Diário do absurdo e aleatório
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Quero avisar-te, leitor que agora me lês, que as letras diante dos teus olhos não são frescas como pão acabado de fazer, porque as escrevi há quase dois meses. O mesmo é dizer, isto que te escrevo, do passado, deves consumir com moderação e lentamente porque, apesar de estar dentro do prazo de validade, digeri-lo pode ser difícil.
Preciso que entendas a enorme diferença que existe entre escrever sobre um momento e estar a escrever o momento. Confuso? É simples!
Escrever sobre um momento é dissertar sobre algo que, não tendo acontecido, poderia muito bem acontecer, por ser plausível.
Escrever sobre o momento é contar detalhes de um evento, específico e real, ocorrido ou presenciado por quem escreve.
A diferença entre estes dois conceitos é a mesma que separa a ficção da realidade.
Se, mesmo assim, na tua cabeça persistir a dúvida, olha para a gramática e observa que num caso é usado o artigo indefinido “um” e no outro é aplicado o artigo definido “o”. O primeiro é genérico; o segundo é específico.
Sabes, leitor, estes pormenores fazem toda a diferença na forma como se interpreta um texto. Porque tudo deve ser entendido dentro do “contexto” que lhe deu origem.
A função de quem escreve é, na medida do possível, dar vida (e alma) às suas palavras e provocar uma reacção nos leitores.
Se hoje (no teu presente) estás a refletir nestas palavras que escrevi, então hoje (meu presente - teu passado) consegui cumprir-me como autor.
EMANUEL LOMELINO
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