre iguais.
O interesse pela minha presença ficou expresso nas
diversas perguntas, muitas delas bem mais pertinentes do que as que me colocam
nas sessões de lançamento e apresentação dos meus livros. Tive de falar do meu
percurso como autor, do meu processo criativo, das diversas actividades em que
me tenho envolvido, das minhas expectativas e objectivos, de projectos futuros.
Tive também de contar, alguns episódios engraçados, e outros nem tanto,
relacionados com a escrita e comigo. Também foram lidos poemas meus; nem só por
mim.
E quando eu pensava que a tarde já estava a correr
muito bem fui presenteado, pelos utentes, com algumas leituras de trabalhos
feitos no âmbito da actividade de escrita criativa, que mereceram muitos
sorrisos e gargalhadas.
No final, para terminar em beleza, ou como se costuma
dizer; a cereja no topo do bolo, foi servido um lanche (bolo e chá) feitos
pelos utentes.
Em resumo, foi uma tarde muito bem passada, com
conversa séria e muitos momentos divertidos e de boa disposição junto dos
utentes e colaboradores do GAC.
Para terminar quero deixar expresso, de forma pública,
o meu agradecimento à Marta Teixeira Pinto pela honra do convite que me fez e
pela enriquecedora experiência que o mesmo me proporcionou.
Que todos os momentos de um autor fossem assim!
MANU DIXIT
Assino e subscrevo tudo o que aqui foi dito. Apesar de estar controlada tenho uma doença mental, sou bipolar II. E sempre senti que se tem mais compaixão por alguém que tem um defeito no corpo. "Defeito" na mente é muitas vezes confundido com mau feitio, por exemplo. Mas, o mais importante é o convívio do autor com vários grupos da sociedade, levarmos a poesia pessoalmente e não só através de livros. Dar-nos aos outros em tempo e presença e partilha é gratuito e muito enriquecedor!! LUCY GALHARDO
ResponderEliminarGrato pela visita comentada e partilha de experiência.
EliminarOlá, Emanuel!
ResponderEliminarNão poderia deixar de comentar, ainda que com um grande atraso, este teu artigo e agradecer novamente a tua presença no GAC. Procuro convidar pessoas sensíveis e abertas, que não tenham medo de falar de si, olhos nos olhos, e de partilhar experiências significativas, sonhos e projetos. Tu fizeste tudo isto e ainda escreveste a contá-lo. Um grande bem-haja de toda a equipa de funcionários e utentes do GAC, por teres despendido do teu tempo para nos proporcionares uma tarde tão agradável, e um agradecimento meu por teres acedido a este convite.
Beijinhos,
Marta.
Não foi tempo despendido... foi tempo bem aproveitado e passado. Grato sou eu pelo convite e pela recepção calorosa de todos. Beijos.
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