sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Tapar o sol com a peneira (excerto) - TEREZINHA PEREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Chegou em casa e foi acolhido pela mãe como um pintinho molhado. Banho quente, café quente, cobertor. Menino carecia de juízo, de ouvidos, de olhar. Não vira ele que despencava um chuvão e ainda à cata de araçás! Companheiro nem encontrara para tamanho empreendimento, isso ela podia jurar. Ficar de cócoras debaixo de árvore esperando raio cair. Nem imaginava ela a existência da loca. Céu negro e subir a serra sem mais ninguém. São Jerônimo. Santa Bárbara. Só reza de mãe para evitar de acontecer coisas. Dia seguinte, cidade inteira falava no descaminho do Jota. Havia saído de casa beirando duas da tarde, antes do começo da chuva e não havia voltado para casa. Tivesse perto do rio que encheu de derramar, teria a correnteza o levado.
Não sabia ele do Jota. A última vez que o havia visto havia sido no domingo. A chuvarada caiu na segunda, na terça. Ele mesmo já acreditava nisso. Como o tempo passa e passando passa borracha no sucedido, meses, anos depois, ninguém mais falava no sumido. A não ser o pai e a mãe do filho único que haviam esparramado todas as fotografias dele pela casa inteira. A mais nova e mais bonita haviam dado para a polícia que tratou de mandar fazer cópias e distribuí-las por toda a banda. Foi publicada até nos jornais da capital. Tanto empenho em vão.

EM - CONTOS E CASOS - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

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