Ser autor não se resume ao acto criativo. Existem
responsabilidades às quais não se pode virar costas e que aumentam na exacta
medida do crescimento do autor e do impacto da sua obra. Quanto mais se cria
maiores são os cuidados a ter e um autor não deve, nem pode, furtar-se a
assumir as responsabilidades que lhe cabem.
Esta deveria ser uma regra seguida por todos os
autores/criadores, no entanto, a distância entre os deveres de um autor e o que
se pratica na realidade do dia-a-dia é abismal. A generalidade deixa-se enlear
pelos próprios limites e recusa-se a fazer mea culpa, por erros cometidos,
preferindo sacudir as responsabilidades para ombros alheios.
Poderia dar inúmeros exemplos mas restringir-me-ei a
apenas um, pela frequência com que testemunho este género de situações e
comportamentos.
Ao longo do tempo tenho sido, de acordo com a minha
consciência (certo ou errado, outros o dirão), uma voz crítica sobre o modo
como muitos editores e/ou aspirantes a editores tratam o objecto livro; seja na
concepção, elaboração, promoção ou divulgação. Para quem ama os livros, e os
consome como quem respira, é triste ver algumas edições amputadas de esmero e
brio.
No entanto, nem tudo se deve ao desleixo - para não
dizer indiferença - dos editores ou aspirantes a... Muitas vezes os culpados
das falhas, que os leitores observam, são os autores que, de forma inconsciente
ou talvez não, sacodem a poeira dos ombros e apontam o dedo a quem é mais fácil
apontar. E embora, junto de leigos e outros desatentos, os argumentos possam
parecer não deixar dúvidas sobre o foco gerador das falhas, a verdade é que
muitas vezes a responsabilidade do erro, quanto muito, deveria ser repartida
entre editores e autores.
Como disse anteriormente, vou limitar-me a um simples
exemplo de erro crasso presente nos livros que se editam e que, com muita pena
minha e de quem gosta de ler, é cada vez mais frequente: erros de grafia e
ortografia.
Quem é que, ao alertar um autor para a existência de
um erro no seu livro, não recebeu como resposta algo do género: "Se a
editora fizesse uma revisão isso não acontecia."
É evidente que à editora cabe a responsabilidade de
limar as arestas daquilo que é produzido pelo autor, no entanto, para o erro lá
estar alguém teve de o cometer, e esse só pode ser o autor. No entanto, e
porque nesta questão existem outros factores a ter em consideração, hoje em dia
muitas editoras, na hora de fazer o seu "orçamento", colocam duas
opções ao dispor dos autores: um valor com revisão e outro sem revisão. Não é
preciso ser um génio para compreender que, a generalidade dos autores, opta
pela versão menos dispendiosa com a desculpa de ser um desperdício gastar mais
para rever o que, à partida e pelas diversas revisões feitas por si, não tem
erros. Depois, aquando do confronto com a realidade, é que se fala em colocar
trancas no que já está arrombado.
Concordo que a editora deve fazer o trabalho que lhe
compete mas, a partir do momento em que são colocadas duas possibilidades ao
autor e aceitando este uma delas, o autor não pode isentar-se de
responsabilidades. E argumentar que este tipo de erros prejudica a imagem da
editora é uma falsa questão, porquanto não são meia dúzia de exemplares de um
livro - quem diz meia dúzia diz duas dezenas - que vão manchar a imagem seja de
quem for, tendo em conta que esta situação normalmente ocorre com autores que
simplesmente editam para amigos e familiares e pouco mais e as editoras sabem
reconhecer as particularidades de cada caso. No dia em que se voltar a editar
para leitores em vez de o fazer para público próximo do autor, quem sabe, aí as
coisas mudem e eu não ofereça tanta resistência a este último argumento. Mas
isso são contas de outro rosário... voltemos ao essencial.
Peguemos no assunto por outro prisma. Ignoremos, por instantes,
que as editoras se furtam a uma tarefa que lhes compete e centremo-nos naquilo
que os autores mandam para as editoras. E aqui chegados eu sou obrigado a
perguntar: Que culpa têm as editoras que um autor (infelizmente não é só um)
não saiba distinguir "pudesse" de "pode-se";
"dissesse" de "disse-se"; "à" de "há";
ou que escreva "caiem"(não do verbo «caiar»), "traiem", "saiem", ou
ainda, que não saiba colocar correctamente uma vírgula?
Como disse no início desta dissertação, os autores têm
de assumir os seus erros e ter uma atitude de maior responsabilidade perante
aqueles que os lêem, mesmo que sejam só familiares e amigos e pouco mais. Ser
autor não é só criar. Ser autor é assumir a responsabilidade de ser parte
integrante de uma vertente importante no desenvolvimento dos povos: a cultura.
Há que assumir as culpas e deixarem-se de desculpas!
MANU DIXIT
Muito a propósito. Participei recentemente numa iniciativa em que entreguei o texto revisto e constatei que existia uma gralha após a publicação. Pensei, de imediato, que a gralha só podia ser minha. Regressei a casa e verifiquei, com surpresa, que o original estava correcto e que a gralha tinha resultado de uma revisão por parte da editora.
ResponderEliminarMuito grata pela partilha deste excelente texto.
Grato pela visita comentada e partilha de experiência...
EliminarAutor e editora precisam caminhar em harmonia . A falha de um, repercute diretamente no trabalho do outro.O autor tem que ser consciente da responsabilidade da escrita . Não só em enviar uma mensagem, mas em ser o agente direto na preservação da cultura, e da história de uma civilização, através da linguagem, preocupando- se com o uso correto e seus sinais.
ResponderEliminarCorretores automáticos confundem, nos meios digitais, mas a revisão é fundamental. Cabe o autor ficar atento com a sua imagem. Cabe a editora ter imensa atenção com o seu público.Responsabilidade igual para ambos.Um livro deve ser visto como um filho, onde, em sua concepção , desejamos sempre que seja perfeito.
Pertinentes seus argumentos,Manu. Excelente colocação e muito importante esse alerta, para o autor, a editora e o leitor.
Um abraço
Adriana Mayrinck
Grato pela visita comentada.
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