domingo, 14 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 278 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

278

Sempre que mordo as palavras por dizer, falece-me o apetite de ser e fico a mastigar húmus e raízes desidratadas.

A cada frase mal proferida, expira-se-me a resistência à solitude, num abraço autofágico embrulhado em conformismo.

Pereço-me, sobretudo, nos episódios de excessiva sensibilidade autoimposta por altruísmo bacoco.

Desencarno-me a cada oblíqua troca de razões em que predominam lugares-comuns e frases feitas.

Sucumbo-me nas alvoradas indiferentes e nos pretextos crepusculares.

Fino-me na ausência de aceitação aos detalhes básicos em detrimento da grandeza fútil.

Feneço-me pela cegueira táctil à necessidade de eremitismo pontual e meditativo.

Apesar de tudo isto, o silêncio não anuncia a minha morte porque tenho morrido sonoramente vezes sem conta, tantos são os estertores lamentosos como trovões.

EMANUEL LOMELINO

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