domingo, 17 de setembro de 2023

Diário do absurdo e aleatório 68 - Emanuel Lomelino

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Diário do absurdo e aleatório 

68

Por vezes a ansiedade supera a imperativa urgência de resposta imediata e as intensões ficam por cumprir. A mente como que bloqueia e as acções ficam presas na vontade, como se uma força hipnótica tomasse as rédeas da vida.

O primeiro impulso é abraçar a inércia e deixar-se envolver no vazio de ficar sem chão para caminhar. A energia esvai-se como um sopro rápido e o vigor evapora com o calor da perplexidade de ficar de calças na mão.

O corpo quer recolher-se sobre si mesmo e a razão finge não existir por sentir-se culpada e não querer agravar a desfaçatez cruel de um instante de infâmia e desonra.

Com a desorientação encavalitada nos ombros, as costas vergam sob o peso da vergonhosa incapacidade de reverter o destino traçado e, tal como no jogo da glória, mais uma vez, regressa-se à casa de partida – lugar, há muito, indesejado.

EMANUEL LOMELINO

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