Diário do absurdo e aleatório
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As palavras soam a pombas brancas quando flutuam no encanto do olhar lacrimejante. Um arco-íris espalha a magia colorida do sentimento fervente. Soltam-se odes melodiosas, qual sinfonia celestial. O tempo desacelera. O entorno deixa de existir. Os raios de sol ocultam-se. O mundo para.
As preces vagueiam entre o pedido de absolvição e a necessidade de bênção, como se o clamor das frases feitas tivesse o poder de apagar memórias, escaras e elos quebrados. Nas sombras, há um desfilar de dedos e teias de aranha. A presença obscura de arrelias, vacuidade e déjà vu são parcelas de uma equação com resultado previsível. Há o afloramento de histórias caducas que ressuscitam futilidades e destapam embalagens vazias. Depois temos as fábulas de um só sentido – sem sentido – com moral desenquadrada da realidade.
O céu fica cinzento e verte, gota a gota, cada nota de um fado enviesado e sem remorso, como fosse conduzido na plenitude de uma embriaguez vadia. Calam-se as guitarras. Mutam-se as vozes. Silencia-se a vontade.
EMANUEL LOMELINO
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