LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR CHIADO EDITORA
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Se, em algumas ocasiões, torna-se difícil para mim
escrever sobre um ou outro livro, pela uniformidade estilística e de conteúdo
da grande maioria dos autores, outras há em que a tarefa afigura-se mais fácil
e tranquila pela escrita diferenciada. É o caso deste MUSA VIAJANTE de Frassino
Machado.
Não sendo para mim um autor completamente
desconhecido, não deixa de ser verdade que o volume dos seus textos que passou
pelo meu crivo de leitor era reduzido e não me permitia ter uma opinião formada
com forte base de fundamento.
Neste momento e após a leitura deste MUSA VIAJANTE,
sabendo de antemão que é apenas um de vários livros do autor, já consigo
afirmar, sem correr o risco de errar estrondosamente, que estamos perante um autor
com elevada consciência do seu ofício e, acima de tudo, com a capacidade de
transportar para as criações, com enorme fluência e rigor, todo o seu saber,
tanto da vida como da arte poética.
E se da vida cada um adquire as suas próprias
experiências e reage nas suas próprias condições e termos, já na vertente
poética torna-se evidente quem é que "sabe da poda" e/ou
"estudou as lições" que nos foram deixadas em legado.
À primeira vista pode parecer que as duas vertentes
são gémeas na concepção, no entanto existem mais diferenças que semelhanças.
Para exemplificar esta minha ideia façamos uma analogia:
Todos nós, numa qualquer altura da nossa vida (nem
todos da mesma forma) ficámos a saber que o fogo queima - esse conhecimento
foi-nos dado pela experiência de vida. No entanto, só alguns conseguem
distinguir diferenças entre as origens de cada fogo - esse conhecimento é
transmitido pelo estudo. O mesmo acontece com a arte da escrita. Todos sabemos,
em maior ou menor grau, o que é poesia e como se faz, mas nem todos sabem
distinguir as diferentes tendências, as distintas fórmulas, e tampouco as sabem
executar. Para isso é preciso estudar a fundo a matéria.
E é precisamente esta distinção que consegui observar
na leitura deste MUSA VIAJANTE.
Neste livro, o autor Frassino Machado faz uso de uma
das ferramentas mais clássicas da poesia portuguesa, e, por consequência,
lusófona; a redondilha maior. Direi mesmo que em certos momentos essa
particularidade quase nos transporta ao tempo das trovas, cantigas de amigo, de
escárnio e mal-dizer. E essa capacidade só a pode ter quem estudou a matéria
exaustivamente.
O mesmo posso dizer, e porventura com mais
propriedade, da inclinação, que me parece natural neste autor, do uso do soneto
clássico (petrarquiano), do soneto inglês (shakespeariano) e do soneto
estrambótico, que, diga-se em abono da verdade, quase ninguém conhece e poucos
ouviram falar, não sendo por isso menos clássico.
Contudo e apesar das abordagens mais clássicas e uma
ou outra referência de cunho histórico, a poesia em MUSA VIAJANTE é transversal
no tempo e bem moderna pela actualidade - essa sim baseada na experiência do
homem, que empresta o corpo ao autor.
Tudo o que acabei de escrever serve para garantir que,
MUSA VIAJANTE de Frassino Machado, é um livro que recomendo vivamente, não só
pelo conteúdo temático muito diversificado mas também, e em maior relevo, por
ser um excelente manual de como poetar usando estruturas clássicas sem deixar
de criar modernidade.
MANU DIXIT
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