O professor Licínio
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… Claro que conheci o professor Licínio! O sujeito mais louco e estimado da
aldeia. Foi com ele que aprendi a ler, como muitas gerações desde o tempo em
que os meus pais eram crianças.
Transformou
a sua garagem num gigantesco salão de leitura, com as paredes forradas a
livros, que as editoras lhe enviavam continuamente, e a porta sempre aberta
para quem quisesse entrar.
Ele
passava o dia a ensinar as letras, a formar palavras, a construir frases, aos
mais novos, enquanto incentivava os maiores a pensar no que liam e a escreverem
as suas próprias histórias.
Não
era estranho vermos, além de crianças pequenas e adolescentes, o salão pejado
de adultos, que aproveitavam para ler os livros que ali havia e tentavam
cometer a proeza de fazer o professor Licínio sair para a rua, coisa que ele
nunca fez em vida, nem mesmo para comprar bens essenciais, que encomendava, no
início por telefone, depois por internet, porque havia outra porta, ao fundo da
sala, que comunicava com a sua casa e ele tinha jurado que só sairia dali no
dia em que não lesse um livro.
Só o conseguiram retirar daquela casa aquando do seu funeral.
EMANUEL LOMELINO
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