LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO PELA CHIADO EDITORA
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Um dos meus grandes interesses, enquanto homem de
cultura, é tentar, na medida do possível, estar atento ao que se faz no
universo lusófono ao nível da literatura, em especial na poesia. Neste
contexto, tenho conhecido obras e autores dos diversos países da lusofonia,
embora o acesso e abundância sejam distintos, dependendo da proveniência.
Confesso o reduzido conhecimento que tenho da produção
literária da Guiné-Bissau, que se resume a meia dúzia de jovens autores. Com
excepção do poeta e romancista Emílio Tavares Lima, que tenho a honra de
conhecer há alguns anos e cuja obra muito aprecio, mais nenhum me cativou. Mas
eis que, por razão da recente parceria dos meus blogues com a Chiado Editora,
chegou até mim o livro SEM POEMAS do autor guineense INÁCIO SEMEDO, que
desconhecia em absoluto e teve o condão de demonstrar-me que, felizmente,
existem mais bons autores a representar a Guiné-Bissau.
Neste livro encontramos poesia, quase prosa-poética,
escrita num português correcto (com utilização pontual de palavras crioulas),
que prima por riqueza vocabular em detrimento do eruditismo clássico ou do
facilitismo evidente (tão em voga na generalidade das criações actuais).
A utilização de palavras crioulas, apesar de não ser
tão regular como na poesia do atrás citado Emílio Tavares Lima, enriquece o
todo poético, mais ainda porque, quando tal acontece, existe um glossário no
final dos poemas que explica, aos menos conhecedores do crioulo, o significado
das palavras utilizadas.
No papel de poeta, INÁCIO SEMEDO, faz escutar a sua
voz através do lado mais acutilante das palavras, sempre munido de uma
intensidade irreverente que, o futuro confirmará, parece-me ser a sua marca
registada. Esta postura assumida pelo autor outorga-lhe um cunho identitário
muito forte que nos é transmitido pelas temáticas abordadas, que, embora
universalistas, são, sem sombra de dúvida, influenciadas pela sua génese
guineense. As referências a lutas e confrontos, questões políticas e
comportamentos sociais, são prova disso, tal como a revelação de desejos, o
desvendar de sonhos e o apontar de caminhos e posturas.
Ao ler a sua poesia, facilmente chego à conclusão que
INÁCIO SEMEDO pertence a uma nova geração de guineenses, em que incluo Emílio
Tavares Lima (sempre a minha referência de comparação) e o pintor Sidney
Cerqueira que, através dos seus trabalhos e das suas artes, elevam o nome de uma
nação, carregando nos ombros a responsabilidade, conscientemente assumida, de
serem a face visível de uma Guiné-Bissau nova e pró-activa. Esta consciência,
mais ou menos política mas não politizada, é-nos revelada através da utilização
constante, mas não exaustiva, de um EU poético que sente e sofre as dores do
povo guineense; observa e alerta para as desigualdades e injustiças sociais; vê
e acusa os actos imorais; e aponta o dedo à corrupção e ao sub-aproveitamento
dos recursos e riquezas do país.
SEM POEMAS é um livro; que cativa pela simplicidade
(sem ser simplista); onde a beleza estética se sobrepõe à estilística; munido
dos argumentos essenciais para agradar à maioria dos amantes da poesia moderna.
INÁCIO SEMEDO é, sem dúvida, um autor a acompanhar.
MANU DIXIT
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