sábado, 13 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 277 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

277

Quando o gerador de palavras fica entupido pelo espírito rebelde da ociosidade, olho para os livros adormecidos nas prateleiras e tento adivinhar o que cada um dos seus autores faria para desimpedir o estro. Então a loucura infiltra-se nos meus neurónios preguiçosos e sai algo como isto:

A filha do capitão (Púchkin), alertada pelo Doutor Jivago (Pasternak), soube que alguns humilhados e ofendidos (Dostoiévski) cheios de orgulho e preconceito (Austen) – os miseráveis (Hugo) -, tal como Ulisses (Joyce), viveram uma odisseia (Homero), numa das viagens à minha terra (Garrett), só comparável à tragédia da Rua das Flores (Eça).

Essa gente singular (Gomes), dotada de um dom casmurro (Assis), alcançou a libertação (Márai) quando a mãe (Gorki) de Síbila (Agustina) os acolheu na loja de antiguidades (Dickens), onde só o sangue cheira a sangue (Ahkmátova) e o mito de Sísifo (Camus) leva a cem anos de solidão (Márquez) numa jangada de pedra (Saramago).

A pérola (Steinbeck) desta história foi a mensagem (Pessoa) encontrada em casa de uma família inglesa (Dinis) onde foi revelada, à dama das Camélias (Dumas), a queda de um anjo (Camilo), em 1984 (Orwell).

A história termina aqui porque Anna Karenina (Tolstói) pôs-se a falar com Madame Bovary (Flaubert) sobre El-Rey Junot (Brandão) e as minhas artérias ficaram desobstruídas.

EMANUEL LOMELINO

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso