Diário do absurdo e aleatório
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Esta coceira subcutânea é uma reacção alérgica à imodéstia que voga nos ares circenses do universo individualizado das palavras.
Há um formigueiro que alastra corpo acima, como um farol de incómodo, e um outro, de jactância, que sobrevive à base de ácidos, pompa e circunstância.
A questão central é, precisamente, ser tudo lateral, periférico, limítrofe, marginal, à essência da arte. Tudo é engodo e subversão. Um chamariz veneziano para um corso de elitismo pedante.
O problema não está na vaidade presunçosa, mas sim nos rostos de plástico e sorrisos acetilenos, que escondem facas nos cós e fatuidade nos gestos, como se o mundo dependesse de esturjões e cosméticos, ao som de pífaros e violinos, numa noite de fábula e histórias da Carochinha, de portas cerradas aos pés-no-chão e olhos-abertos.
E não há metáforas suficientemente impactantes para descrever a arrogância pífia desta nova tendência aristocrata que grassa, e se alastra como sarna, nas letras Iscariotes.
EMANUEL LOMELINO
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