Ana Coelho nasceu em Angola e reside no Carregado, Alenquer.
É uma apaixonada pela literatura e ao longo da sua vida tem-se dedicado, de alma e coração, à sua paixão. Poesia e romance fazem parte do seu trabalho já publicado. Vamos conhecer um pouco mais desta autora multifacetada.
1 - Começámos a
conhecê-la pela poesia mas ultimamente o contacto com os leitores é através de
romances. Podemos dizer que foi uma transição casual ou já estava nos seus
planos?
Não estava nos meus planos, tal como, qualquer outro
tipo de criação ou edição, tudo vai acontecendo com naturalidade. Começo por
escrever o primeiro romance pelos meus filhos, o facto de não serem
apreciadores de poesia e no lançamento do meu segundo livro de poesia, a minha
filha fez-me esse desafio; escrever outro registo. Como desafios são
motivadores da inspiração nasceu o primeiro romance, logo após o segundo e mais
tarde o terceiro.
2 - Ao nível dos
processos criativos, quais são as maiores diferenças entre os dois estilos de
escrita?
A poesia em mim nasce sempre muito espontânea de
alguma emoção, minha ou de alguém, até de algo. A poesia escrevo quase sempre
no meu caderno com caneta, pela forma impulsiva com que nasce, sem hora ou
lugar. No final apenas faço um ou outro acerto de algumas palavras mantendo a
original inspiração. Para escrever romance já o faço sentada no computador a
pensar na narrativa, no entanto, não sou eu que conduzo a história, a história
conduz-se por si só de uma forma que não sei explicar, de tal forma que algumas
vezes enquanto escrevia os romances tinha que sair para trabalhar ou para outro
compromisso e ligava o gravador para ir narrando o que me estava na cabeça enquanto conduzia,
para não me esquecer. Claro que tem que existir atenção a alguns pormenores,
como data, nomes, locais, etc.
3 - Sente-se
mais confortável a escrever poesia ou prosa?
Não sei, tem dias e momentos. Sendo dois géneros tão
distintos, em que cada um deles dá ao autor um prazer divergente, não é fácil
responder, é como escolher um filho.
4 - Em
simultâneo com o papel de autora temo-la visto integrar alguns projectos
culturais. Abraça-os com que objectivos?
Pelo amor à literatura e pelo sonho de ver a cultura no
geral mais divulgada e valorizada.
5 - Já passaram
alguns anos desde a criação do AlenCriativos (juntamente com a Eugénia Ponte),
tivemos concursos literários, passatempos e outras iniciativas do grupo. Qual o
balanço?
É um projeto que nasce precisamente deste amor em ver
a cultura chegar a mais e mais...este projeto tem-me dado muitas emoções e como
digo: “ As emoções são o meu maior sucesso”. Conheci muitos outros autores, vi nascerem livros
destes desafios e concursos, isso é ver a cultura em expansão. Ficando com
vontade de que se faça mais, se cada um de nós fizer um pouco, será muito no
conjunto.
6 - Acredita que
algo como o AlenCriativos é importante para fazer crescer o interesse das
populações pelas diversas vertentes culturais?
Sem dúvida. Quando os anónimos se unem e fazem chegar
aos outros a cultura é dada vida à população, despertando interesses e
motivações. Nós povo temos por hábito responsabilizar os órgãos estatais pela
divulgação cultural ( claro que estes também têm essa imensa responsabilidade)
mas cada um de nós pode e deve fazer, ser ativo e promover aquilo que temos a
dar como cultura. Reclamar que nada se faz não acrescenta nada.
7 - Mais
recentemente iniciou a aventura na Rádio. Estamos perante uma nova paixão?
Inicialmente foi um desafio. Há algum tempo, não muito
distante, se me dissessem que ia fazer este trabalho, eu diria que não era possível.
Tudo começa no seguimento de uma sugestão à Rádio Voz de Alenquer para ter um
programa dedicado à literatura e de facto a direção da rádio tinha essa vontade,
não tendo meios humanos e monetários para o fazer avançar, aqui nasce o desafio
por parte da rádio que poderia ser eu a fazer o programa, em especial de uma
locutora minha amiga. E porque não? Desafios é comigo...vamos lá tentar...
Um ano depois, o balanço é muito positivo em várias
vertentes das minhas emoções. E não
diria que é uma nova paixão, sim um extensão da paixão de sempre, as palavras
escritas, os autores, os leitores, etc...
8 - Acredita que
a rádio ainda consegue aproximar os autores dos leitores?
Acredito, senão não estaria a fazer este trabalho
voluntário que me dá muito prazer e trabalho. Este meio de comunicação é o
único que faz companhia a muitos viajantes, diariamente são muitos os que se
deslocam do trabalho para casa e ou camionistas, ainda locais de trabalho
solitários onde a rádio é a sintonia com o mundo. E algo que descobri, sendo
tão óbvio não tinha pensado nisso, muitos dos ouvintes são invisuais e esta
forma de comunicação é muitas vezes a única que lhes quebra o silêncio. A rádio
entra na casa das pessoas e estas sentem quem está deste lado como alguém da
sua família. Esta tem sido a melhor experiência deste desafio, estar com
pessoas, ser companhia...dar alegria...e até ouvir as pessoas, depois do programa
já são algumas que me ligam para a rádio a fim de falarem um pouco, também
recebo pelo correio, em carta, alguns testemunhos.
9 - Não sente
que tudo o que tem feito em prol da cultura devia ser acompanhado e apoiado de
forma mais incisiva pelos agentes culturais?
Posso não responder? (riso) Nas diversas iniciativas
que tenho desenvolvido e algumas em parceria com os agentes culturais tenho
visto e aprendido muito com tudo e isso é já um ganho.
A cultura é sempre o parente pobre da sociedade em
geral...porque haveriam os agentes culturais dar atenção a alguém que se move
por paixão, sem interesses?
10 - Esposa,
mãe, escritora, radialista, administradora de páginas na Internet, mentora e
organizadora de concursos e eventos culturais. O que falta fazer? E sobra tempo
para a mulher?
Esta é a questão que creio muitos se interrogarem em
relação a mim. Sim, tenho tempo para tudo isso e para ter uma profissão com
horário de 40 horas semanais, uma casa para tratar e tudo o demais de ser
mulher, não tenho empregados e tudo na casa é feito por mim.
É tudo uma questão de organização pessoal e de
motivação, não sei estar sem nada para fazer, estar parada é algo que me
incomoda mais do que ter várias tarefas e diversas para fazer ao mesmo tempo. (
ajuda não dormir muitas horas e com isso tenho mais tempo vivo). Sou “amante”
do silêncio mas o vazio assusta-me...o vazio de não dar algo à sociedade!
Além destas atividades mencionadas na pergunta, faço
ainda ações de voluntariado em ações sociais.
Claro que me sobra tempo para ser mulher, mãe, profissional
e amiga; isso podem comprovar todos os que comigo privam. Sem deixar de
salientar o apoio da minha família em todas as minhas “ideias” e atividades,
estão sempre comigo e por mim.
O que falta fazer só o futuro irá escrever...
Excelente entrevista
ResponderEliminar:)
Obrigado pela visita comentada...
EliminarFoi um prazer responder a estas dez perguntas. Obrigada e parabéns pelo teu trabalho de divulgação aos autores.
ResponderEliminarNão faço mais que a minha obrigação, que nem é obrigação... é um gosto...
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