sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Diário do absurdo e aleatório 80 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

80

Escrevo porque leio, penso e gosto de desenvolver pensamentos. Estou longe de ser erudito na minha escrita, no entanto, isso não me impede de juntar o útil ao agradável e dissertar sobre o que me der na real gana. E, enquanto me sentir confortável neste papel de autor menor, continuarei a fazê-lo.

O meu método é simples de colocar em prática e todos os textos que crio nascem da mesma forma. Leio uma frase, vejo uma imagem, escuto uma conversa, e dou corpo de texto a uma ideia, um conceito, uma inquietação, com as palavras que acho mais adequadas. Depois de escrever, leio, altero, modifico e reescrevo, as vezes que forem necessárias, até que tudo fique minimamente aceitável.

Sendo evidente que um conto exige fórmula e estrutura diferentes de uma crónica ou uma carta, a verdade é que o processo é tão básico que só preciso do mote e de um dicionário de sinónimos porque tudo o resto cresce com o fermento da própria escrita.

E é por ser tudo tão simples e despretensioso que, muitas vezes, fico assustado com a preguiça que vejo por aí estampada nas inúmeras citações partilhadas, que pululam na internet. É como um elo entre os internautas que os faz falar o mesmo, ao mesmo tempo, mas apenas terceirizado como se o pensamento fosse único, imutável, dogmático e avesso, ou blindado, a interpretações mais extensas.

Muitos alegam que o tempo é curto, mas eu contraponho. O tempo não é curto, apenas é mal aproveitado e polvilhado de preguiça colectiva. Em vez de fotos de refeições ou livros, escrevam sobre isso. Nenhum de nós deixará de ser autor menor, no entanto, ao escrevermos, perpetuaremos o acto de pensar, que é o que mais escasseia no nosso tempo.

EMANUEL LOMELINO

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