sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

EU FALO DE... FLUXOS DA MEMÓRIA

Sempre defendi que a poesia só o pode ser, efectivamente, se, entre outros elementos, tiver uma componente filosófica. E, aos que, como eu, têm um percurso académico escasso ou mesmo inexistente, explico que a filosofia, em traços gerais, nada mais é que amor ao saber; amor ao conhecimento, e busca constante desse saber. E todos nós, mesmo sem darmos conta disso, temos as nossas próprias filosofias de vida que se revelam nas acções do dia-a-dia.

Posto isto, porque o meu conhecimento sobre esta autora (talvez remonte a 2014) nasceu precisamente pelo seu lado filosófico ao assistir a alguns eventos literários onde palestrou (só mais tarde e de forma isolada é que conheci alguns dos seus trabalhos poéticos), e aproveitando, uma vez mais, a parceria com a Chiado Editora, decidi aprofundar o meu conhecimento sobre a sua obra e requisitar o livro FLUXOS DA MEMÓRIA, de sua autoria.

Tal como em dissertações similares anteriores, mais que prescindir, recuso-me a fazer análises técnicas sobre as obras por ser apologista da multiplicidade de conceitos/estilos/tendências/correntes que, são para mim, meros complementos de um todo; a poesia. No entanto, não posso deixar de expressar o meu agrado pelo facto da autora, de forma tão directa quanto humilde, confessar que a ausência de características mais clássicas na sua poesia se deve mais a uma opção pensada do que incapacidade para fazê-lo. E que falta fazem mais autores que pensem a sua obra.

Seguindo este último raciocínio, fica evidente ao longo da leitura de FLUXOS DA MEMÓRIA, que Isabel Rosete pensa, e muito, a sua poesia, ou como a própria refere, num texto biográfico que antecede o conteúdo poético, a sua poesia existe porque antes existe a filósofa, a pensadora, a eterna caçadora de conhecimento e eterna questionadora do seu mundo e do mundo que a rodeia.

Uma das dúvidas que nasceu em mim, pela leitura de alguns escassos textos publicados em obras colectivas, estava relacionada com o modo como a autora assinava os seus poemas, umas vezes com o nome Isabel Rosete e outras com o pseudónimo IR. O mesmo texto biográfico esclarece esse ponto de forma inequívoca sem deixar de confessar que a explicação só lhe surgiu a posteriori.

Seja como for e independentemente da assinatura, poema a poema, a autora dá voz aos seus pensamentos, às suas dúvidas, aos seus sentires, que também podem ser dos leitores. Direi mesmo que muitos serão aqueles que ao lerem este livro se identificarão com a autora.

Por minha parte, e perdoem-me a ligeireza do que vou afirmar, mais do que identificar-me com os poemas ou elementos dos poemas, mais do que compreender as diferentes nuances das suas criações, mais do que entender a sua forma de criar, mais que distinguir as razões que explicam a sua poesia, eu identifico-me, sobremaneira, com essa postura de honestidade perante os leitores, o mesmo é dizer: identifico-me com essa ideia de criar poesia pensada; identifico-me com esse modo de saber explicar cada elemento de um poema e quais os pensamentos que lhe deram origem.

Dito isto e para terminar a minha dissertação, quero dizer que acima de qualquer outro aspecto ou qualidade que reconheço neste livro, FLUXOS DA MEMÓRIA teve o condão de espicaçar-me a pensar ainda mais a minha poesia e a encontrar formas simples para explicar aos meus leitores a complexidade das razões que me levam a escrever tudo aquilo que escrevo.

MANU DIXIT


2 comentários:

  1. Boa Tarde Emanuel e boa Tarde Isabel Rosete.
    Tudo o que acabei de ler fez-me lembrar a filosofia, disciplina que sempre gostei e que no 12º ano tive a melhor nota de sempre. Mas, já agora gostaria de partilhar o porquê de eu ter essa nota...porque no início do ano quando ouvi o professor falar, eu disse para mim própria "Eu vou chumbar" e foi essa entrega, esse "medo" que me fez superar a mim mesma. Lembro-me também que nos testes nas minhas respostas eu também colocava perguntas. Nalguns dos meus poemas também faço essas interrogações, sobretudo gosto de declamar olhando nos olhos do outro para que também se interrogue, também sinta o mesmo, também experimente a reflexão!! Continuação de bom trabalho Isabel e Emanuel!!

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    1. Grato pela visita comentada e partilha de experiência.

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